sábado, 27 de fevereiro de 2010

segundos antes de ela ir embora

a primeira vez q vi ela estávamos na farmácia. eu comprando aspirinas, ela digestivos. de cara me disse que não gostava de feijoada. me apaixonei e me ofereci pra pagar-lhe o eno. ela aceitou, desconcertada. o farmaceutico perguntou se éramos casados. respondi que não, que não tinha como sustentar família. ela me disse que criasse um blog e fosse viver a deus dará.

então, eu liguei pra ela e a chamei pra comer qualquer coisa. eu disse que não sabia cozinhar, mas que se ela quisesse eu matava dois porcos. ela pediu apenas um. ignorei-a e acabei matando três porcos. no jantar ela me abandonou com um enorme caldeirão de feijoada e eu repeti sozinho no quarto: td bem, eu crio um blog e vou viver a deus dará.

ontem a noite me perguntaram o q tinha pra comer. respondi: orelhas, rabos e costelas com feijão preto. me perguntaram: feijoada? respondi que sim, porém sobressaltado com tamanha perspicácia. me disseram que assim eu perderia o emprego, e eu disse que não me importava, que criaria um blog e viveria a deus dará.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

vg: mae, me dah 1500 reais preu comprah um playstation 3?
mãe: Aaaah, menino..Não dou, não. Isso é coisa de criança.
vg: nao eh nao..tem ateh jogos para maiores de 18 anos.
mãe: Não importa. Se não fosse coisa de criança eu dava, você sabe. Por vocês eu já dei muito duro nessa vida, consegui criar meus filhos com meu suor. Se fosse pra investir no seu estudo faria tudo. Não pode parar de estudar. Estudo é tudo, meu filho. És-tudo.
vg: ... é ... entao me dah 100 mil preu doar pra um arquivo do estado q tah mto precario e os documentos estão perdendo.
mãe: Não também. Papel velho.
vg: mae! é a memória da sociedade. a mínima crítica social precisa estar fundada historicamente.
mãe: A mínima ponte está fundada em pedras, cimento, metal.
vg: [murmurando] vidro, concreto e metal..capitalista filho da puta..
mãe: Quem? Eu?
vg: não, mãe. mas, mãe, essa concepção sua de ciencia tá mto ultrapassada. essa idéia de aplicabilidade prática na vida da sociedade é muito século XIX. e se for assim, a história também tem aplicação prática.
mãe: [fitando] ...
vg: a gente atua culturalmente, mãe. a revolução da condição social, política e economica atual tem que passar pelo campo cultural, pelas mentalidades.....PELA ESTÉTICA! a arte tb não serve pra nada?
mãe: huuumm..não sabia que história era arte.
vg: não é!!! dei um exemplo...tava querendo..a cultura é desvalorizada frente a política..
mãe: não falei de política..
vg: to dizendo que a senhora participa de uma concepção mto difundida hj em dia onde o entendimento cultural da sociedade é relegado a um segundo plano. o que mostra muito bem isso é a valorização profissional que o mercado dá pra engenheiros e não dá pra historiadores. é mais importante uma ocupação relacionada a produção de lucro e ao controle do capital. eu poderia ir mais longe e discorrer sobre a perversidade da sociedade ocidental, capitalista e de tradição judaico-cristã, que perpetua a configuração atual da sociedade de exploração do homem pelo homem através da produção contínua de discursozinhos como a pátria, o selfmade man, o individualismo,o trabalhador honesto........o mito do amor materno.....
mãe: o que?
vg: ............ nada não, mãe...

Relato objetivo de uma certa tarde .2

Outro dia explodiu no meio da rua a cabeça de um homem. O caminhão passou em cima. Então aconteceu geléia de morango fosforescente escorrendo e fritando bonito pelo asfalto quente do meio dia. Os pardais bonitinhos de Deus pegavam migalhas de pão de queijo caídas de baixo da mesa, molhavam na geléia de morango fritando, e levavam para os filhotinhos cretinos, carnívoros, antropófagos disfarçados de bonitinhos, filhos da puta.
Os filhos de pardal enganam os pais para comer cérebros de pessoas. Os pais, ingenuamente levam para o ninho, pão de queijo coberto de doce de morango com miólos, neurônios e mtocôndrias. Quando os caminhões passam em cima das cabeças das pessoas...
Tem quem goste, na verdade. É uma mistura de sadomasoquismo com um tipo de perversão baseada em pardais filhotes. Os pardais filhotes não têm penas e, como vimos, não têm senso de moral. Os pervertidos aproveitam-se da explosão de suas cabeças para fazer seus cérebros e corticóides parecerem com docinho de morango, pondo em prática seus hábitos anti-naturais revoltantes!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

notas dispersas anacrônico-carnavalescas

Noite de carnaval, camarote em um ponto estrategicamente elevado para melhor observação e possíveis comentários respeitosos sobre as atividades festivas de uma legião incontrolável de pessoas a pular, dançar, esfregar, bolinar, cantar. Nós, arautos da prudência e da discrição, mantínhamos o bom comportamento, devidamente assentados em nossas poltronas, com as extremas demonstrações de animação sendo alguns dedos indicadores em riste balançando pelo ar ou um leve tamborilar de mãos sobre a superfície em que sentávamos ou de pés sobre o chão em que pisávamos. As coisas estavam dispostas conforme a razão, no camarote, e estávamos contentes com isso.
Contudo, a incontinência do verbo fez-se presente no momento em que Hugo de Fleury comentou estarem os membros dos corpos dos foliões em estado revoltoso, os aguilhões ardentes da concupiscência carnal atormentando as carnes contra a vontade dos indivíduos. Agostinho sorriu vitorioso com essa intervenção inesperada do caro colega e logo começou a predicar sobre a natureza decaída do homem desde o pecado original e da conseqüente necessidade de coerção para atingirmos a salvação.
Pelágio, percebendo o olhar nervoso do eloqüente Agostinho fixo nele, tentou defender sua opinião segundo a qual a liberdade da humanidade estava assegurada pela virtude do batismo e que todos aqueles foliões pimpões exerciam o mais perfeito domínio de si, sendo o movimento dos membros ali observado algo justo entre os bons cristãos.
A euforia e a discórdia tomaram conta do camarote. Entre acusações de heresia e exercícios de exegese, Tomás perdeu o rebolado e, num frenesi nunca dantes presenciado na escola escolástica, começou a arremessar tomos e mais tomos da sua Suma contra tudo e contra todos. Apesar de tantas imprecações sobre a ordem divina, quem interveio foi a ordem pública: fomos todos, santos ou não, muito bem espremidos em dois camburões, para a delegacia prestar depoimento sobre nossos desvios de conduta.
Nem as mais bem construídas expressões em latim foram capazes de convencer o delegado, calvinista convicto, sobre nossa inocência e boa índole cristã. João de Salisbury ligou para Aristóteles e este apareceu com presteza para quitar nossa fiança, pois ninguém aceitava passar a noite na única cela da delegacia, na qual, resoluto e profano, repousava Maquiavel, detido sob a acusação de urinar em público.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

como parte de uma prova de proficiência na língua espanhola me pediram para que eu lesse um capítulo de um livro chamado devaneios oníricos de ramiro contreras.
quanto mais eu lia, mais eu percebia que não ia conseguir a nota suficiente para o teste. o capítulo ia mais ou menos assim por umas 15 páginas:

"minha vida estava resolvida. eu tinha um cachorro, amigos, uma casa, um emprego e acreditava em deus. deus bondoso que sabia me recompensar se eu fosse temente e mantivesse a fé acima de qualquer coisa. um dia me disseram que deus não existia. a partir daquele dia eu perdi uns amigos, mas fiz novas amizades, perdi o emprego e consegui um outro, minha casa caiu mas a casa do meu cachorro não. conheci uma mulher. arrumei um gato quando meu cachorro morreu. comi menos. eu não acreditava mais em deus e minha vida não estava mais resolvida."

o capítulo sem o resto da obra me pareceu bastante deslocado.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Relato objetivo de uma certa tarde

No buteco da esquina perto de casa sempre tem vários velhos sozinhos. Velhos tristes solitários. Fico pensando: quem são esses velhos? "São o futuro", diz meu lado fatalista/destrutivo. Um velho começou a contar histórias sobre a cidade de antigamente: "Isso era Campinas, só boizinho passando." - tomei nota. Ele dizia isso pra ninguém. Ao lado dele estavam um velho mais velho que ele e o moleque que trampa no boteco. Moleque de seus 18 ou 19 anos, essa juventude ridícula de hoje em dia... Ridícula, mas não degenerada. Escolho bem os adjetivos. Não é degenerada porque, afinal, quando é que foi menos ridícula? Cada tempo tem seus prórpios imbecis, formados de acordo com a tradição que lhes diz respeito.
Nem o moleque, nem o velho mais velho davam atenção às memórias do velho que contava histórias antigas da cidade e ria sozinho de coisas absolutamente sem graça.
Porque esses velhos tristes e solitários lembram de coisas tão antigas e desinteressantes? Acho que é porque eles não têm nada além disso. Prestei atenção: o velho mais velho e o moleque ignoravam o máximo que podiam, na esperança de que fosse interrompida a narrativa. Então, o velho que contava histórias parava um pouco, e ficava olhando pro chão vazio. Pensei que eu poderia intervir, "ei, velhote! o que é, afinal, a vida?", ele me olharia espantado. Eu não daria tempo pra que ele formulasse resposta, "velhote, pra onde o senhor pensa que vai depois de sua morte?" sem compaixão!
Então me canso do bar e volto pra casa. No caminho de casa tem uma farmácia, onde trabalha uma moça bem bonitinha. Passei e olhei pra ela. Pensei que um dia eu vou entrar na farmácia, parar diante da estante de camisinhas e pensar, por uns 10 minutos. Ela vai olhar pra mim de canto d'olhos e pensar: "safadinho". É que hoje em dia existe uma variedade tão grande de tipos, marcas e preços de camisinhas, que é preciso pensar bem antes de escolher. Então, finalmente, vou escolher uma sabor framboesa e colocar em cima do balcão. Depois, olharei dentro de seus belos olhos castanho claros e soltarei: "que vai fazer à noite, princesa?"
Não tem como não dar certo!