sexta-feira, 30 de abril de 2010

Tradução: Trecho de Neil Gaiman numa entrevista

Fiz uma tradução de um techo de uma entrevista com o Neil Gaiman no Google. Não sei se entrevista seria o termo correto, pois, na primeira metade ele basicamente fala o que quer e, na segunda, abre para perguntas do público. Mas, de qualquer jeito, eu traduzi um trecho. As partes que eu não compreendi o que ele dizia estão com essa anotação: [...]. Sem mais delongas:

"... contando histórias em Comics, e, como gostam de chamar hoje: Graphic Novels. Mas eram Comics quando eu comecei, dammit!"
Eu lembro que, certa vez, talvez tenha mencionado isso ano passado, que eu estava em uma festa literária em Londres. Era uma daquelas bem refinadas [...] e, em certo momento, eu estava conversando com o editor literário do Daily Telegraph. Isso foi a um tempo atras. E ele disse: "Então, o que você faz?" E eu disse: "Eu escrevo Comics."
E ele pareceu muito, muito aborrecido, bem de repente. E olhava como se eu tivesse dito a ele que molestava cadáveres para viver. Mas ele não podia realmente, apenas, sair dali. Então ele disse: "Oh, oh, certo, oh. Que tipo de Comics?" E eu disse: "Bem, eu [...] Sandman, recentemente escrevi [...], o próximo trabalho que estou fazendo se chamará [...]".
E ele disse: "Espere um pouco! Você é o Neil Gaiman!". E eu disse: "Sim, eu sou." E ele disse: "Meu querido! Você não escreve Comics, você escreve Graphic Novels." E eu me senti como uma prostituta que acaba de receber a notícia que ela é a Dama da Noite.
Então, eu escrevi Comics..."

Transcrição no original:
"... telling stories in Comics form and, as they like to call these days: Graphic Novels. But they were Comics when I started, dammit!
I remember once, I may have mentioned it last year, that I was actually at a literary party in London. It was a very sort of posh end of year [...] and I found myself in conversation with the literary editor of the Daily Telegraph. It was some years ago. And he said: "So, what do you do?" And I said: "I write comic books."
And he looked very, very upset, very suddenly. And looked like I had told him I molested corpses for living. But he couldn´t really just, sort of, leave. So he said: "Oh, oh, right, oh. What kind of Comics then?" And I said: "Well, I´m [...] Sandman, I've just done the [...], the next book I´m doing is called [...]"
And he said: "Hang on! You are Neil Gaiman!" And I said: "Yes, I am." And he said: "My dear fella! You don´t write Comics, you write Graphic Novels". And I felt very much like a hooker who is told she is the lady of the evening.
So I wrote Comics..."

Fonte:
http://www.youtube.com/watch?v=7LmfCGy_ZLg

terça-feira, 27 de abril de 2010

Ein Ausländer in Berlin


Só pelo valor revolucionário... Piadinha em alemão...
"Ein Ausländer in Berlin" significa: "Um estrangeiro em Berlim".
"Ich habe die Nase voll" literalmente significa "Estou de nariz cheio", que é o jeito alemão de dizer "Estou de saco cheio".
"Warten Sie" quer dizer "Espere" de maneira educada.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Casos de Família

Arthur sabe falar bobagem.

Não só de um tipo, mas vários. Piadas sem graça, besteiras historiográficas e gracinhas quaisquer.

Arthur nunca conquistou alguém, nunca ganhou dinheiro e nem foi reconhecido por isso.

sábado, 24 de abril de 2010

Quadrinhos - Zé era um homem triste


Entrando no mundo das tirinhas =P.. Ignorem a arte.. principalmente as cores huaahu e apreciem a idéia.. Primeira vez brincando com canetinha.. Achei que seria mais fácil.. Bleh =P... Vivendo e aprendendo..
Primeira tirinha rumo ao Infinito.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Impressões - 01 - Love You to Death




Decidi iniciar uma seção de desenhos meus que chamarei de Impressões. Pretendo fazer desenhos baseados em cenas que achei interessantes de filmes, mas não postarei o nome deles. Isso para evitar que meus desenhos gerem spoilers. Nessa série de desenhos não pretendo ser completamente fiel aos filmes, deixando minha subjetividade extravazar.... hehe =P. Bom. Esses desenhos terão o título de Impressões, um número - que indica a ordem cronológica da produção -, e um título dado por mim ao desenho.

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Um pequeno comentário sobre o desenho atual: Apesar de eu estar satisfeito com o desenho no papel, não estou com ele scaneado. Meu scanner zuou o tom das cores e ficou dificil recuperá-las =/. E eu não sou um mestre no Photoshop.. Então só me resta dizer: Bleh =P!

domingo, 18 de abril de 2010

Sobre a fé .2

Pedrinho era menino muito carolinha. Desde seus três anos de idade, já insistia para que sua mãe o matriculasse o quanto antes na escolinha de catecismo. "Mamãe, quero conhecer o ensinamento de Nosso Senhor!", gritava, e a mãe: "Que gracinha!"
Então Pedrinho começou a maravilhar-se com o texto bíblico e a compreender que por trás de um mundo tão perfeito deveria necessariamente existir um plano, um criador. Daí em diante foi o primeiro da classe de catecismo, e o melhor coroinha. Os colegas de sala desrespeitavam, "Carolinha pau no cu!", ao que Pedrinho respondia sem perder a serenidade, "Jesus é meu amigo, não preciso de vocês, pivetes...". Pedrinho também tinha a admiração do padre, um velhinho muito bonzinho e piedoso, "Ah! Pedriiinho...que maravilha de coroinha!", dizia o padre afagando-lhe os cabelos.
E assim foi durante toda a vida de Pedrinho, até que ontem, viu no Jornal Nacional que os padres são pedófilos. "Oh, meu Deus! Como é que eu ia saber?!", desesperou e chorou.
Pedrinho viu que precisava de uma nova fé. "Mamãe, acho que vou me juntar à Igreja Universal do Reino de Deus!", ao ouvi-lo a mãe teve um ataque cardíaco, e quando voltou do hospital, abordou o assunto com toda a calma: "Pedrinho, sei que você está com 28 anos, e é idade de ser rebelde, os hormônios começam a bater...mas tem piedade de sua mãe!" Pedrinho baixou a cabeça arrependido de sua rebeldia e continuou ouvindo a mãe: "Olha só, meu filho, Igreja Universal é coisa de pobre, de ignorante...sai dessa."
Pedrinho saiu desolado pela rua e acabou entrando em um cinema. "Chico Xavier" era o nome do filme. "Foi Deus que me mandou aqui hoje!", pensou Pedrinho, encantado com a bela história daquele homem maravilhoso e solidário com os humildes. Aos poucos, Pedrinho descobriu que o ensinamento de Chico Xavier, era religião científica de gente esclarecida e não-pedófila. "Que bom! Agora posso ter uma fé de gente honesta!"
Pedrinho estava tão encantado que atravessou a rua desatento, de modo que não pode desviar-se do busão, que passou-lhe por cima. Morreu e foi pra fila de reencarnação.
Moral da história: Só existe uma fé verdadeira.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

"a lei 9394/2027 surge para proibir a nova prática em laboratórios de anatomia onde se ressucitam brevemente alguns corpos. a técnica consiste em aplicar uma corrente elétrica, em certa frequencia e com amperagem variável, através de eletrodos inseridos no coração de um corpo sem vida. a voltagem simula o batimento cardíaco enquanto "frita" o coração do pobre ser que tem, supostamente, suas últimas memórias reveladas mecanicamente pela boca morta e fétida com uma voz que evidencia o sofrimento e o dilaceramento de suas víceras assim como causa espanto ao homem médio que a ouve. tal prática é então considerada desumana mesmo que se prove a ausência de dor em tal estado de consciência. essa lei é lavrada depois da ampla divulgação de imagens de uma dessas sessões em um laboratório elíptico da Universidade Nacional. no vídeo vê-se o corpo de uma jovem que, em meio a risadas e divertimento dos presentes, bradava com sua voz de sofrimento intenso "eu sou a verdadeira mary poppins", frase que foi identificada com os versos de uma música feita pela banda titãs antes de ser submetida ao tribunal acústico mtv, onde suas músicas foram julgadas e enquadradas nas boas morais da música popular brasileira. essa lei passa a valer a partir da data de sua publicação; revogam-se todas as disposições contrárias; que Deus nos abençoe."

segunda-feira, 12 de abril de 2010

resenha

Resenha? Uma coisa bem estruturada e com pretensões de crítica abalizada? Não. Falarei sobre música (algum álbum de alguma banda/intérprete) sem preocupar-me em categorizar, classificar ou julgar estilos. Interpreto as letras, falo o que quero sobre elas, inclusive coisas que elas não dizem. Incongruências, em suma, com o título de resenha. "Que bonito!" diria alguma tia, sem entender.

Por hoje, o álbum "Atomizer" da banda Big Black.

1. Jordan Minnesota. Pedofilia. Cidade americana de interior, bom lugar para uma moral conservadora, porém, a presença de alguns pais de família que gostavam de bolinar com filhas e filhos de outrem (ou com os próprios) antes delas(es) passarem dos dezoito anos ("stay with me, my five year old") causa um certo mal-estar. "This will stay with you until you die, and I will stay with you until you die, suck daddy, suck daddy, suck daddy". Excesso de "moralismo", ruptura da "moral": ambos, juntos, traumatizando a existência de pimpolhos.


2. Passing complexion. Homem negro casado com mulher branca. Sociedade com divisões ocasionadas pelo preconceito racial camufladas com pretensos apelos de tolerância e compreensão mútua. O homem negro sente-se constrangido em sua posição, ainda mais por frequentar os ambientes conhecidos de sua mulher, ambientes de indivíduos brancos. A mulher aceita-o, os amigos/familiares dela podem ter restrições contra ele; o marido passa a ter restrições contra sua própria condição [referência interessante: Frantz Fanon, Pele negra, máscaras brancas]. "He had what they call passing complexion, he'd been white, he'd been black".


3. Big money. Ah, a sociedade das trocas individuais e da "livre" competição. "Got a nightstick, got a gun, got time and a half, got hazard pay, just to fuck with you. We just want, we just need, we just want, we just need big money". A competição é desigual desde o início, pois, atualmente, é calcada dentro das relações de produção; a miséria impera para muitos, em vários níveis, podendo levar desde à morte por inanição até uma vida inteira trabalhando, pelo menos, oito horas por dia por um salário de fome para sustentar uma possível família. Fórmula sintética: uns mais, outros [muito] menos.


4. Kerosene. Tédio, vontade de morte e querosene. Nada melhor do que incendiar a própria casa enquanto você ainda está dentro dela. "Sit around at home, stare at the walls, stare at each other and wait till we die. [...] Kerosene around, something to do".


5. Bad Houses. Crise de consciência. Um homem-bom com um vício: frequenta prostíbulos com regularidade. Auto-afirma que não vai, mas vai. Gosta, mas não assume que gosta. Não tem impotência sexual, tem impotência sobre si mesmo. "I hate myself for my weakness. My past sickens me". Constrange-se com seu passado e não consegue agir livremente no seu presente.

6. Fists of love. Violência doméstica. Ou violência sexual. Não há muita explicitação sobre qual é a situação. Apenas mão, punho e braço e outra pessoa. Um utiliza o membro, o outro sentirá, talvez sem gostar, talvez até morrer.

7. Stinking drunk. Hmmm, alcoolismo. Após parar de beber por algum tempo, retorna-se ao ofício. Em tempo integral. Apenas álcool e nada mais. "Forgot what it's like: like fighting, like sex, like taking a bang? Think it's time... got stinking drunk". Fazer isso até o fim e apagar o mundo.


8. Bazooka Joe. Joe voltou. Um personagem de quadrinhos? Um jovem solitário? Há lugar para alguém nesse mundo? Talvez apenas na imaginação, ou na ideologia.

9. Strange Things. hey hey hey. Bom grunhir de vez em quando.

10. Cables. Sei lá. Cansei.

domingo, 11 de abril de 2010

Brincadeira de Criança 2

RCMA encontra o amor puro e sincero

RCMA andava desgostoso de sua vidinha irremediavelmente tediosa. Ia de um livro existencialista-pós-colonial-materialista-aleatório-alemão a um copo-de-conhaque-barato-de-gengibre. Depois, ia da leitura atenta de algum estudo historiográfico a um trago de cachaça batizada. "Cacilds!" dizia.
Certa vez, RCMA, dormiu a tarde inteira. Levantou-se às quatro da tarde, assistiu Vídeo Show - "Ô merda de programa, rapá!", não se aguentou - e depois de fazer um café foi pra escola, onde tudo acontecia do mesmo jeito, tudo sempre igual, todas as mesmas pessoas falando as mesmas coisas. RCMA sentou-se numa mesinha da cantina, pegou um café e abriu um livro. "Ah! o sabor do conhecimento!"
De repente, uma mocinha sentou-se ao seu lado e puxou conversa:
- Que tu tá lendo, cara?
- É Homi Bhabha, gatinha - disse o estudante querendo impressionar.
- Que loco...
- Olha, mina, se você fosse um sanduíche, ia ser X- Princesa. HA HA!
-...
- Tá a fim de conhecer a biblioteca?
- Demorô.
Então foram à biblioteca, onde RCMA explicou sobre a condição humana, o sofrimento do mundo, cropofagia, parafilia, metafísica, ação direta, trash metal groenlandês e só. Ela achou foda.

A mina era a Alizée. UAAAAAAAAUUUUUUUUUU!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

quarta-feira, 7 de abril de 2010

[sem nome]

um.

Fui até a cozinha, abri o congelador e peguei um sanduíche. É um daqueles que você compra no supermercado, congelado, dentro de uma embalagem que te ensina a preparar. Abre a embalagem, tira da caixinha e põe no microondas, sem tirar do plástico, claro. Potência alta, 1min 30. um e quarenta, vá. Aparelho velho, sabe como é.
Pois bem.
Ali, sentado, olhando pr'aquele sanduíche congelado dentro do plástico, rodando no microondas, pensei a que ponto chegamos. Senti vontade de morte pela segunda vez.

Quando dei por mim, ainda faltavam 14 segundos.

dois.

A cabeça doía ainda, então levantei e fui beber um pouco de água. Se foda aquele calhorda que dava aula, só falava besteira mesmo. Não era pra menos. Ele é professor das letras, e como as letras não são ciência, como a História, Ciência das ciências, só falava bobagem. Enfim, andei pelo corredor em construção e cheguei ao bebedouro. Antes de apertar o botão, vi ali na frente dois pombos se bicando. Era feroz. Furioso. Sabe lá deus o motivo, acho que era ódio sincero. Até que o primeiro deles, primeiro em mau caratismo, bicou o pescoço do segundo, que também não era lá nenhum bom cristão, abrindo um buraco enorme. Começou a sangrar muito mas, mesmo assim, o danado resistia bravamente.
Eu como tenho ódio sincero pela humanidade e pelos pombos quis que os dois morressem. Mas só depois que me matassem.

três.

Resolvi ir até a cantina comer algo, já que tinha bebido muito na noite anterior. Rotina, na verdade. Pedi uma esfirra e um café e me sentei. Lá passava na tv aquela loira cretina falando besteira com um periquito. Não que eu esperasse alguma coisa diferente, longe de mim. Disputavam o que é, o que é. "O que a pata foi fazer na itália, em milão?" perguntava a velha filha da puta. Após repetir lentamente a pergunta, como quem decifra uma grande charada, respondeu vitoriosamente o papagaio falante: "Ah, foi ver o alexandre pato jogar". "Ah droga! você ganhou lorinho!". "Mas essa era muito fácil, mãezinha!".

Vontade de morte.


segunda-feira, 5 de abril de 2010

pardais, pombos e fim dos homens

Como estou impedido por força maior de sair do meu estado de reclusão, decidi narrar para mim mesmo (e talvez para algum improvável afortunado que tenha oportunidade de ler o que agora escrevo) alguns acontecimentos notáveis dos últimos tempos. Preciso exercitar minha memória e a arte da escrita com meu braço esquerdo, pois o direito, mais apto para meus afazeres diversos do dia-a-dia, foi brutalmente arrancado (fato prodigioso que pretendo explicar, caso eu não padeça de morte terrível antes do fim da narrativa ou caso estas rememorações não desgastem minha paciência ao ponto de causar minha desistência de tão nobre intento).

Pensei em estruturar meu relato em versos dodecassílabos, mas, infelizmente, lembrei-me, quando encostei a caneta no papel, de que meus conhecimentos em versificação são restritos a sonetos que mais parecem estrofes de verso livre, como os que eu elaborava na infância quando da minha insensata paixão pela professora de biologia (ela tinha mais de 50 anos, ensinava piamente o design inteligente, era fanha, coxa e dava-me esporros toda santa aula, ou seja, minha estupidez amorosa vem de longa data). Também lembrei-me que a coisa mais perto de um épico que eu conhecia era a filmagem de "Tróia" na qual Brad Pitt interpreta Aquiles. Então, percebendo que qualquer esforço vão de pedantismo de minha parte seria muito mais do que vão, pois seria inegavelmente babaca, resolvi ater-me aos fatos, com o máximo que a prudência permite-me.

O mundo começou a acabar para os homens antes do tão comentado 2012. As primeiras notícias de que me lembro datam do início de 2011. O acontecimento memorável que muito ocupa minha imaginação ocorreu na Polônia: durante uma missa, a igreja repleta de fiéis, uma pomba com pouco mais de um metro e sessenta de altura e uma envergadura de asas de mais de dois metros e meio entra em um rompante, estilhaçando os vitrais e embasbacando todo o público que, por um instante, imaginou presenciar o milagre da aparição do espírito santo; quando a pomba decepou e comeu, como uma migalha de pão, como uma óstia sagrada profanada, como o corpo não ressuscitado de cristo, a cabeça do padre (peço desculpas por esse barroco mequetrefe, não pude evitar, afinal, provavelmente, esta é minha última manifestação textual), o entusiasmo geral diminuiu e todos buscaram a saída o mais rápido possível, porém, para desgraça da congregação, fora da igreja havia uma aglomeração de pardais, cada qual contando com oitenta centímetros de altura, pesando aproximadamente vinte e cinco quilos e sedentos por sangue.

Por mais pitoresca que pareça essa lembrança, o resultado global é trágico: pombos e pardais gigantes surgiram por todas as partes do planeta e ameaçaram a humanidade com seus modos anti-naturais. As nações fraquejaram perante esta invasão bárbara armada com cloacas e bicos afiados e, em poucas semanas, os governos e a infra-estrutura da humanidade estavam em colapso. Boatos de brutalidades, tais como pombos sodomitas em asilos de idosos e pardais cropofágicos em creches, eram recorrentes. Os sobreviventes, eu um deles, organizaram-se em pequenas células e tentaram, com técnicas de guerrilha adaptadas à caça de passarinhos, opor alguma resistência contra o domínio inumano dos pombos e pardais. Em uma dessas missões, na qual matamos três pardais e ferimos gravemente um pombo, eu perdi meu braço direito.

[...]

Há duas semanas estou isolado, sozinho, em um esconderijo que não sei bem caracterizar, meu único alimento tem sido carne mal passada de pardal, algo não muito digestivo. No começo de todo esse caos alguns predicavam ser essa calamidade uma punição divina contra a fornicação cloacal, algo que, dizem, era praticado por mais pessoas do que se poderia imaginar. Meu pai dizia que era o merecido castigo pelas centenas de pardais e outros pássaros estilingados durante a infância de milhares de pimpolhos pelo mundo. Pessoalmente, agora, podendo colocar calmamente as idéias em ordem na minha cabeça, acho que um mundo dominado por pombos e pardais sanguinários e pederastas (sim, constatou-se pederastia entre estes seres empenados) não pode ser pior do que o estado das coisas anterior. Aceito, complacente, ser estuprado e trucidado de uma vez por todas por pássaros. O mundo tem grandes chances de melhorar.

sábado, 3 de abril de 2010