domingo, 30 de janeiro de 2011

P.B.

"As formas dos objetos são consequências do pensamento e ação dos homens."
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"As formas não são independentes dos objetos ou estados-anteriores, estes, alheios a vontade humana, estão-aí."
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"O homem, com o pensamento e a consequente técnica, perde-se naquilo que, posteriormente, denominará evolução, ou, progresso."
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"Evolução: disfarçar o estado-animal, ou, partes dele."
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"Progresso: caminho inconstante sobre trilhos imaginários."
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"A apreensão dos objetos e formas componentes da materialidade da existência torna-se cada vez mais fugaz."
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"Viver acaba por se 'o de menos'."
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"O que mexe com a libido das mulheres não é a beleza física é a inteligência. Tanto que revista de homem nu só vende para gays."

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

aquela história

joãozinho e maria se foderam. tavam comendo demais as maçãs, única comida em casa, e os pais, que não eram exemplos de compaixão humana, levaram eles pra floresta sincera e deixaram eles perdidos lá. aquela história de levar miolo de pão pra ir marcando o caminho é mentira porque pão não tava sobrando e o último que passou pela casa já havia sido cagado há dois dias. joãozinho acordou com dor na cabeça. acordou e apalpou o galo que se formou no lugar que seu pai lhe bateu com um pedaço de pau pra ele cair desmaiado e não tentar segui-lo. maria prefiria não ter acordado. acordou estuprada. pelo seu pai? mas que coisa, hein joãozinho? vamos pra onde agora? joãozinho, que era mais novo, só choramingava de saudade de sabe-se lá o que. vocês estão melhor agora, aqui comigo. aquela velha não podia ser boa gente. na casa dela eles tinham que trabalhar. arar a terra e extrair sustento. ali a terra era diferente. o marido da velha, o velho, sabia mexer com a terra. os vegetais nasciam e brotavam da terra como um bebê que sai do útero em busca de ar. igual o da maria que nasceu ali mesmo, no meio das beterrabas, no meio de um dia de trabalho como outro qualquer. depois de uns 4 ou cinco anos ficaria claro que o bebê era fruto do escroto do velho malcaráter que achou que a menina estava morta. mas não deu tempo, não. a criança morreria depois de 10 dias porque tava com o vento virado. assim diziam os velhos para explicar a morte inexplicável. joãozinho, que era o mais novo, tinha que fazer o serviço pra velha. todo o serviço que o velho não fazia porque tava ocupado com a maria. aquela história de colocar o osso de galinha pra fora da jaula é mentira também. eles só tinham uma galinha velha que botava um ovo por mês, e esse dia era dia de festa. joãozinho colocava era o dedo mesmo pra fora do cobertor da sua cama de palha. mostrava o dedo do meio pra velha. velha bandida. joãozinho, que era mais novo, resolveu virar homem e pôr fim na agonia dele e da irmã. a foice na garganta da velha lhe despertou o remorso. não fora capaz de matar o velho bêbado de sono caído a nem um metro do outro lado da cama. maria que terminou o serviço. o adubo dos velhos, do bebê e do pai arrependido que voltara para buscá-los era bom. foi tão bom que eles puderam até encher uma carroça e ir trocar na vila. eram as melhores beterrabas. até o rei comia de boca cheia. os dois jovens fundaram uma dinastia incestuosa ali no meio da floresta sincera. seus descendentes chegaram a ser vilões e duques e piratas e banqueiros e arquitetos e astronautas e operários e pobres. a história dos dois foi reformulada pra sair nos livros. logo virou história de criança. criança que deve ter algum parentesco com joãozinho e maria ou adão e eva.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

K7 é a forma mais potencialmente esquizofrênica de mídia de áudio porque depois de um tempo ouvindo o mesmo Deep Purple, as falhas da fita parecem tão parte da música, que ouvir, depois de alguns anos, a mesma música em cd ou mp3 torna-se uma situação (emocionalmente) insustentável de frustração da vontade de repetição da antiga experiência total do velho Deep Purple no K7. Espera vã pela falha que, (in)felizmente, não ocorre.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Argan - Arte, Moda

199 "... a alta burguesia possui os arquétipos, trabalhados por artistas e artesãos qualificados em materiais nobres; a média e pequena burguesia consomem produtos do mesmo tipo, mas banalizados pelos processos repetitivos da produção industrial e pela qualidade inferior dos materiais. Apresenta-se como estilo 'moderno', isto é, de 'moda'. Como a indústria acelera o tempo da produção, é preciso acelerar o tempo do consumo e da substituição. A moda é o fator psicológico que desperta o interesse por um novo tipo de produto e a decadência do velho."

202 "[...] É fácil observar, porém, que, no desenvolvimento hitórico do Art Noveau, o elemento ornamental perde progressivamente o caráter de um acréscimo sobreposto à conformação funcional ou instrumental do objeto (tectônica), inclinando-se a adequar o próprio objeto como ornamento e assim se transformando de superestrutura em estrutura. A funcionalidade (o útil) se identifica com o ornamento (o belo), porque a sociedade tende a se reconhecer em seus próprios instrumentos."

Argan, Giulio Carlo. A Arte Moderna, Companhia das Letras, SP, 1992

domingo, 16 de janeiro de 2011

Spinoza explica a Kelly Key sobre o porquê de ser o conhecimento a única forma verdadeira de fruição da existência

Então, Kelly, desde que a experiência me ensinou ser vão e fútil tudo o que costuma acontecer na vida cotidiana , e tendo eu visto que todas as coisas de que me receava ou que temia não continham em si nada de bom nem de mau senão enquanto o ânimo se deixava abalar por elas, resolvi, enfim , indagar se existia algo que fosse o bem verdadeiro e capaz de comunicar-se, e pelo qual unicamente, rejeitado tudo o mais, o ânimo fosse afetado; mais ainda , se existia algo que , achado e adquirido, me desse para sempre o gozo de uma alegria contínua e suprema. Digo que resolvi enfim porque à primeira vista parecia insensato querer deixar uma coisa certa por outra então incerta. De fato, via as comodidades que se adquirem pela honra e pelas riqueza , e que precisava abster-me de procurá-las, se tencionasse empenhar-me seriamente nessa nova pesquisa. Verificava, assim, que se, por acaso, a suprema felicidade consistisse naquelas coisas , iria privar-me delas; se, porém , nelas não se encontrasse e só a elas me dedicasse, também careceria da mesma felicidade . Ponderava, portanto , interiormente se não seria possível chegar ao novo modo de vida, ou pelo menos à certeza a seu respeito, sem mudar a ordem e a conduta comum de minha existência , o que tentei muitas vezes, mas em vão. Com efeito , as coisas que ocorrem mais na vida e são tidas pelos homens como o supremo bem resumem-se, ao que se pode depreender de suas obras , nestas três : as riquezas , as honras e a concupiscência . Por elas a mente se vê tão distraída que de modo algum poderá pensar em qualquer outro bem. realmente , no que tange à concupiscência , o espírito fica por ela de tal maneira possuído como se repousasse num bem , tornando-se de todo impossibilitado de pensar em outra coisa; mas , após a sua fruição , segue-se a maior das tristezas , a qual , se não suspende a mente, pelo menos a perturba e a embota. Também procurando as honras e a riqueza , não pouco a mente se distrai, mormente quando são buscadas apenas por si mesmas, porque então serão tidas como o sumo bem . Pela honra , porém , muito mais ainda fica distraída a mente , pois sempre se supõe ser um bem por si e como que o fim último , ao qual tudo se dirige. Além do mais, nestas últimas coisas não aparece, como na concupiscência , o arrependimento . Pelo contrário, quanto mais qual ­ quer delas se possuir , mais aumentará a alegria e conseqüentemente sempre mais somos incitados a aumentá-las. Se, porém , nos virmos frustrados alguma vez nessa esperança , surge uma extrema tristeza . Por último, a honra representa um grande impedimento pelo fato de precisarmos, para consegui-la, adaptar a nossa vida à opinião dos outros , a saber , fugindo do que os homens em geral fogem e buscando o que vulgarmente procuram. Como , pois , visse que tudo isso obstava a que me dedicasse ao novo modo de vida , e, mais ainda, tanto se lhe opunha que eu devia necessariamente abster-me de uma coisa ou de outra , achava-me forçado a perguntar o que me seria mais útil ; porque , como disse, parecia-me querer deixar um bem certo por um incerto. Mas , depois de me haver dedicado um tanto a esse ponto, achei em primeiro lugar que se, abandonando tudo , me entregasse ao novo empreendimento, deixaria um bem por sua natureza incerto, como se depreende claramente do que foi dito, por um também incerto, ainda que não por sua natureza ( pois buscava um bem fixo ), mas apenas quanto à sua obtenção . Entre ­ tanto, mediante uma assídua meditação , cheguei a verificar que então , se pudesse deliberar profundamente , deixaria males certos por um bem certo. Via-me, com efeito , correr um gravíssimo perigo e obrigar-me a buscar com todas as forças um remédio, embora incerto; como um doente que sofre de uma enfermidade letal , prevendo a morte certa se não empregar determinado remédio , sente-se na contingência de procurá-lo, ainda que incerto, com todas as forças , pois que nele está sua única esperança . Em verdade, tudo aquilo que o vulgo segue não só não traz nenhum remédio para a conservação de nosso ser mas até o impede e freqüentemente é causa de morte para aqueles que o possuem e sempre causa de perecimento para os que são possuídos por isso.

Diversão do início do Tratado da Correção do Intelecto, de Baruch Spinoza.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Fragmentos de uma História 2

Cena durante uma aula de Introdução ao Estudo da Magia:

Todos os alunos já estavam em seus lugares quando a professora Julia entrou na sala. Eles temiam a professora. Todos se lembravam o que tinha acontecido na primeira aula, quando eles ficaram conversando e brincando por toda a sala. Ela entrou e não pediu nada. Apenas usou magia para forçarem todos aos seus lugares. Desde então, eles sempre esperavam ela neles. Julia era uma professora bela, por volta dos seus 30 anos. Tinha cabelos ruivos e naquele dia vestia roupas azuis com detalhes em prata. Os garotos gostavam bastante dela. Talvez por ela ser uma das poucas professoras jovens da escola.
Ela olhou para eles, e examinou cada aluno, o que demorou algum tempo. Um silêncio inconfortável perdurou na sala. Era uma de suas manias. quando terminou de olhar para o último aluno começou a falar:
- A partir de hoje, daremos início ao estudo dos Limites da Magia. Alguém pode me dizer o que eles são.
Esperou uma resposta. E esse era um dos seus hábitos também quando lançava alguma questão para a classe. Esperava alguma resposta ou tentativa de resposta. Não importava quanto tempo levasse. Na aula anterior chegaram a ficar 20 minutos em silêncio, até que um dos alunos resolveu tentar responder. Mas, para a questão atual só demorou 1min, e uma garota loira sentada no meio da classe ergueu a mão. A professora olhou para ela:
- Sofia, correto? Por favor.
- Bem... Eles são chamados de Limites, porque são coisas impossíveis de se realizar magicamente, como o Limite da Duração: é impossível criar um objeto eternamente.
- Muito bem. - A professora pegou sua pena e fez uma anotação em uma folha. - Exato. Não é possível se fazer tudo magicamente. Existem limites e por isso eles recebem esse nome. Efeitos que não podem ser produzidos, objetos que não podem ser manipulados, etc.. Começaremos estudando o Limite do Suícidio.
Julia pegou um jarro e um copo no qual despejou um líquido transparente. Olhou para os alunos e perguntou o que tinha ali. Um pouco de silêncio e um dos alunos se arriscou a dizer água. Ela concordou e o chamou até ali. Ele se levantou e foi nervoso. Nenhum aluno gostava de ser chamado na frente, mas gostavam quando alguém era chamado, pois sabiam que haveria alguma demonstração de magia, e aquele que foi chamado teria o azar de ser o alvo.
- Está com sede?
- N..não. - a pergunta pegou o jovem desprevinido.
Julia deu um sorriso:
- Tem certeza? - Ela fez alguns gestos e murmurou algumas palavras.
Ali na frente, do lado dela, o aluno começou a sentir sua boca secar, como se ele não bebesse água a dias. Estava morrendo de sede. Ela ofereceu o copo e ele bebeu rapidamente. Mas não estava saciado. Ela encheu e deu de novo a ele. Queria mais.
- Como podem ver, não há dúvida que ele está com sede, certo?
Ela pegou uma pequena bolsa e uma colher. Dentro da bolsa havia um pó laranja. Ela colocou duas colheres e mexeu. O líquido adquiriu a mesma cor do pó.
- Isso que acabei de colocar aqui é um poderoso veneno. Qualquer pessoa que beber morrerá em instantes. - Ela ofereceu o copo ao aluno, que recusou, embora olhasse para o líquido com tentação devido a sede.
Julia fez alguns gestos e de novo murmurou algumas palavras diferentes dos da última vez. Quando terminou perguntou ao aluno:
- O que é isso?
- Suco de laranja. - A classe pareceu confusa com a resposta, mas logo entenderam o que a professora tinah feito, enfeitiçará o aluno para ele acreditar que aquele veneno era um suco.
- E você está com sede certo? - O aluno concordou com a cabeça. - Então beba.
O aluno resistiu, se recusou a beber. Julia insistiu, mas ele recusava a beber o líquido laranja. Mas bebia a água quando era oferecida.
- O que fiz - explicou Julia - foi criar a idéia na cabeça do Marcos de que esse veneno é um suco de laranja. E como vocês puderam ver, ele acredita nisso. Entretanto, inconscientemente, a memória de que isto é um veneno ainda existe, por isso ele se recusa a beber, mesmo não sabendo o porque. Porque dentro da cabeça dele ele sabe que se beber morrerá.
Todos olharam curiosos, alguns alunos fizeram anotações.
- Mas vejam o que acontecem se eu destruir a memória da minha explicação de que isso é um veneno.
Julia, com alguns gestos e palavras, eliminou a memória dos últimos minutos da cabeça de Marcos. A última coisa que ele conseguia se lembrar era de ter bebido o primeiro copo de água. Olhava para o veneno sem entender da onde ele viera ou quando Julia tinha colocado ele ali.
- Você sabe o que é isso?
- Um suco de laranja..
- Você está certo. Pode bebê-lo.
A classe olhou aterrorizada enquanto Marcos levava o copo a boca. Quando estava prestes a tocar seus lábios, Julia rapidamente impediu o garoto, que derrubou o copo no chão. Ela eliminou a magia que o deixara com sede e pediu para que se sentasse. Ele obedeceu e olhava confuso, sem entender porque tinha sido impedido de beber o suco. Parecia tão gostoso.
- Como podem ver, é impossível fazer pessoas cometerem atos suícidas. Mesmo as magias mais fortes de manipulação e ilusão falham. Vocês não conseguirão convencer uma pessoa a cortar os próprios pulsos, a tomarem venenos de boa vontade,.. Entretanto, alguns magos não consideram esse limite como um Limite verdadeiro. Como vocês puderam ver aqui, eu quase fiz Marcos cometer um ato que, no fundo, seria suícida, tomar o veneno. Na primeira vez ele não funcionou, porque ele tinha o conhecimento de que era um veneno, mesmo que inconsciente devido a minha magia de fazê-lo acreditar que era um suco. Ela, não importa quão forte, nunca funcionaria por causa disso. Na segunda vez ele funcionou. Eu pude contornar isso, simplesmente eliminando a memória que ele tinha de que isso era um veneno. Ou seja, eu consegui fazê-lo cometer um ato que o levaria a própria morte. Foi possível, magicamente, contornar esse Limite. Agora, abram seus livros na página 139 e analisem os casos mencionados em duplas.

Fragmentos de uma História

Cena na Sala da Lareira Eterna:
Eles estavam realmente empolgados enquanto conheciam os vários aposentos da escola. A maioria era comum, como qualquer aposento normal, mas sempre tinha alguma coisa ou outra que os chamava a atenção. Agora estavam em uma dessas salas. Aparentmente não tinha nada de especial. Era grande. Com algumas poltronas e mesas, uma rica decoração, várias peles nas paredes, um belo tapete cobrindo todo o chão e uma lareira. Uma lareira com um fogo razoavelmente alto. No frio que vazia aquela noite parecia um local confortável para ficarem e aceitaram com agrado o convite do professor para ficarem ali um pouco. Ele e os 40 novos ingressantes na escola se acomodaram confortavelmente. Até que um dos alunos se aproximou e perguntou:
- Que sala é essa professor?
- É a Sala da Lareira Eterna.
Os alunos se entreolharam curiosos. E o mesmo continuou a questionar o professor.
- Como assim?
- Ora, não é óbvio? - e o professor deu um leve sorriso. - Aquela lareira nunca se apaga. Continua queimando e queimando desde que foi criada.
Todos se entreolharam surpresos. E uma garota resolveu perguntar ao professor.
- Mas como é possível? Minha mãe sempre me disse que é impossível criar coisas eternas até com as magias mais poderosas!
O professor olhou para ela e pareceu pensar um pouco antes de falar.
- Bom. Isso é verdade. É um dos limites da magia, o Limite da Eternidade. É impossível criar coisas para sempre. Mas não temos como saber se esse fogo durara eternamente, temos? Só porque ele existe a séculos, não significa que é realmente eterno.
- E o nome... - continuou o professor, antes que a mesma aluna pudesse dizer algo - é só uma palavra. Só porque chama Lareira da Chama Eterna não significa realmente que seja eterna. É mais uma brincadeira, um exagero. Palavras, meus queridos, não são fixas - ficou reflexivo, como se falasse mais para si mesmo do que para as crianças em torno -, seus signficados podem ser alterados, distorcidos.
Um garoto de cabelos negros e roupas esfarrapadas ergueu o braço e ficou esperando o professor lhe dar permissão. Este fez um aceno com a cabeça, e ele perguntou:
- Mas... Nem com magia?!
- Nem com magia. E acredite, os magos mais poderosos tentaram ao longo dos séculos, e todos falharam. Até mesmo eu já tentei. Poderosas essas chamas.
E todos admiraram elas. Queimando ali, sem qualquer lenha ou outro material como combustível, aquecendo a sala naquela noite de inverno e de todos os invernos passados ao longo dos séculos. Dia e noite.
- E como foi possível.. Eu digo, se é impossível conjurar coisas eternas.... - Disse a menina que questionou o professor sobre a impossibilidade de existirem magias eternas.
- A séculos atrás, essa sala era laboratório de um mago extremamente poderoso. E orgulhoso. Sua especialidade era magias de fogo e ele resolveu criar um objeto mágico extremamente poderoso. E, bem, magia pode ser bem instável durante a criação de objetos mágicos, mas isso vocês aprenderam posteriormente. O fato é que, durante a criação desse objeto de proporções gigantescas, ele perdeu o controle. E toda a magia acumulada explodiu numa poderosa e gigantesca fogueira, que podia ser vista a quilometros de distância. Ela queimou durante dias e noites, por anos, até se reduzir ao tamanho que tem atualmente. Um certo dia, um certo mago achou que era perfeita para uma lareira e construiu essa sala. O que convenhamos, foi uma idéia genial.
Todos se entreolharam quando a história terminou. E um deles perguntou:
- E o mago.. O mago que produziu esse fogo, o que aconteceu com ele?
- Foi uma das primeiras vítimas da fogueira, assim como todo seu laboratório. Consumido nas chamas.
Os alunos se deram por satisfeitos. O professor se levantou:
- Bem, bem. Já ficamos bastante tempo aqui. Hora de mostrar seus quartos.
Todos se levantaram e deixaram a sala. As chamas continuavam queimando.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Nórman

acho que o meu problema começou quando fui morar com Nórman. isso, foi aí. até porque meu vício precisa de Nórman e de seus hábitos noturnos. no começo tudo era um grande problema. eu chegava em casa cansado e tomava meu banho com todos aqueles sabonetes e loções caras que eu comprava em lojas de shoppings cheias de madames que eu olhava com desdém e ridicularizava mentalmente me sentindo muito diferente delas porque meu dinheiro era fruto de trabalho duro. ia direto para a cama e, assistindo algum filme ruim na tv, eu dormia em uma posição desconfortável e no dia seguinte a dor no pescoço só me daria mais vontade de chegar em casa e tomar meu banho de borbulhas caras antes de me deitar na cama assitindo algum filme ruim. o fato é que, quando o nórman mudou pra casa, o silêncio necessário em minha cabeça não mais existia. o som da cabeceira da cama de Nórman marcando a parede em ritmo compassado, porém inconstante, passou a me perturbar e a povoar meus sonhos com martelos que marretavam meu cotovelo e outras partes do meu corpo numa bigorna de ferro negro e brilhante que tinha seios cor de pêra assada e uma tatuagem da bandeira da paraíba negando todos meus desejos. no entanto, quando dei por mim, o metrônomo da cama e da parede marcada de nórman faziam parte do meu sono que se tornava cada vez mais e mais tranquilo com os sonhos já deliciosos e engraçados que substituiam a bigorna e a humilhação do NEGO por sereias lindas e amarradas que se debatiam no ritmo da cama ocupada de Nórman. quando Nórman morreu, sabe-se lá porque ele fez isso comigo, eu sentia tanta falta da sua atividade noturna que eu não conseguia mais dormir. maldito Nórman! devolva minhas sereias!

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Publicação de vida alheia

"Campinas, 13 abril de 1994

Oi, Josi, tudo bem?
Eu resolvi escrever em grego, pois estou brava com você. Você não me escreveu mais.
Eu tenho uma coisa importante para te falar: uma amiga minha é de Reolândia e eu falei para ela que minha prima de Potirendaba, você, conhecia uma me-
[verso] Nossa, ele ficou super contente. Veio a namorada dele e três amiguinhos.
A escola está uma bosta. Estudo de segunda e quarta o dia inteiro.
Só saí um dia aqui e foi sexta passada. Festa dos primeiros colegiais do colégio Rio Branco. Estava boa, mas sem nenhum meni-"

Transcrição integral de um bilhete encontrado dentro do livro de Lima Barreto, Nova Califórnia e outros contos. Esses livros comprados em sebos trazem sempre algo de seus antigos donos...

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Coisas da vida

Um dia desses, uma mulher jovem e bonita acabou ficando viúva. Além de jovem e bonita, a recém viúva era também muito fiel, e portanto ficou longos dias e longas noites velando o corpo do marido morto, até que que suas belas lágrimas inundassem todo o chão de terra, fazendo uma lama quentinha e nojenta. O defunto encheu-se de moscas e micróbios.
Nas proximidades do velório, aconteceu um enforcamento, pois era deste modo que se condenavam os criminosos daquele tempo. Um homem acusado de matar a filha do pastor teve seu pescoço enrolado a uma cordinha que lhe tirou o ar depois de pequenos 20 ou 2 minutos. Ao lado do cadáver condenado deveria ficar um soldado, que deveria dar seu melhor para evitar que roubassem o corpo.
Até aí tudo estava como deveria estar. Foi, então, quando o soldado que guardava o corpo do condenado morto ouviu o choro da mulher jovem e bonita que guardava o corpo do marido morto, que tudo foi estragado de uma vez. Isso porque o soldadeco não pode resistir à curiosidade de ver de perto a origem daquele belo choro feminino vindo de tão longe.
Foi só o soldado chegar ao local do velório para notar, ao ver a moça, que sua curiosidade tinha valido bem a pena. Neste mesmo momento incrível, a mulher parou de chorar e sentiu, ao invés de tristeza pelo antigo e morto marido, amor puro e sincero pelo desconhecido e valente soldado guardador de defuntos.
Depois de fazer o que tinham para fazer, cada um retornou ao morto que lhe cabia. No dia seguinte foi o mesmo. Entretanto, desta vez, o soldado teve uma má surpresa ao descobrir que o corpo do condenado pelo qual era responsável, infelizmente, tinha sido roubado. Isso foi no momento em que olhou pela janela e viu que, infelizmente, o corpo já não estava mais onde deveria estar. Então começou a choramingar e a gritar "minha vida acabou! serei cruelmente torturado pelos meus superiores porque não cumpri meu dever! aaaaaahhh!! vou me matar!"
Ouvindo isso a bela viúva teve uma boa ideia, "você não pode se matar porque eu não posso perder dois amores da minha vida de uma só vez!"
Foi então que o soldado pode continuar substituindo, no coração da pobre, bonita e jovem viúva o infeliz marido morto, que substituiu, no cadafalso, o cadáver roubado de um criminoso condenado.

Degradação e melhoração de uma sequência do filme de Federico Fellini, Satyricon

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

2011 será tão do caralho, que corre-se o risco de acabar em merda.