quarta-feira, 29 de junho de 2011

andrei tarkovski

“Antes de abordar os problemas específicos da natureza da arte cinematográfica, creio ser importante definir o meu modo de entender o objetivo fundamental da arte como tal. Por que a arte existe? Quem precisa dela? Na verdade, alguém precisa dela? Estas são questões colocadas não só pelo poeta, mas também por qualquer pessoa que aprecie arte – ou, naquela expressão corrente, por demais sintomática da relação entre a arte e seu público do século XX – o ‘consumidor’.
Muitos fazem essa pergunta a si próprios, e qualquer pessoa ligada à arte costuma dar a sua resposta pessoal. Alexander Block disse que ‘do caos, o poeta cria harmonia’. ... Puchkin acreditava que o poeta tem o dom da profecia. ... Todo artista é regido por suas próprias leis, mas estas não são, em absoluto, obrigatórias para as demais pessoas.
De qualquer modo, fica perfeitamente claro o objetivo de toda arte – a menos, por certo, que ela seja dirigida ao ‘consumidor’, como se fosse uma mercadoria – é explicar ao próprio artista, e aos que o cercam, para que vive o homem, e qual é o significado da sua existência. Explicar às pessoas a que se deve sua aparição neste planeta, ou, se não for possível explicar, ao menos propor a questão.
Para partirmos da mais geral das considerações, é preciso dizer que o papel indiscutivelmente funcional da arte encontra-se na idéia do conhecimento, onde o efeito é expressado como choque, como catarse.
(...) É certo que todas as pessoas usam a soma dos conhecimentos acumulados pela humanidade, mas, mesmo assim, a experiência do autoconhecimento ético e moral representa, para cada um, o único objetivo da vida, e, em termos subjetivos, ela é vivenciada a cada vez como algo novo. O homem está eternamente estabelecendo uma correlação entre si mesmo e o mundo, atormentado pelo anseio de atingir um ideal que se encontra fora dele e de se fundir ao mesmo, um ideal que ele percebe como um tipo de princípio fundamental sentido intuitivamente. Na inatingibilidade de tal fusão, na insuficiência do seu próprio ‘eu’, encontra-se a fonte perpétua da dor e da insatisfação humanas.
E assim, a arte, como a ciência, é um meio de assimilação do mundo, um instrumento para conhecê-lo ao longo da jornada do homem em direção ao que é chamado ‘verdade absoluta’.
Aqui, porém, termina toda e qualquer semelhança entre duas formas de materialização do espírito criativo do homem, nas quais ele não apenas descobre, mas também cria. No momento, é muito mais importante perceber a divergência, a diferença de princípio, entre as duas formas de conhecimento: o científico e o estético.
Através da arte o homem conquista a realidade mediante uma experiência subjetiva. Na ciência, o conhecimento que o homem tem do mundo ascende através de uma escada sem fim, e a cada vez é substituído por um novo conhecimento, cada nova descoberta sendo, o mais das vezes, invalidada pela seguinte, em nome de uma verdade objetiva específica. Uma descoberta artística ocorre cada vez como uma imagem nova e insubstituível do mundo, um hieróglifo de absoluta verdade.
(...) A arte nasce e se afirma onde quer que exista uma ânsia eterna e insaciável pelo espiritual, pelo ideal: ânsia que leva as pessoas à arte. A arte contemporânea tomou um caminho errado ao renunciar à busca do significado da existência em favor de uma afirmação do valor autônomo do indivíduo. O que pretende ser arte começa a parecer uma ocupação excêntrica de pessoas suspeitam que afirmam o valor intrínseco de qualquer ato personalizado. Na criação artística, porém, a personalidade não impõe seus valores, pois está a serviço de uma outra idéia geral e de caráter superior. O artista é sempre um servidor, e está eternamente tentando pagar pelo dom que, como que por milagre, lhe foi concedido. O homem moderno, porém, não quer fazer nenhum sacrifício, muito embora a verdadeira afirmação do eu só possa se expressar no sacrifício. Aos poucos, vamos nos esquecendo disso, e, inevitavelmente, perdemos ao mesmo tempo todo o sentido da nossa vocação humana....
Quando falo do anseio pelo belo, ideal como objetivo fundamental da arte, que nasce de uma ânsia por esse ideal, não estou absolutamente sugerindo que a arte deva esquivar-se da ‘sujeira’ do mundo. Pelo contrário! A imagem artística é sempre uma metonímia em que uma coisa é substituída por outra, o menor no lugar do maior. Para referir-se ao que está vivo, o artista lança mão de algo morto; para falar do infinito, mostra o finito. Substituição ... não se pode materializar o infinito, mas é possível criar dele uma ilusão: a imagem.
(...) Além disso, a grande função da arte é a comunicação, uma vez que o entendimento mútuo é uma força a unir as pessoas, e o espírito de comunhão é um dos mais importantes aspectos da criação artística. Ao contrário da produção científica, as obras de arte não perseguem nenhuma finalidade prática. A arte é uma metalinguagem com a ajuda da qual os homens tentam comunicar-se entre si, partilhar informações sobre si próprios e assimilar a experiência dos outros. Mais uma vez, isso nada tem a ver com vantagens práticas, mas com a concretização da idéia do amor, cujo significado encontra-se no sacrifício: a perfeita antítese do pragmatismo. Simplesmente não posso acreditar que um artista seja capaz de trabalhar apenas para dar expressão a suas próprias idéias ou sentimentos, os quais não têm sentido ao menos que encontrem uma resposta. Em nome da criação de um elo espiritual com os outros, a auto-expressão só pode ser um processo torturante, que não resulta em nenhuma vantagem prática: trata-se, em última instância, de um ato de sacrifício. Mas valerá a pena o esforço, apenas para se ouvir o próprio eco?”

Trechos do ensaio “Arte – anseio pelo ideal”, parte do livro Esculpir o tempo, de Andrei Tarkovski.

terça-feira, 28 de junho de 2011

do princípio do vandalismo latente

"um estudo recente feito pela Universidade Nacional, encomendado pela empresa Homero de elevadores, deu conta de que a conservação e a preservação do interior dos elevadores durava mais em prédios e condomínios com porteiros. isso porque o morador não precisa abrir o portão da rua com sua chave, mantendo-a em sua mão até chegar à porta de casa. neste entreato, o elevador é riscado com iniciais, desenhos obscenos ou traços sem nenhum sentido. a conclusão dos pesquisadores indica, então, a existência de um vandalismo. o homem não depredaria uma propriedade de uso coletivo se não tivesse sido gerada a oportunidade de estar com uma chave em mãos enquanto espera o elevador abrir a porta em seu piso. como simples passatempo, surge o que os pesquisadores nomearam "vandalismo latente". apresentadas em congressos internacionais, as discussões sugerem que o homem reprimiu esse vandalismo, que é externalizado em situações de SSO ("solidão social oportuna"), quando foi obrigado pelas transformações sociais e culturais a tolerar o outro. geralmente está presente uma forma de alteridade tosca e mal definida, mas que conserva algum valor e sentido na sociedade atual (por exemplo, no dito "cada um, cada um" e em diversos outros bastante conhecidos), conhecida como "alteridade primitiva". esta entra em conflito com o lado bestial do homem e o torna ansioso diante do diferente. ele suprime o que considera suas falhas, sem saber que elas nunca foram suprimidas, mas reprimidas. quando se crê sozinho, externaliza-as inconscientemente. há casos de moradores que se mataram com as chaves e outros que desenvolveram agorafobia ou múltiplas personalidades após muito tempo sozinhos no elevador. o homem que não compreende o outro não foi feito para viver em sociedade."

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Trevas


"Nämlich allein, ständig allein
Schrecklich allein, ewig allein

Verdammt dazu, allein zu sein - ein ganzes Leben lang allein
Sieh dich doch um, sieh endlich ein: Du bist allein, du bleibst allein"
http://www.youtube.com/watch?v=Fvh1N_QA1Kk

detalhes

um odor fresco de eucalipto enquanto pensava em ti tudo que fez não fez poderia ter feito adoro-te por mim e por todo o mundo e isso é só meu até o fim de todas as possibilidades entre a distância mantida deliberada precaução necessária para afastar o envolvimento inútil vontade de ficar quieto supera os sentimentos passam com o vento e para longe vai sem parar pela minha cabeça não deixo de imaginar cenas o passado filtrado da maneira que me satisfaz por não ter concluído coisas importantes nem ao menos começado a ficar velho nas atitudes e na postura relaxada na aparência de desleixo foi-se embora o tempo e o odor de eucalipto com a descarga e restou o cheiro de bosta

domingo, 26 de junho de 2011

Explosão




E que se foda!

E que se foda tudo! Foda-se o bom desenho! Desenhei essa história, porque precisava me expressar. Precisava dizer coisas que não havia outro modo de dizer. Precisava sentir coisas, que não havia outro modo de sentir. Precisava me expressar. Precisava de um desenho para liberar minha frustração. E foda-se se ele não está bem desenhado. Fodam-se os desenhos bem feitos! É! Viva o Arthur! E foda-se se a história parece não ter começo. Começo não há e nunca haverá. Começo é só o ponto em que o narrador decidiu colocar o dedo e falar: narro a partir daqui! E o fim é só o momento que ele tira esse dedo e manda tudo se foder!
Que se fodam as coisas e os amores perdidos.
Que se fodam as histórias com começo-meio-fim.
Que se fodam os romances que não vivo.
Que se fodam esses sentimentos amorosos em minha alma.
Que se foda...

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Os Três Niveis do Amor das Flores no Rochedo ou Considerações Sobre a Navalhada, a Punhalada e a Facada

I. A Navalhada da Decepção

Jorge chegou no apartamento de Eduardo de maneira inesperada. Ele acabava de sair do banho quando recebeu a mensagem que Jorge logo estaria ali. Na realidade, sabia que ele viria, só não sabia o horário.
- Então - começou Jorge, depois que já estavam na cozinha, cada um com um copo de cerveja na mão - descobri algo. Algo que vai te animar.
- O que?
- Você precisa ver com seus próprios olhos.
- Fala logo!
- Não! Preciso de mostrar, se não você vai fugir como sempre faz. E, o loco, já vai abrir outra garrafa? Ta tomando muito rápido!
- Eu preciso beber.
- O que aconteceu?
Ficaram em silêncio por algum tempo. Eduardo queria contar ao amigo, só não sabia como. Os pensamentos fluíam em sua mente de maneira desordenada. Uma memória ia para outra, enquanto sentimentos dispares dançavam sobre elas. E tudo isso precisava ser condensado em palavras. Meras palavras. Jorge esperava, enquanto olhava para o amigo. Uma de suas qualidades era saber dar o silêncio para as pessoas quando precisavam. Não sentia a necessidade de ficar falando como um louco. Era isso que fazia dos dois grandes amigos. Eduardo era bem inteligente, mas tinha problemas para passar em palavras suas idéias, o que o fazia demorar, as vezes, para conseguir comunicar algo.
- Então - começou, depois de alguns minutos, enquanto ia pegar a terceira garrafa de cerveja - é a Cristina de novo cara. Sempre ela. Por que eu não consigo esquecê-la? Eu a amo.. Essa é a verdade. A amo mais do que gostaria. E tipo, você me entende não? Eu tento. Eu só gostaria que ela me considerasse um amigo, mas não sei, por mais que a gente converse ela parece me considerar um nada. E ontem, ontem foi foda.
- O que aconteceu?
- Eu descobri que ela vai fazer uma festa de aniversário esse final de semana. Ela convidou todo mundo, menos eu, todo mundo! E ontem eu fiquei com ela a tarde inteira, e ela não mencionou nada. Acredita nisso? E sei la. O que me irrita mais, é que eu converso bastante com ela, conto coisas para ela, que sei la, são coisas que eu só teria coragem de contar para você. E ela me trata como se eu não existisse. Esse esquecimento dela é uma facada pro meu coração.
- Te entendo. Mulheres são cruéis mesmo. Mas você não pode deixar ela te abater assim cara.
- Eu tento. Tento mesmo, mas só a visão dela despedaça meu coração. É muito forte.
- Mas você tem duas opções só, ou você diz tudo para ela ou larga disso.
- Eu tento, mas se eu não consigo que ela se importe comigo como amigo, como esperar que ela se importe comigo como algo mais? Eu realmente tento.
Dessa vez foi Jorge que foi pegar uma outra garrafa de cerveja. Aproveitou o momento para dar um silêncio estratégico.
- Quais tão mais geladas aqui?
- Pega as do fundo.
- Então - começou Jorge, voltando para a mesa - você tem que curtir mais a vida, sair mais. É que você fica limitado no seu mundo, ai ela parece a única opção. Sair e conhecer pessoas, é o que você precisa.
- Não tenho animo, nem curto tanto assim sair, você sabe.
- Chega disso. A gente vai sair, e vai ser hoje!
- Sair aonde?
- Você vai ver, já marquei com o pessoal, o Marcos e o André vão também. Vai ser uma boa oportunidade para gente trocar umas idéias e curtir.
- Sei la..
- É sexta-feira poxa! Você trabalha amanhã? Não! Então, vamo lá! Chega de ficar deprimido e solitário em casa. Vai te ajudar a refrescar a mente.

Algumas horas depois, eles estavam dentro de um astra cinza rumo a algum lugar que Eduardo não sabia aonde era. Mas que os outros, principalmente Jorge, pareciam muito empolgados em ir. Foi só quando entraram naquela rua ali que ele percebeu. Mas já era tarde demais.
- Porra, vocês tão me levando pro puteiro? - falou Eduardo, realmente irritado e com um sentimento de fuga no seu coração. Queria voltar para casa imediatamente, sem pensar.
- Cara, essa casa é das boas! A gente descobriu ela ontem! O nível das mulheres aqui é muito foda! Compensa cada centavo! - disse Marcos.
- Porra! Não quero saber! Caralho. Mancada isso ai! - tentou argumentar Eduardo, mas percebia que os outros nem ligavam.
- Cara, vamos ae. Vamos curtir! Você não precisa pegar nenhuma puta não. A gente nem ta muito afim também. Vamos ficar mais no barzinho tomando uma só e olhando uns peitinhos! Olhar é de graça hehe - disse Jorge.
- Eu não curto essas coisas, po! Vocês sabem disso. Relaxo! Vamos embora. - Eduardo estava realmente frustrado com a situação, queria pular fora do carro, seu coração batia bem rápido.
- Cara, como eu disse, vamos ai só para tomar umas, é de boa! Você não precisa comer nada se não quiser. Vai ficar tomando sozinho em casa? Vamos ae!

Depois de uma longa discussão, finalmente os três conseguiram levar Eduardo para dentro do puteiro, e eles ficaram ali. Procuraram uma mesa, e ficaram tomando umas, enquanto olhavam o movimento no local. Algumas mulheres quase totalmente sem roupas dançavam no palco, outras passavam exibindo suas curvas pelas mesas, provocandos os homens ali. Jorge, André e Marcos pareciam curtir bastante o ambiente. Só Eduardo que estava mais quieto que o de costume. Estava extremamente irritado, considerava os amigos uns traídores. Não confiaria mais neles. Nem um pouco. André e Marcos até vá, mas não esperava isso de Jorge. Nunca de Jorge. Olhava para ele com raiva, mas o amigo retribuía com um olhar sorridente e passava uma mão boba numa das moças em volta.
Em certo momento, Eduardo precisou ir ao banheiro e foi quando estava saindo dele que aconteceu. Trombou com Cristina, ali, saindo do banheiro feminino do lado. Aquelas roupas que ela vestia, ou melhor, aquelas roupas que ela não vestia, aquela maquiagem e aquele lugar, só podiam significar uma coisa. E foi nesse momento que Eduardo sentiu uma navalhada de decepção estilhaçar seu coração.

II. A Punhalada da Rejeição

- Cristina?! - falou com uma voz baixa, mas forte. Ia perguntar para ela o que ela fazia ali, mas a resposta era tão óbvia, que nem terminou de abrir a boca ao fazê-lo.
Ela olhou para ele, soltou uma baforada do cigarro que fumava.
- Olá - disse, como se tivessem se encontrado casualmente entre as prateleiras de um supermercado - Tudo bom? Estou atrasada, depois a gente conversa.
A indiferença dela o irritou. Ela sabia o que ele sentia, ele tinha certeza disso. Não era possível não saber. Ele era um cara óbvio em relação aos seus sentimentos, não sabia disfarçá-los. Se fosse outra situação, ele engoliria essa indiferença dela. Mas ali, misturados a decepção que sentia, não aguentou. Segurou-a pelo braço. Queria a atenção dela. Mas nisso um homem grande de terno os separou.
- Algum problema? - disse o homem.
- Nenhum. Eu só perdi o equilibrio e ele me ajudou a não cair - disse Cristina - Mas agora tenho coisas a fazer - disse ela, e andou até um canto, aonde um homem de uns 50 anos, bem vestido a esperava. A pegou pelo braço e os dois foram para o local aonde ficavam os quartos dando umas risadinhas.
Eduardo ficou em silêncio enquanto observava tudo isso. Voltou para a mesa aonde os amigos estavam, não sem passar no bar antes.
- Estamos pensando em ir embora, já que você nem está curtindo muito - disse André, nisso reparou no copo de uísque na mão de Eduardo - Ou será que você está mudando de idéia?
- Vamos ficar - disse, e virou a dose numa só e pediu outra.
- Encontrou algum rabo de saia que te interessou por ai? - disse Jorge.
Eduardo o olhou. Será que o amigo sabia? Teria trazido ele aqui de propósito? Ficou o olhando, olhando aquele sorriso maroto. Todos sorriam naquele lugar, sem se importar com sua alma em ruínas, com seu espírito em decadência. E em algum canto ali, ela ria também, ria enquanto alguém a comia. A imagem daquele senhor com o bigode entre as pernas dela o desesperava. Sua alma gritava em fúria, e ele descontava na bebida. Em vez de pedir outra dose, pediu a garrafa. Cerveja era muito fraca para aquela agonia.
Suas memórias e seus sentimentos voavam, como se estivessem vivos. Sua pele se arrepiava com as idéias que tomavam conta de sua mente. Ele sempre tentou compreender porque ela não o tratava como amigo. Ele sempre quis essa respostava enquanto esperava por ela. Sempre esperando como um tonto. E tudo que ele pedia a ela, no fundo de seu coração, é que ela esperasse por ele uma vez. Uma vez. Que ela demonstrasse algum interesse por ele. Mas no fim, a verdade era que ele nem existia para ela. A navalha da indiferença retalhava o interior do seu peito, sem misericórdia alguma. E uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Os amigos o olhavam atonitos, e tentavam entender o que aconteceu. Mas ele ignorava as vozes deles. Apenas falava para deixar ele em paz. Foi quando Jorge disse:
- Cara, ela nunca ia dar o cuzinho para você mesmo! Vamos comer umas putas e se divertir!
Eduardo se irritou e agarrou a gola do amigo em fúria. Sentiu olhos virando na direção da mesa. Dois homens de terno vinham rápido em direção a ela. Mas ele soltou logo. Sabia que sua raiva não era em relação ao amigo. Não, o amigo só tinha aberto os olhos dele. Os olhos para a verdade que ele nunca quis ver. Pensava nessas coisas, enquanto Jorge dizia que estava tudo bem para os segurança.
- Ela é uma das mais caras aqui. 400 a hora com ela. - disse Jorge.
- Por que cara? Por que?
- Se eu te dissesse você acreditaria? Você tem que esquecer ela.
- Do que estão falando? - Perguntou André.
- Nada não - disse Jorge.
- Pelo jeito nosso amigo aqui quer uma puta muito cara pro salário dele - disse Marcos, e jogou uma nota de 100 na mesa - Pegai! Te ajudo a pagar!
André fez o mesmo. Jorge olhou para os dois peixinhos, olhou para o amigo, e tacou um cheque de 200 reais na mesa enquanto dizia: "Pronto. Vá viver seu sonho."

III. A Facada do Amor

Eduardo olhou para a grana, e para os amigos. Mas não disse nada, apenas encheu seu copo mais uma vez e começou a beber. Sua alma estilhaçada não permitia a ele esboçar nenhuma reação. André e Marcos logo saíram da mesa para aproveitar a noite com duas putas nas quais estavam de olho por um tempo, Jorge falou que cuidaria de Eduardo enquanto eles estivessem fora.
- Foi mal cara. Eu queria te falar, mas você não acreditaria - Eduardo ficou quieto. A única maneira com que expressava algo era o levantar e baixar do copo - Eu fui falar com ela ontem, quando vi ela aqui. Fiquei bem surpreso, bem surpreso mesmo! E cara, eu falei para ela, falei tudo sobre você, como você é apaixonado por ela e tudo mais, que ela precisava dizer para você que não te ama, assim você poderia ficar mais sussegado e esquecer ela.
- E ai? - Havia certo brilho nos olhos de Eduardo ao ouvir as palavras do amigo. O primeiro sinal de vida que ele dava desde que descobriu a verdade das coisas.
- Bom. Eu sei que é dificil. Mas ela deu uma risada e disse que sabia de tudo, que você era claro como o dia - Eduardo levou a mão no coração. Jorge não precisava de muito para saber que a punhalada do menosprezo entrava ali. - E que ela não ia dizer nada. Que ela gostava de você, assim, atras dela.
Eduardo ia encher outra dose, mas Jorge tirou a garrafa de perto e falou prum garçom levar ela embora, mesmo a protestos de Eduardo.
- Você já bebeu muito hoje cara. Eu queria mesmo ter te dito essas coisas. Mas você não ia acreditar, ia achar que era só eu tentando te incentivar a esquecê-la. Mas é isso, essa é a verdade das coisas. Quando o André e o Marcos voltar a gente vai embora.
Ficaram ali, em silêncio, os dois. Sem mais sorrir. A risada estava morta. Em certo momento, Eduardo se levantou e foi ao banheiro. Ficou ali além do tempo da mijada, apreciando sua própria dor. Quando saiu viu que Cristina e o homem haviam acabado. Ele provavelmente já tinha enfiado e tirado a vara de dentro dela várias vezes nessa hora que ficaram juntos. A raiva de Eduardo voltou a brotar. Ele foi até a mesa, aonde Jorge esperava, pegou a grana e falou:
- Eu vou tê-la. Nem que seja por uma noite. Aquela vadia, puta, vou gozar dentro dela.
Ele foi. Irritado. Esticou as duas notas e o cheque e disse:
- Agora vai ser comigo!
- Já tenho um cliente marcado para daqui 10 minutos. Você não vai conseguir nada comigo hoje. - ela deu um sorriso para ele, enquanto acendia um cigarro.
- Pago o dobro do que você vale!
- Não.
- O triplo! Pago o triplo!
- Não.
- Puta que o pariu! Você é puta ou não é?! Vou ter pagar quatro vezes mais, mas você vai dar para mim!!!!
- Não - disse ela com um sorriso no rosto, enquanto soltava uma baforada no rosto dele.
- Você dá para todo mundo caralho! Por que você não quer dar para mim?
Ela se sentou numa mesa vazia, e apontou para a cadeira a frente. Eduardo, tremendo de raiva se sentou, e os dois ficaram se olhando.
- Para você, o preço é diferente.
- Quanto? Me diz seu valor que eu pago.
- Quero seu coração.
Eduardo ficou parado. Sem entender, confuso. Aquelas palavras quebraram qualquer expectativa que ele poderia ter.
- Quero seu coração - disse ela - Porque não cobro dinheiro de quem amo.
O coração de Eduardo palpitava, teria ele entendido certo?
- Me ama?
- Sim. Meu expediente acaba daqui uma hora, depois que eu atender aquele senhor - apontou para um velho que caminhava em direção a eles.
Eduardo a olhava confuso para ela
- Como assim?
- É só para você saber - Ela se levantou e cochichou no ouvido dele - Saber a hora que pode me acompanhar até em casa - e foi até o velho, pegou no braço dele, e o levou até o quarto.
Eduardo voltou até a mesa sem perceber que sorria. Jorge o estranhou:
- E ai cara?
Eduardo não disse nada. Ficou apreciando a alegria em seu coração. Logo, Marcos e André estavam ali, prontos para ir embora.
- Podem ir - disse Eduardo - Eu vou esperar por ela.

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Esse conto foi escrito em conjunto por Caetano e Zeh (que pensa em um final alternativo hehe)

quinta-feira, 23 de junho de 2011

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Duas considerações sobre arte

1- Considerações sobre a concepção romântica da música

A: - Olha só, apesar da sua estupidez insensível e da sua cegueira voluntária diante da evidência da espiritualidade que move a existência, quando você toca essas músicas clássicas eu vejo que existem em você, apesar de tudo, sentimentos elevados que você deveria expressar com mais frequência, viu?

B:- Olha só, apesar do seu palavrório pretencioso e monótono a ponto de causar náuseas mesmo no mais bunda mole dos seres humanos, eu devo dizer que sua avaliação sobre a música não passa de uma puta bobagem. Música é basicamente matemática: cada nota ocupa uma certa posição no violão - instrumento musical material e datado -, e eu junto essas notas de acordo com lógicas preestabelecidas, e eu determino o tempo entre uma nota e outra, e eu determino com a intensidade da palhetada o ritmo e as diferenças de timbre, e você enche d'água seus pequenos olhos ingênuos, acreditando que está diante da comprovação da existência de um princípio eterno e imutável colocado por Deus na arte que se faz possível, apesar da prisão material que é o efemeríssimo corpo humano.

A: - Então você acha que não há motivações emocionais na criação musical!? Então...

B: - Vai... vai... calaboq!!

2- Considerações sobre a atuação no filme Garotas do ABC (Carlos Oscar Reichenbach - 2003)

A: - Eu acho que esse filme é uma merda porque os atores são muito ruins do caralho!

B: - Ah é?! E que porra você entende sobre atuação dramática?!

A: - Eu entendo que um ator representa um papel; então esse ator deve atuar de modo que sua expressão pareça natural.

B: - Pessoas como você assistem filme apenas por distração, e na minha terra isso tem um nome que você vai gostar muito de ter associado à sua pessoa: ALIENAÇÃO!!
[um prato voou na parede]
B: - Pouco me importa que você atire os pratos nessa parede imunda! O que estou dizendo é que você vê uma porra de um filme esperando que ele seja uma porra duma cópia da realidade! Uma porra do que sua mente alienada considera realidade, ou seja, um encadeamento de fatos lógicos compostos por elementos coerentes e ligados de modo a compor um esquema de começo, meio e fim. Você espera que a expressão, assim como a luz a música e o cenário pareçam naturais. Esse seu conservadorismo estético não tem nada a ver com o que você acredita ser natural; tem a ver, na verdade, com a sua espectativa inconsciente de se sentar para ver um filme e ter diante dos olhos aquilo que a tradição hegemônica cinematográfica te faz acreditar ser filme de qualidade e expressão do real-natural.

A: - Então isso quer dizer que a expressão é apenas um elemento que pode ser empregado de diversas formas para a composição da narrativa fílmica, papai?

B: - Claro, filhinho... a expressão não é neutra; não pode ser tratada simplesmente como um aspecto invariável a partir do qual se desdobra todo o resto. Ela mesma é um elemento discursivo.

A: - Ah! que bom então papai! Acho que agora eu entendi, viu!

B: - Te amo, filho! Agora vai tomar seu leitinho que já é hora de voltar à escola!

A: - Oba! eu queria muito mes... ... .. .......... ......

... .

sábado, 18 de junho de 2011

Diálogo 9 - Transcendência

- Então, falando nisso, ontem aconteceu algo muito estranho.
- O que?
- Então, sabe quando você está dormindo, mas não está completamente? Você fica num estado de semi-consciência e tal?
- Acho que sim..
- Isso tem acontecido muito comigo nos últimos dias. Eu sinto que estou acordado, estou consciente dos meus arredores, mas não consigo me mexer. No começo eu entrava em pânico, e tentava lutar contra isso até eu despertar de vez.
- Tenso, heim?
- Um pouco! Mas eu comecei a tentar a aceitar esse estado, tentar me controlar! No começo é bem difícil. Imagens começam a aparecer e elas parecem reais e eu entro em pânico e acordo. Aí...
- Reais, como assim?
- Então, é meio que uma alucinação, entende? São imagens que aparecem, mas não são realmente reais, mas parecem ser. Memórias, ilusões, medos, realidade começam a se misturar. Por exemplo, quando você está desperto você sabe que está sozinho no quarto, mas não no estado de semi-consciência. Ali você começa a sentir que tem alguém por perto, mas é só seu medo se manifestando. Mas ele se torna real a ponto de você entrar em pânico. E, como você não consegue se mexer, a sensação de desespero, insegurança é brutal.
- Acho que entendo. Vi em um filme uma vez, que para nossa mente, sonho e a percepção sensorial são, no fundo a mesma coisa. São imagens em nossas cabeças e é nosso cérebro que determina o que é real ou não quando estamos despertos. Mas, no meio de um sonho, essa seleção não ocorre. Então, para nossa mente, as imagens do sonho são reais. Por isso sentimos brutalmente os sonhos.
- Sim, algo assim. Faz sentido. Mas acho que tem algo a mais.
- O que?
- Algo além do estado de sonho.
- Hum.
- Então, não cheguei no fim da minha história ainda! Como eu tava te dizendo, as imagens começam a aparecer, e mesmo que objetivamente elas não sejam reais, você acredita que são. Mas eu comecei a dominar isso. Comecei a concentrar na minha respiração, e tentar ignorar, acalmar meus sentimentos. E deixar minha consciência desvanecer, se apagar. É uma sensação bem estranha, você começa a escutar um zumbido estranho pelo ouvido, que não sei explicar. Seu corpo começa a se arrepiar, e sua mente começa a imergir na escuridão. Sua consciência começa a sumir. E não é fácil lidar com isso! Não sei, é meio que uma sensação de morte. Se é que dá para dizer isso. E você entra em pânico e acorda. Mas ontem eu consegui controlar. Eu imergi na escuridão completamente.
- Como assim? O que aconteceu?
- Eu acordei.
- ...
- Bom. Não acordei no sentido de despertar. Mas num sentido mais amplo entende? Como se eu realmente tivesse ganho consciência. Ou talvez eu a tivesse superado. O fato é que, de repente, tudo ficou claro para mim. Não sei quanto tempo se passou, sinceramente, mas eu fiquei ali, deitado na cama, de olhos fechados, imerso. Como se eu tivesse entrado em algum lugar obscuro, e eu não precisava mais de palavras, porque eu sentia tudo. E eu conseguia ver todas minhas memórias, andar por elas, revivê-las, abandoná-las. E eu sentia, conseguia sentir tudo, ao mesmo tempo que não sentia nada. Mas eu sentia, não pensava. É dificil.
- Cara, que drogas você andou usando?
- É díficil por em palavras! Mas foi uma experiência única. E eu abri os olhos! E pude ver na escuridão e eu percebi que a escuridão, na realidade, é apenas outra luz. Uma luz que nos condicionamos a não enxergar! Percebi que o mundo, o mundo que acreditamos real é apenas uma simplificação tola, e uma simplificação que acreditamos fazer sentido. E ai aconteceu algo fantástico.
- Foi aquele seu chá com uísque?
- Não cara.. Eu não tava usando nada. E eu ponho pouco uísque no chá você sabe.
- Sei.. Aham.
- Então, deixa eu terminar. Porque eu levantei. Levantei naquele estado, que não sei como chamar, super-consciência talvez? Eu levantei, olhei em volta e olhei para tras, porque eu queria acender a luz, e sabe o que eu vi? Eu vi a mim mesmo, deitado na cama e tomei um susto! Eu estava separado de mim mesmo!
- Caraaa.. Caraaa. O que você colocou no seu chá?
- Eu estava ali, me observando. Mas, o mais estranho é que eu não me assustei, pareceu tudo tão óbvio, tão natural. Tudo fazia tanto sentido. Mas foi então que eu senti as verdadeiras trevas, a verdadeira dor. Eu comecei a ser sugado. Algo começou a me puxar. Eu me senti como se estivesse sendo sufocado, e de repente... eu fui expelido, torturado, aprisionado. E eu estava acordado novamente. Respirando de maneira ofegante, todo suado, na minha cama. E tudo parecia tão pálido, tão falso. E eu me sentia limitado. Não conseguia mais ter acesso aquelas coisas, eu não conseguia mais. Eu não conseguia lembrar quase nada do que eu havia experienciado. Parecia tudo como um sonho.
- Mano! Cê ta loco!
- Todos estamos...

sexta-feira, 17 de junho de 2011

schwarz-Code

a missão de john era simples. como soldado aliado, disfaçado convenientemente, ele deveria caminhar por berlin com uma carta no bolso. esta carta continha informações assinadas por mim, um general americano, e instruíam um ataque surpresa feito por soldados infiltrados na capital alemã. obviamente as informações eram falsas, um engodo. john recebeu uma boa quantia de dinheiro e deveria caminhar por berlin na missão mais simples e prazerosa que um soldado podia receber. deveria embebedar-se, arrumar uma briga, acabar morto. a carta cairia nas mãos certas uma hora ou outra. mas john tinha uma amante em berlin e alterou um pouco os planos. depois de um dia todo nos braços da amada, decidiu dar o dinheiro a ela e fingiu-se de louco. se jogou da janela. seu plano era igualmente bom. mas ele não contava com um coração partido. ela buscou em seu corpo alguma lembrança e assim achou: um lenço, um lenço que estava no mesmo bolso da minha carta. ela leu a carta. ela entendeu do que se tratava e, querendo honrar o soldado morto recém-descoberto, guardou-a.

não. não pode ser isso. o corpo estava na calçada. ela gritava da janela. a multidão se acumulava em torno do corpo espirrado. algum vagabundo aproveitou para apalpar os bolsos do morto, levando o dinheiro e a carta na pressa. passou por uma lata de lixo e se livrou daquele papel inútil. ou talvez tenha embrulhado o dinheiro no papel: um acabou no caixa de algum prostíbulo e o outro no lixo, escarrado talvez.

não. deve ter se perdido antes. a amante precisou do lenço para limpar o nariz. desatento, deixou cair a carta. a moça quis saber do que se tratava. ele atirou o papel no lixo para que ela não descobrisse seu disfarce. esqueceu de pegá-la antes de saltar para a morte.

será que ele traiu-nos? apaixonado pela alemã, decidiu queimar a carta para que ninguém a encontrasse. mas por que se matar? se ele simplesmente ignorasse a missão e continuasse vivendo com ela não teríamos como puni-lo até o fim da guerra, tempo suficiente para uma fuga muito bem sucedida. não. o que me faz pensar que ali seria a casa da amante? teria sido assassinado então, como previa o plano. o assassino rouba-lhe tudo o que tinha nos bolsos.
***
não adianta divagar. o plano falhou. não sei porque, mas sei que foi a mulher que tomou nosso sucesso. john era capaz de fazer qualquer coisa por ela.
***
abri a porta e encontrei john com o sorriso mais lindo do mundo no rosto. depois de um beijo demorado perguntei-lhe se ele me amava. ele disse que sim. perguntei se faria qualquer coisa para provar. em um daqueles seus ímpetos inconsequentes, ele tirou um papel do bolso e enfiou-o na boca. entre uma mordida e outra, perguntou-me se comer papel era suficiente. eu, risonha, disse que não. ele então levantou engolindo o papel e foi para o fogão onde começou a queimar um bom maço de dinheiro. gritei pedindo que parasse, que a brincadeira tinha perdido a graça. eu precisava de dinheiro. ele continuou olhando para o fogo, hipinotizado. pulei em seu pescoço tentando salvar algum trocado. ele acabou queimando-me a face com a espátula que usava para manter as notas na chama. num ato de raiva, dei-lhe um tapa, ao qual ele revidou, me derrubando com sua força. ao ver-me no chão, de face ensanguentada, perdeu a cabeça de remorso e se jogou da janela da sala que estava aberta. se ele não o fizesse eu o teria pego pela gola e feito eu mesma com que voasse para a rua.

terça-feira, 14 de junho de 2011

personagem

Tomou um soco do silêncio por não mais acreditar em suas poesias vazias. Quinze minutos depois, berrava o despertador, lembrando de forma estridente o recomeço das responsabilidades, adquiridas e impostas. Era um poeta de escritório, quase burocrático, entre encaminhar ofícios, responder emails e jogar paciência no computador encontrava algum tempo para rabiscar seus poemas em verso livre. Apesar de tentar aprender métrica, desistiu por falta de gosto, ou melhor, falta de persistência e habilidade afirmadas como predileção pela "total liberdade de criação", e assim seguia o tortuoso curso de sua intuição poética até ser requisitado para elaborar uma estimativa do consumo de papel A4 para o mês seguinte. Aconteceu de reler seus poemas em uma sexta-feira após o trabalho em que preferiu não ir ao bar com os colegas, uma falta de dinheiro disfarçada como excesso de cansaço e auto-afirmada como possibilidade de dar vazão à inspiração literária. Releu seus poemas, refletiu, encarou um caderno em branco comprado há algumas semanas e ficou praticamente imóvel e acordado, os cotovelos apoiados na mesa da cozinha com as mãos como suporte para o peso da cabeça. Assim permaneceu até o despertador iniciar seu ritual. Ao menos era sábado, e um sábado de folga, foi ao quarto, desligou o despertador, retornou à cozinha, amassou seus poemas, queimou-os no fogão, fechou o caderno, levou-o consigo até o quarto, enfiou-o na gaveta do criado-mudo ao lado da cama, deitou-se e ficou a pensar em quando conseguiria um aumento de salário.

domingo, 12 de junho de 2011

Ariel e Prudence

Personagens pertencem a uma amiga =P. Desenhei baseado numa história que ela escreve.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Tradução - Fala do Filme Waking Life

- Conhece o ditado: Sonhos são reais enquanto eles duram? Não poderíamos dizer o mesmo para a vida? Então, existem vários de nós pelo mundo afora mapeando a relação corpo-mente dos sonhos. Nós nos chamamos Oneironautas, somos os exploradores do mundo do sonho. Sério, isso é sobre os dois estados opostos de consciência que na realidade não se opõe. Veja, no mundo despertado, o sistemal neural inibe a ativação da vivacidade das memórias. Isso faz sentido para a evolução. Seria uma má-adaptação a imagem perceptiva de um predador ser confundida com a memória de um predador e vice-versa. Se a memória de um predador invocasse uma imagem perceptiva nós saíriamos correndo pela porta sempre que tivessemos um pensamento assustador. Por isso você tem seus neurônios serotonicos inibindo alucinações. Eles mesmos são inibidos durante o sono REM. Percebe, isso permite ao sonho parecer real enquanto previne competição de outras processos de percepção.
Está é a razão pela qual sonhos são confundidos com a realidade. Para o sistema funcial de atividade dos neurônios que criam nosso mundo, não há diferença entre o sonho de uma percepção e de uma ação da real percepção e ação desperta."

"You know they say: Dreams are real as long as they last? Couldn't we say the same thing about life? See, there's a lot of us that are out there mapping the mind-body relationship of dreams. We're called the Oneironauts, we're the explorers of the dream world. Really, it's just about the two opposing states of counsciouness which don't really oppose at all. See, in the waking world, the neuro system inhibits the activation of the vividness of memories. This makes evolutionary sense. It'd be maladapted for the perceptual image of a predator to be mistaken for the memory of one and vice versa. If the memory of a predator conjured up a perceptual image we'd run off the back whenever we had a scary thought. So you have your serotonic neurons inhibit hallucinations. They themselves are inhibited during REM sleep. See, this allows dream to appear real while preventing competition from other perceptual processes.
This is why dreams are mistaken for reality. To the functional system of neural activity that creates our world there is no difference between dreaming a perception and an action and actually the waking perception and action."

domingo, 5 de junho de 2011

Consideração Sobre o Primeiro Problema da Observação

Bleh.

Pensando um pouco sobre o assunto, devido a conversa com algumas pessoas por aí sobre meu Primeiro Problema da Observação (http://intelectuaistransgenicossatanicos.blogspot.com/2011/05/primeiro-problema-da-observacao.html), principalmente com o Zé (desse Blog) talvez. Bom, em grande parte, esse post é escrito baseado na última conversa que tive com ele. E minha questão é tentar deixar mais claras minhas idéias no post mencionado acima. Bom, iniciemos esse processo doloroso:

Bom. O Primeiro Problema da Observação é ver o objeto pelo o que ele é. Mas, isso não implica em falar numa visão objetiva, mesmo porque, eu não acredito nisso. Toda visão, a partir do momento que é realizada por um indivíduo, e ela só pode ser gerada por um sujeito, é subjetiva. Ou seja, o problema da observação é tentar compreender como essas características subjetivas se manifestam. Não para eliminá-las, mas para poder ter, em certa medida, uma maior liberdade. Não é possível separar o Observar do Sentir, essas duas ações se manifestam em conjunto. Quando olhamos, temos nossos sentimentos presentes, temos toda a situação do momento, temos influências várias. Tudo se conectando com nossa visão, e fazendo-nos ter uma impressão do objeto que olhamos. O Observar implica em tentarmos reconhecer esses sentimentos envolvido, essa situação, essas influências, esse é um primeiro passo para termos uma visão mais apurada. Uma visão que permita com que tenhamos uma maior capacidade de ação. Mas nunca eliminar a subjetividade ou buscar a objetividade. Mesmo porque, o real só existe enquanto percepção. E toda percepção tem um individuo na origem.

É complicado. Não sei se o que digo faz sentido nem para mim. Ainda preciso deixar essas idéias sedimentarem um pouco. Enquanto isso posto-as no ITS para não esquecer.

sábado, 4 de junho de 2011

Diálogo 3 ou a Primeira Consideração Errônea Sobre o Problema da Observação

"I told her not to leave me. and still, i can't forget that yellow scream."

ramón: cara, pára por aí, como um grito pode ser amarelo?

pablo: é possível. eu conversei com um amigo meu essa semana sobre isso. luz e som são ondas certo? eu sei que são ondas diferentes, mas são ondas. existe um meio de manipular a frequência e a velocidade da onda, exagerando de tal forma estas duas características tornando-as similares.

ramón: ...

pablo: então..mas isso não faz diferença..eu digitei errado. Quis dizer "yellow cream". mas como eu disse..tem como você alterar as ondas que "tornam" o creme amarelo e você teria um pudim agudo, ou em dó sustenido. na verdade, eu fico pensando se isso que eu vejo e que meu cérebro entende como "você" é você mesmo. quer dizer, não acho que você exista sem mim para averiguar sua existência, porque eu acho que uma árvore que cai na floresta sem ninguém pra ouvir não faz baralho. barulho. baralho porque acho que um baralho só é dado como embaralhado se você verificar que ele não segue mais o padrão anterior. então, as vezes acho que "você" não é "você" porque pode ter alguém manipulando o que chega aos meus sentidos.

ramón: ...

pablo: ah! você depende de mim para existir.

ramón: e você? depende de mim?

pablo: não.

ramón: porque?

pablo: porque eu sou deus. tome esta praga para seu povo. sofram.

ramón: você não pode fazer isto. deus é uma criação humana.

pablo: posso sim. sofram. pergunte a sua família como dói a mordida destes patos incendiários que enviei ao seu planetinha. sabe, eu fiz isso aí em 6 dias. e tirei um dia pra não fazer nada.

ramón: [murmurando] what the fuck...

pablo: to brincando cara.. =D

ramón: que parte?

pablo: a de que eu tirei um dia pra não fazer nada. agora eu vou espalhar lepra. acho melhor você ficar por aqui mesmo.

ramón: posso?

pablo: tudo bem. faço uma piscina pra gente tomar sol.