sábado, 28 de novembro de 2009

c.

sabrina,
minha dúvida é a tua
condição:
é sempre o exercício de reflexão autofágica.

[repensar.
reconsiderar, reorganizar e recriar as idéias,
tortas, todas]

você sabe, sabrina, acabo onde meu corpo pode.

Ode a Kafka

De vez em quando é necessário ser submisso.
Segue uma curta história.

----------

O Novo Advogado


Temos um novo advogado, o dr. Bucéfalo. Seu exterior lembra um pouco o tempo em que ainda era o cavalo de batalha de Alexandre da Macedônia. Seja como for, quem está familiarizado com as circunstâncias percebe alguma coisa. Não obstante, faz pouco eu vi na escadaria até um oficial de justiça muito simples admirar, com o olhar perito do pequeno freqüentador habitual das corridas de cavalos, o advogado quando este, empinando as coxas, subia um a um os degraus com um passo que ressoava no mármore.

Em geral a ordem dos advogados aprova a admissão de Bucéfalo. Com espantosa perspicácia diz-se que, no ordenamento social de hoje, Bucéfalo está em uma situação difícil e que, tanto por isso como também por causa do seu significado na história universal, ele de qualquer modo merece boa vontade. Hoje - isso ninguém pode negar - não existe nenhum grande Alexandre. É verdade que muitos sabem matar; também não falta habilidade para atingir o amigo com a lança sobre a mesa do banquete; e para muitos a Macedônia é estreita demais, a ponto de amaldiçoarem Filipe, o pai - mas ninguém, ninguém, sabe guiar até a Índia. Já naquela época as portas da Índia eram inalcançáveis, mas a direção delas estava assinalada pela espada do rei. Hoje as portas estão deslocadas para um lugar completamente diferente, mais longe e mais alto; ninguém mostra a direção; muitos seguram espadas, mas só para brandi-las; e o olhar que quer segui-las se confunde.

Talvez por isso o melhor realmente seja, como Bucéfalo fez, mergulhar nos códigos. Livre, sem a pressão do lombo do cavaleiro nos flancos, sob a lâmpada silenciosa, distante do fragor da batalha de Alexandre, ele lê e vira as folhas dos nossos velhos livros.

Franz Kafka. "O advogado" In O médico rural. São Paulo: Companhia das Letras, 1999 [1919], pp. 11-2. Tradução de Modesto Carone.

----------

Originalidade é readaptação. Reescrever é manter o mundo vinculado à humanidade.

Possível paradoxo: a escrita aparta-se do real?

Pense por si mesmo: invente sua resposta e justifique sua existência.

Pois, afinal, resta pouco. Para o quê? Descobriremos.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

batendo fora do bumbo

"Leia o Universo em Desencanto", diria Tim Maia. Morto, morto. Morto-vivo. Brincadeira boba. Marat. Ano da França no Brasil. O que faz um bêbedo e um dicionário? Embriaga palavras: afronésia gapina morfina. Nem é tão aleatório.

Aleatoriedade: palavras, oxigênio, gás carbônico, putrefação, órbita lunar. Minto. Grave: cova, com requinte, em estrangeiro, coisa de gringo.

Estava brincando, algo mais sisudo agora. Sempre é bom satisfazer aos pais de família: homens responsáveis merecem: chegar em casa, jantar enquanto assistem algum noticiário, ler um bom texto antes de dizer um "boa noite" desgostoso para as esposas tão cansadas da vida quanto eles. Vida única, morte múltipla. Pela felicidade da descendência (vulgo, prole (in)fértil, ou filhos). Continuidade. Mas não eterno retorno: eterno progresso! Sempre além! É necessário ir além: trabalho, responsabilidade, salário e respeito. Há muito mais, contudo, listagens são cansativas.

Sobre o cansaço: conseqüência de manter-se acordado.
Sobre a vida: desgraça de não ter sido natimorto.

Estava brincando, de novo. Radicalidade demais é prejudicial para a família. Retiro, nego, abjuro. Falemos de coisas belas: tulipas!!! Aí sim: flores são amigas. Inofensivas (parecem, ao menos) e com odores agradáveis (algumas). Podemos comprá-las inclusive de plástico e adicionar um perfume depois! Praticidade: violetas de plástico com cheiro de perfume francês comprado no Paraguai. Agora sim, estamos falando de requinte e de bons costumes!

Estava pensando em algum refrão interessante para o momento. Nada. Não, nada não é o refrão. Não pensei mesmo. No refrão, quero dizer. E em muitas outras coisas. Acontece: não acontecer é viver.

Muita coisa sobre vida e morte por aqui. Glossolalia de merda. Ou simplesmente pretensão de grandes filosofias e modos de pensar a si mesmo e ao mundo. Falsidades. Falsidades não ideológicas. Falsidades de estar-no-mundo. Aí sim, o pai de família acorda para mais um dia de trabalho.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

GdP

O amigo do meu vizinho tava com idéia errada ultimamente, pois começou a apreciar tanto a Gaiola das Popozudas, que comprou um violão e começou a tirar TODAS as músicas delas.
Dizem que A Gaiola das Popozudas é um grupo de Funk Carioca de Raiz, formado apenas por mulheres. Dizem também que estas mulheres tem tanta atitude que descobriram o verdadeiro modo para vencer a opressão masculina! Tanto é verdade, que as sociólogas já realizaram estudos demonstrando que a Gaiola das Popozudas é mais que funk, é neo-feminismo. Como se fosse pouco revolucionário, Valeska Popozuda, que há pouco tempo era apenas uma humilde frentista de posto-de-gasolina, hoje é a lider do movimento. Mostrou, portanto, que é possível ao proletariado sair de sua condição lastimável, através da solidariedade entre iguais.


Então, o amigo do vizinho foi pro baile porque achou que seria bom para sua arte de tocador de violão estar ao vivo perto de suas musas. Então, sentou em um canto afastado, tirou o violão do saco e, sem tirar os olhos do palco, tocou com perfeição. Então, de repente, Valeska Popozuda parou tudo, olhou pra ele, apontou o dedo indicador e gritou com voz rouca, "você!!!"

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

para falar da mesma coisa sem falar do mesmo jeito

O que houve naquele dia chamou-me a atenção porque nunca tinha visto algo assim. Quando disse "mãe, to saindo!" eu não imaginava que ao bater a porta de casa ia deixar tanta coisa para trás, bem como nem sonhava com tudo que ia encontrar. O problema dessa grande aventura é que não sei como contar-lhes sem pensar quase que ao mesmo tempo "na verdade, nao é bem assim". Mas façamos um trato [assim não vamos ter grandes problemas]: tudo que lerem [ou ouvirem, já que estou a todo momento com a história na boca] parte de premissas simplistas [isso porque acho dificil que uma puta, por exemplo, seja bem representada por quatro letras, duas delas vogais (as cinco letras que mais odeio no nosso idioma, porque vivem dando sentido a esses símbolos horríveis que juntamos por esse ou aquele motivo). A carga de sentidos que a palavra traz consigo tampouco ajuda em algo; acaba sendo um grande engodo, que no fundo cumpre seu dever de representação mínima (posso explicar esse conceito depois, em outra ocasião se me permitirem) e no fundo é do que dispomos para nossa atividade; vovó já dizia "não fala mal do vaso em que caga, muleque filho da puta"].

Seguia eu meu caminho para a escola [lembro até hoje da bombonierie que tinha no caminho, onde sempre parava para comprar doce e brincar com o totó (o cachorro)] quando percebi algo estranho: senti um calafrio, o arrepio subiu por todo meu corpo e minhas meias pareceram apertadas demais. Olhei para trás. Ninguém conhecido. Eu ali, parado na calçada sentindo falta de algo. Com sete ou seis anos de idade não sabia como é perigosa uma parada não sinalizada. Levei a mão aos bolsos da bermuda vinho que minha mãe passara na noite anterior. Sim, estavam ali [o sorriso invadiu meu rosto; melhor sensação essa do sentimento incontível]. Sim, eu tinha moedas! E meu tato identificou aquele papel estranho de notas sujas com rabiscos de caneta [aquele cheiro de coisa suja e velha, mas que todos dão muito valor]! Eu sabia que era uma de 500, uma daquelas com um cara de chapéu. Corri com a mochila nas costas [a matemática, o português, o burrinho alpinista; nada disso pesava naquele momento]. Contando agora posso lembrar do som do cascalho sob meus pés durante a corrida; lembro também do som seco de quando parei com certa dificuldade quase em cima do totó na porta da bombonierie. "tia, quero dois salgadinhos de cebola e 10 plocs" [agora sei que não devia ter pedido chiclete e salgadinho porque ficam terríveis juntos na boca]. Olhei para os dois lados antes de atravessar a rua [que cruzei perpendicularmente, não diagonalmente]. Sentei no banco e esperei o sinal tocar [como sempre]. Entrei para a sala assim que pude.

Pensando agora, a primeira vez que fui sozinho para a escola foi também a primeira que deixei para trás um montão de idéias. Foi a primeira vez que me senti sozinho no mundo, que escolhi algo sozinho [no fundo a gente sabe que a escolha pelo salgadinho e pelos chicletes foram determinadas pelas outras idas a escola, acompanhado por algum responsável]. Mas a experiência carrega todo seu valor. Posso ter pensado [ou escrito, ou dito] que naquele dia minha vida mudou. Exageros inerentes à atividade representativa. Mas foi como me senti até perceber os limites da liberdade. E é como me sinto sempre que uma vida diferente me atinge como um tapa.
E depois de um tapa na cara você pode dar a outra face ou mudar sua face.

O Anel

Dizem que antigamente Palavra e Poder andavam separados num rumo eterno e infinito a algum lugar. E já estavam cansados dessa caminhada quando sentaram um pouco próximo a umas rochas aconchegantes. Foi então que Palavra encontrou um par de anéis chamado Verdade. E na instrução de uso dizia:
"Para duas almas que querem tornar-se uma só."
Poder olhou confuso para Palavra. Mas os anéis eram bonitos, e ele decidiu que um devia ser dele. Palavra concordou, mas não sem uma hesitação. Mas ele não podia negar a força do Poder em convencê-lo. Deu um dos anéis e colocou o outro.
Para quem estava longe, a visão foi como um brilho. Um brilho fascinante e forte. E, aonde haviam dois seres, agora só restava um. E seu nome era Discurso. O eterno demônio da humanidade.

exagero e diversão

O começo exige algum final? Os Intelectuais Transgênicos Satânicos perpassam. Os resultados não são tão importantes – ou são delírios interessantes – quando o que está em pauta são as discussões. Discussões não lineares. Articulação de idéias, conceitos, vontadinhas, cousas miúdas e graúdas e miúdas-graúdas (imensuráveis, caso necessite-se de uma definição utilizável). Pessoas e palavras apresentados (representados?!) em um ambiente impessoal virtual discorrendo sobre a (in)existência e muito além e muito mais do que isso. Ou nada disso. Afinal de contas eu estou a exagerar meu exagero.

--------

Mais diversão:


E mais diversão:

Variação: Agrippino de Paula e Derrida

O Deus de Leibniz não conhecia a angústia da escolha entre possíveis. Eu sentia-me inteligente e maroto. Maroto, mas não em atos pensava as minhas possibilidades. Meu Logos não dispunha minhas possibilidades em atos sem antes passar pela angústia da escolha. Saí da casa do Coveiro. O Coveiro não queria discutir metafísica no meio do carteado. “A vacância é a situação da literatura”, disse-me a Puta Amiga na última vez que brinquei com ela. Corri para a casa da Puta Amiga querendo brincar. Eu, Puta Amiga e meu membro rijo rolando pela noite era o meu projeto. Entrei afoito na casa da Puta Amiga e corri para o seu vestíbulo. Puta Amiga lânguida e nua olhou-me, mas já estava acompanhada pelo Empresário. O Empresário investia seu membro rijo em vários orifícios da Puta Amiga em uma confusão de esperma, gemidos e corpos. Corpos de crianças esquartejadas povoavam o vestíbulo. Corri com meu membro rijo para o Rio. O Rio corria suave e brumoso e suas margens agradavam-me e suas águas fediam enquanto iam para o Grande Mar. Gozo um rio de esperma no grande Rio. Meu esperma torna-se o fluxo líquido do Rio e vai tórrido fecundar o Grande Mar. Não quero imaginar as proles da minha insensatez. Filhos insensatos, gerados do meu líquido viscoso do meu sólido ser, repugno-os. Subo no bonde agarrando sua rabiola e vou para o Centro. Entro no bar para encontrar meu nada e minha consciência e seu pathos e encontro o Garçom Inconstante que sorri para mim trazendo garrafas e mais garrafas de uísque sem rótulo. O uísque evapora na minha corrente sanguínea enquanto converso com o Garçom Inconstante sobre o lugar da linguagem, das palavras individuais e da escritura e da empiria e das impossibilidades do ser em si. O Garçom Inconstante concorda, discorda, esbraveja, tudo somente com gestos burlescos ao mesmo tempo em que quebra as garrafas vazias do uísque sem rótulo. Sorrimos, eu e o Garçom Inconstante, e corremos pelos prados verdejantes após sairmos pelas portas do fundo do bar. Já é outro dia e sinto náuseas e o Garçom Inconstante fugiu. Vomito os acontecimentos do dia anterior na terra virgem e vejo todas minhas escolhas angustiadas adentrarem na terra virgem fertilizando-a. Deito nessa bela paisagem idílica do meu vômito na terra virgem e durmo um sono de vigília, com os olhos abertos esperando o pior de mim e de tudo.

------------

“[...] Eu estava salvo, entrei em casa, acendi a luz do quarto e sentei extenuado na cadeira frente à mesa. Eu respirei fundo alguns instantes tentando recuperar o fôlego, e ouvi um barulho no quintal e saí. Um grande número de macacos desenhavam caretas nas paredes. Eu gritei irritado com os macacos e corri perseguindo um deles, quando apareceu um senhor redondo e gordo de calças curtas dizendo que ele era o chefe dos macacos. Eu falei irritado com o imenso gordo de calças curtas e boné, e disse que os macacos estavam desenhando nas paredes. O imenso gordo de calças curtas puxou um apito do bolso e apitou. Os macacos saltaram dos telhados e das árvores e eu vi as caretas desenhadas nas paredes Eu interrompi o gordo de calças curtas que repreendia os macacos e disse que estavam ótimos os desenhos, e que a careta desenhada na porta ficava muito bem, e que ele comandasse para os macacos que continuassem a desenhar nas paredes, portas e janelas. Eu saí na rua acompanhado de um dos macacos e um indigente bêbedo se colocou na minha frente. O bêbedo se colocou na minha frente. O bêbedo pretendia conversar comigo e com o macaco e eu procurava atravessar para o outro lado da rua. O indigente continuava insistindo, e nós dois estávamos irritados e deprimidos com a conversa do bêbedo. Eu e o macaco paramos frente a uma barbearia, e eu entrei na barbearia para escapar da conversa insistente do bêbedo que procurava convencer o macaco, que o ouvia atentamente, de alguma coisa a respeito da política internacional [...]”.
José Agrippino de Paula. PanAmérica. São Paulo: Max Limonad, 1988 [1967], pp. 124-5.


“Consciência de ter algo a dizer como consciência de nada, consciência que não é a mendiga mas a oprimida do todo. Consciência de nada a partir da qual toda a consciência de alguma coisa pode enriquecer-se, ganhar sentido e figura. E surgir toda a palavra. Pois o pensamento da coisa como o que ela é confunde-se já com a experiência da pura palavra; e esta com a experiência em si. [...] Se a angústia da escritura não é, não deve ser um pathos determinado, é porque não é essencialmente uma modificação ou um afeto empírico do escritor, mas a responsabilidade desta angústia, dessa passagem necessariamente estreita da palavra na qual as significações possíveis se empurram e mutuamente se detêm [...] Falar mete-me medo porque, nunca dizendo o suficiente, sempre digo também demasiado. E se a necessidade de se tornar sopro ou palavra aperta o sentido – e a nossa responsabilidade do sentido – a escritura aperta e constrange ainda mais a palavra. [...] Angústia também de um sopro que se detém a si próprio para entrar de novo em si, para se aspirar e voltar à sua fonte primeira. Porque falar é saber que o pensamento deve tornar-se estranho a si próprio para ser dito e exposto. Então pretende, ao dar-se, reapossar-se de si. [...]”.
Jacques Derrida. “Força e significação” in: A escritura e a diferença. São Paulo: Perspectiva, 2005 [1967], pp. 20-1 e nota 18.

diálogo monológico

[Sol. Descampado, um pasto. Cupinzeiros. Não há árvores. Um homem com chapéu de palha na cabeça e camisa aberta sentado em um cupinzeiro. Imensidão e cercas. Dez minutos passam, vento leve, mesmo assim muito calor e barulho de guizos. Uma cascavel sai de buraco da parte mais baixa do cupinzeiro, enrola-se, mantém o guizo guizando e olha para o homem.]

[Cascavel]: Qual o problema?

[Homem]: Consertar a cerca.

[Cascavel]: Qual o problema?

[O homem cala-se por alguns minutos, pensa em uma árvore, vê os mourões da cerca, imponentes, cruzando horizontes com seu formato vertical. Guizos.]

[Homem]: Eu não sei.

[Cascavel]: E o gado?

[Homem]: Em outras pastagens.

[Cascavel]: E você?

[Homem]: Conversando com uma cascavel.

[Cascavel]: Além?

[Não há nuvens. Não há trégua do calor. Não há silêncio nem barulho nem guizos, o mundo derrete em suor e trabalho. Guizos. O homem estica os braços, lambe os beiços, escarra. Cascavel impassível.]

[Homem]: Logo mais tenho que continuar o serviço, esticar o arame, prender, um, dois, três, quatro fios de farpa.

[Cascavel]: Onde está algum significado?

[Homem]: O arame está meio bambo naquele lado.

[O homem aponta um ponto à sua esquerda ao longe. Cupinzeiros, pasto, sol e cerca. A cascavel e seu guizo despreocupada.]

[Cascavel]: Não quero mais perguntar.

[Homem]: Falou comigo?

[Cascavel]: Talvez.

[O homem salta do cupim, pega suas ferramentas e anda pelo pasto rumo à cerca. A cascavel rasteja para o seu buraco.]

------------

Algum som para alegrar alguém, ou não:

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

conto sugerido

o q eu to dizendo eh sobre nossas mentes..e nao nossos atos fisicos..
mas vou experimentar um pouco amor proprio pra ver se vale a pena..

essa eh soh mais uma historia d uma comunidade que sonhou e que fracassou

como comecar???: OS HOMENS SONHAM

Os sonhos da humanidade; um individuo (icaro), um grupo (alquimistas, intelectuais), uma comunidade ou classe (comuna d paris, revolucao 17, jovens de 68, woodstock), a humanidade (paz mundial). a história dos eslabios: grupo surgido do fracasso do ultimo sonho. sonharam com o fim da decisao.

temas: a exteriorizacao d funcoes humanas..locomocao, forca, memoria
a escolha por exteriorizar a capacidade d decisao
a maquina racional da decisao e seu fracasso, fanatismo e descontentamento com a racionalidade
movimento quebra maquinas
um metodo primitivo d decisao: pedras? dados?
as trapacas surgidas nesse novo metodo

como terminar? a decisao por nao decidir? a decisao por trapacear? jah estava decidido qdo se submeteu as pedras? o q os homens querem com isso? o fracasso: decidiam o q queriam decidir..a decisao final: suicidio coletivo ou gradual?

sociedade: eslabios
maquina: gelirabo
"pedras": pedras

os homens sonham; e os homens fracassam. seus sucessos nada sao mais que fracassos adiados. isso nao tornam nulas as belezas q produzimos. sao como flores em mausoleu, que eh a aceitacao final do fracasso da vida.

no fim descobrem que soh lhes resta morrer.
vivir es eligir.

Projeto de Vida segundo os ITS

Quando eu tiver um filho, darei bons conselhos para que ele não se foda na vida. É muito mais simples do que parece, na verdade: Chego do trabalho e espero a mulher preparar a janta, enquanto assisto Jornal Nacional com o filho. Nessa hora é sempre bom comentar as notícias, para ajudar a criar consciência crítica no garoto, embora ele tenha apenas 5 anos - sei bem que nunca é cedo demais para criar o hábito da cidadania. Então quando Willian(s) Bonner, já com seus 95 anos de (imparcial)idade anunciar desgraças de barracos caindo na chuva eu lanço "tá vendo, o Lula só faz bolsa família e num constrói lugar pra essa gente morar!" depois, quando falar da seleção brasileira, concluo "isso daí só serve pra alienar o povo!" e assim por diante. O garoto vai aprendendo devagar, vai criando maturidade e respeito ao pai. Mas, quando faltarem apenas uns dez minutos pra ter janta na mesa, faço considerações acerca do que realmente importa: O Amor Puro e Sincero da Montanha. "Meu filho, você...já é homem crescido, já aprendeu que a vida não é fácil...que você precisa ter dedicação pra ser alguém na vida, pra ter sucesso. Um dia você pode ir pra Rússia, sabe? Porque lá tem o T.A.T.U.
E, meu filho, nada é mais importante pro teu futuro, que conseguir um casamento sincero e feliz, encontrar alguém que...que vá te a... te am...amar...de verdade. Elas são russas, ah..desculpe, esqueci de dizer, são duas. É, isso, elas são lésbicas, mas eu acho que rola, viu? Agora vá lavar as mãos, que a janta tá na mesa.

sábado, 7 de novembro de 2009

b.

Eu organizo letras em palavras desorganizadas.
 n s i a n s e i o.
n
g
u
s
t
i
a
n
d
o.

23set06

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Sabadinho de Sol

Nada é tão bonito como estar trancado no quarto em uma gostosa tarde ensolarada de sábado. A janela é grande e a vista também. Porque a janela tem 1 metro e 20 e poucos centímetros, e a vista do décimo segundo andar vai até o horizonte, e antes disso, passa pela cidade inteira. Mais bonito é que no sábado a tarde a cidade inteira está vazia. É um deserto de prédios, asfalto e clichês.
Uma janela tão grande está necessariamente a apenas 1 metro e pouco do chão, ou até menos porque em baixo dela fica aquele banquinho velho de madeira, que não deve ter mais que uns 90 centímetros de puro conforto e possibilidades.
Lá fora as coisas acontecem, mas trancado no quarto...uma hora já não resta mais nada para acontecer, apesar da bela vista. Meia dúzia de livros, uns dicos ouvidos milhões de vezes...Além disso como ter concentração na leitura tendo uma vista tão grande, uma janela tão grande. Praticamente 1 metro e 20 de janela por um milhão de kilometros e 20 de horizonte e coisas acontecendo lá fora.
Doze andares um OPA! para o porteiro, e dois portões eletrônicos, separam o quarto fechado e a vida com as coisas acontecendo. Quer dizer...as coisas devem estar acontecendo, embora a vista leve a crer que só o que existe é o deserto de prédios, asfalto e clichês. Mas nunca se sabe, e então, pode ser que chegando lá não tenha mesmo nada pra fazer, não tenha ninguém à toa. Nesse caso, só restaria um retorno disfarçado ao quarto.
Trancado no quarto, porta de um lado janela do outro. Pra lá da porta é que é foda, porque as coisas não acontecem no resto do aconchego do lar. Ou seja, acontecer acontece, mas o que acontece, na verdade, é um lance estranho, de repetição. Há, de fato, outras pessoas vivendo nessa parte sombria do aconchego do lar, e por mais que pareça mentira, essas pessoas, cuja natureza está oculta do saber humano........essas pessoas repetem e repetem as mesmas belas e lúdicas atividades, o mesmo silêncio saudável, o mesmo en-tre-te-ni-men-to televisivo.
Trancado no quarto, porta de um lado janela do outro. Doze andares um OPA! para o porteiro, e dois portões eletrônicos, separam o quarto trancado e a vida com as coisas acontecendo. Um movimento simples com apoio do banquinho, 1 metro e pouco do chão até a janela, doze andares e o choque com os muros e tetos das belas casinhas lá em baixo, separam o quarto trancado e a morte com as coisas desacontecendo bonitamente ensolaradas.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Pequena frase do Mestre

"Things just happen, one after another. They don´t care who knows. But history... ah, history is different. History has to be observed. Otherwise it´s not history. It´s just... Well, things happening one after another."

Pratchett, Terry. Small Gods. NY, Harper, 2008, p. 2.


O paragrafo posterior a esse eu ignoro. Bah. Wth, vou copiar aqui também:

"And, of course, it has to be controlled, Otherwise it might turn into anything. Because history, contrary to popular theories, is kings and dates and battles. And these things have to happen at the right time."

É interessante de um ponto de vista. Mas também possuo uma crítica de outro.
O primeiro ponto, é que precisa "ser controlado para não virar qualquer coisa." Ou seja, retomando a citação anterior, o que caracteriza a história é a observação. É a terceira pessoa fora dela que observa os acontecimentos se desenrolarem e lhe dá um valor histórico. É importante ter um controle disso, senão vira um vale-tudo. Aonde tudo pode ocorrer. Mas, afirmar que a história é, e note a enfase no verbo, reis, datas e batalhas é, de certa maneira, afirmar que o positivismo está certo.

Mas lógico que, nisso, existe, talvez certa sátira-irônica. Acredito que a primeira afirmação remete a idéia do discurso. Ou seja, a idéia da necessidade de um terceiro. Mas ele esculhamba com isso afirmando que a história é fatos e que eles que precisam estar bem observados.

Bah, nem sei o que eu to falando aqui. Tentar levar a sério essas coisas é destruição. A verdade é que a primeira frase é legal e me fez pensar várias coisas. Até eu ler a segunda e me decepcionar e perceber que minhas interpretações são estavam de acordo com a fonte.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

último lamento

A madrugada anda longe pela noite. Observo um corpo imóvel no chão frio de um quarto: uma mente perturbada descansando. Quantas vezes já presenciei essa cena? Minha reação mudou nos últimos anos? Não consigo definir. Gostava de subir em árvores quando criança, essa é a única coisa que me lembro nesse momento, penso mais um pouco, não sei por quê. Não subo mais em árvores: exercício gratuito, pois não tenho coisa alguma para fazer em cima de uma árvore, a não ser cair, mas cansei-me disso, também. Talvez conversar com alguém ajude.

Chego perto do meu dormente amigo, dou-lhe um chute nas costelas e ele acorda gemendo e tentando soltar suas amarras e virando para um lado e para outro e desesperando. Espero até que se canse. Retiro-lhe a fita adesiva dos lábios, um puxão rápido e doloroso: um grito sincero escapa junto com a fita. Pergunto-lhe como está hoje e ele chora. Aguardo. Quinze minutos depois ele está com ânimo para conversar:

-- Por que está fazendo isso? Por favor, deixe-me sair daqui. Eu não fiz nada de errado. Por favor. O que você vai fazer comigo? Deixe-me ir. Por que está fazendo isso? Deixe-me sair daqui?

Tudo isso demorou uns bons cinco minutos para ser dito, pois meu amigo soluçava demais entre uma palavra e outra. Com algum desânimo, respondo:

-- Lamentar e fugir: você só consegue pensar nisso?

Após controlar seus engasgos e lágrimas, articula algumas palavras: -- Eu não fiz nada para você, deixe-me ir. Ainda não está tudo acabado, eu tenho certeza.

-- Está acabado sim. Ou melhor, logo estará. Não há discussão; parece que nunca houve. Vivemos milhares de anos multiplicando nossos monólogos e achávamos que perduraríamos para além do tempo. Ledo engano: ainda bem. Diga-me: não estava cansado de tudo?

Olha-me, desamparado, resigna-se. Entendeu (ou desistiu).

Ausento-me por alguns instantes e retorno com um martelo, uma estaca de ferro e um serrote. Meu amigo esboça um grito, mas sabe que ninguém pode ouvi-lo. Penso em um mundo melhor.

Momentos depois, estou olhando para a lua, no meu corpo nu sangue morno ainda escorre antes de começar a coagular, respiro aliviada. Matei o último homem e sou a última mulher (ou seríamos nós os primeiros de uma realidade cíclica?). Deito e espero a morte da humanidade e a libertação do mundo.

--------------------------

Para espairecer, alguns sons:
Versão original:


Cover: