quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Memórias pretenciosas de um futuro próximo

1- O canário morto na gaiola.
Um bicho tristemente pequenininho como este ocupa uma enormidade de espaço no coração de uma família bem intencionada. Morto, o canário deixa um vazio insuperável. Nenhum canto bonito e longo irá ocultar pela manhã a miséria do sem sentido cujo fim é a morte óbvia e absurdamente inesperável.
Nietzsche, ou algum desses, disse que os canários não cantam por estarem felizes na gaiola mas, na verdade, os canários cantam de raiva. A crença de que um canário pode ser feliz vivendo numa gaiola durante anos é a prova de que é possível acreditar efetivamente, na bobagem que melhor nos convenha, por mais que, objetivamente (!!), ela seja completamente infundada.

2- "2013 seré melhor" - Gustavo Poli, 31/12/2011; 23:47

3- Então a voz da mãe misturou-se ao sabor da cachaça injetada compulsivamente no cérebro. O Jornal Nacional continuava ganhando espaço, tomando a casa toda, e a casa se reduzia a pouquíssimos espaços sem ar, sem acesso às testemunhas de Jeová e aos bandidos: chama-se tranquilidade esperar pela morte em um compartimente de um bloco de concreto onde o sol não bate bem e não se diz mais que um bom dia de elevador a desconhecidos viventes de outros compartimentos do mesmo bloco. O álcool foi lenta e progressivamente calando o silêncio interminável do irmão, nascido póstomo, no mal sentido...

4- Segundo Deleuze, escrever um romance não pode ser como escrever um relato pessoal.
E um bom romance não é simplesmente um relato pessoal comovente. Fazer com que o público alvo sinta-se comovido é propaganda ideológica, religiosa, auto-ajuda, ou campanha de marketing.

5- a construção da imagem de hitler por hollywood tornou o nazismo a expressão do mal puro na terra. consequentemente, as condições históricas a partir das quais ele surgiu foram apagadas, como se ninguém tivesse nada a ver com isso, além de uma geração inteira de psicopatas alemães.
deste modo, as donas de casa, os pais de família e os estudantes universitários, abominam os campos de concentração ao mesmo tempo em que enchem a boca para aprovar o antigo massacre ocorrido no carandiru, a pena de morte e, depois de duas cervejas, a eliminação sistemática de certos indesejáveis vagabundos, inúteis ao funcionamento de uma sociedade honesta.

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