segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Controle e incontrole

1.
O medo ancestral maior brota dos lugares mais evidentes.

2. Este natal esteve uma merda, como de costume. Ingerir certos brinquedos ilusionistas, mostrou-se como única saída para não cair na imbecilidade vergonhosa, inevitavelmente motivada pelos conversórios das gentes velhas. E depois comer pra caralho, até arrebentar o cu da buceta do estômago.

3.
A: - Mais que chuva! Será que enxe esse rio? Enche ou num enche, hein? Será?
B: - Enche da rola

4.
A: - En_er é com x ou com y?
B: - y?!

5. Treinos de estética palavrória podem ser entendidos como escatologias gratuitas motivadas por impotências reprimidas. Em partes, tem-se aí uma pena.

6. A oficina do diabo, quando menos se espera, é abastecida pelo tédio. Cabeça vazia não dispara em

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Ideologia como instância superestrutural ampla pra caralho

Nos dois primeiros bancos no interior de um ônibus que se desloca lentamente em meio ao engarrafamento, dois trabalhadores pelegos comentam o inconveniente:

Trabalhador 1: - Por que esse busão não anda, Jesus Cristo?

Trabalhador 2: - É que tem uns vagabundos sentados na frente da Prefeitura, fechando a rua protestando.

Trabalhador 1: - Protestando o quê?! Vai arrumar o que fazer...

Dois bancos mais atrás, dois estudantes engajados ouvem a conversa e comentam entre si:

Estudante 1: - Olha só... por que esses pobres não usam essa insatisfação para derrubar as opressões dominantes? Mas não! Ficam aí dividindo a classe, incapazes de demosnstrar solidariedade à luta ...

Estudante 2: - É.

A conversa continua nos bancos da frente

Trabalhador 2: - É o pessoal da saúde que foi mandado embora. Agora ficam aí sentados no meio da rua.

Trabalhador 1: - Saúde?! desse jeito parece mais pessoal da doença...

Trabalhador 2: -Não tem jeito, hoje em dia quem quer trabalhar tem que ser qualificado. Tem que estudar, se esforçar... Se não é mandado embora e quer reclamar. Eu saio às 4 da manhã, passo o uniforme, arrumo a casa e vou pro curso. Depois vou direto pro trabalho. Tem que ser esforçado. Só durmo no busão, do bairro até o centro.

Trabalhador 1: - Esforçado é filho de pobre que tem que ralar desde cedo, aprende a dar valor. O resto é filhinho de papai, tem tudo na mão, aí não aprende, nunca aprende a trabalhar direito. Quem não precisa se esforçar pra ter as coisas não cria amor pelo trabalho. Sem amor o trabalho sai mal feito.

Nos bancos de trás, os estudantes engajados ouvem mordidos e decepcionados os juízos dos trabalhadores pelegos.

Estudante 1: É que nem eu li naquele texto de ontem... enquanto os trabalhadores não superarem o discurso burguês do mérito individual, eles competirão eternamente entre si por migalhas no mercado do trabalho... Só estão preocupados com suas vidinhas: chegar logo em casa... enquanto isso seus iguais estão protestando por seus direitos.

Estudante 2: É.

Estudante 1: Além disso não é só filho de pobre que se esforça... depende da consciência...

Nos bancos da frente:

Trabalhador 1: - E você tem filhos?

Trabalhador 2: - Filhos?! Nesse mundo de hoje?! Como?! Hoje em dia filho não obedece pai! É o fim do mundo.

Trabalhador 1: - Obedece sim... Tem que saber criar. Sem bater, se bater perde. Você tem que saber colocar a palavra certa, ensinar respeito.

Trabalhador 2: - Acontece que hoje em dia você dá a palavra certa em casa... aí eles vão pra rua, vão pra internet, televisão... e aprendem só o que não presta.

Trabalhador 1: - Acontece... os filhos fracos de cabeça vão pela idéia errada... Tem que largar mão deles, deixa sair pelo mundo, sofrer até aprender. Mas tem que largar de filho assim e fazer outros filhos novos. Os que têm condição de ir pra frente vão aprender o certo, enquanto que o que não presta não presta. É a natureza..

Um dos estudantes colocou fones de ouvido, o outro abriu um livro.
Quando o ônibus passou ao lado do protesto dos trabalhadores concentrados em frente à prefeitura, um dos trabalhadores de dentro do ônibus levantou-se, colocou a cabeça pra fora e gritou:


Trabalhador 1: - Vão procurar o que fazer, bando de vagabundos!!


sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Aquele paninho sujo dependurado na janela da sala de visitas continua desprendendo um cheiro forte de mijo velho, conforme passa por ele a brisa verde das colinas gramadinhas bem despostas lá ao longe...

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Memórias pretenciosas de um futuro próximo

1- O canário morto na gaiola.
Um bicho tristemente pequenininho como este ocupa uma enormidade de espaço no coração de uma família bem intencionada. Morto, o canário deixa um vazio insuperável. Nenhum canto bonito e longo irá ocultar pela manhã a miséria do sem sentido cujo fim é a morte óbvia e absurdamente inesperável.
Nietzsche, ou algum desses, disse que os canários não cantam por estarem felizes na gaiola mas, na verdade, os canários cantam de raiva. A crença de que um canário pode ser feliz vivendo numa gaiola durante anos é a prova de que é possível acreditar efetivamente, na bobagem que melhor nos convenha, por mais que, objetivamente (!!), ela seja completamente infundada.

2- "2013 seré melhor" - Gustavo Poli, 31/12/2011; 23:47

3- Então a voz da mãe misturou-se ao sabor da cachaça injetada compulsivamente no cérebro. O Jornal Nacional continuava ganhando espaço, tomando a casa toda, e a casa se reduzia a pouquíssimos espaços sem ar, sem acesso às testemunhas de Jeová e aos bandidos: chama-se tranquilidade esperar pela morte em um compartimente de um bloco de concreto onde o sol não bate bem e não se diz mais que um bom dia de elevador a desconhecidos viventes de outros compartimentos do mesmo bloco. O álcool foi lenta e progressivamente calando o silêncio interminável do irmão, nascido póstomo, no mal sentido...

4- Segundo Deleuze, escrever um romance não pode ser como escrever um relato pessoal.
E um bom romance não é simplesmente um relato pessoal comovente. Fazer com que o público alvo sinta-se comovido é propaganda ideológica, religiosa, auto-ajuda, ou campanha de marketing.

5- a construção da imagem de hitler por hollywood tornou o nazismo a expressão do mal puro na terra. consequentemente, as condições históricas a partir das quais ele surgiu foram apagadas, como se ninguém tivesse nada a ver com isso, além de uma geração inteira de psicopatas alemães.
deste modo, as donas de casa, os pais de família e os estudantes universitários, abominam os campos de concentração ao mesmo tempo em que enchem a boca para aprovar o antigo massacre ocorrido no carandiru, a pena de morte e, depois de duas cervejas, a eliminação sistemática de certos indesejáveis vagabundos, inúteis ao funcionamento de uma sociedade honesta.