quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Os Girassóis da Rússia, 1970 (Dirigido por Vittorio De Sica)




A guerra aparece como fator maior e externo que interrompe a continuidade desejada dos planos. No fim do filme Giovanna e Antônio sentem com toda a intensidade a condição irremediável a que chegaram. Ainda há amor entre eles e, no entanto, o tempo, ao fragmentar os planos concebidos quando se conheceram, colocou a cada um deles uma nova realidade, da qual o outro já não faz e não poderá de modo algum novamente fazer parte. Destaca-se o fato de já estarem ambos velhos, de modo que com isso fica reforçado argumento de que o tempo levou tudo e que a guerra produziu descaminhos completamente imprevisíveis que destruíram todas as possibilidades do romance ideal construído no início.

A partir do momento em que Antônio vai à guerra cria-se uma expectativa, de realização quase certa, de que ele ainda esteja vivo. Quando a expectativa é satisfeita, ao mesmo tempo revela-se que agora Antônio tinha uma esposa e uma filha na Rússia, o que começa, desde este momento, a criar a expectativa pela reconciliação com Giovanna, a qual não se satisfaz, para compor a sensação da fragmentação irrecuperável do relacionamento.

Quando eles se encontram pela última vez, coloca-se pela última vez a expectativa da reconciliação. Este último encontro coloca um novo elemento de angústia ao traçar a dimensão da fragmentação das coisas, uma vez que Giovanna, que agora também é casada e tem um filho, assim como Antônio, não irá superar a dor da impossibilidade de reconstituir este amor que no início apresentou-se como ideal.