sábado, 21 de dezembro de 2013

Tentativas

1- Sempre caminhamos, apesar de tudo, para o final da noite. Chegamos a uma mesa cheia de desconhecidos. Meus olhos já cheios de um desespero emancipado da consciência identificam imediatamente as mulheres; classificatoriamente separam as feias, as bonitas, as lésbicas, as comprometidas. Meu cérebro tem a partir disso a matéria para produzir devaneios de possibilidades cuja concretização, já de antemão, desconfio ser impossível. [o que segue, neste ponto, será talvez acrescentado em uma futura edição desse texto, conforme surjam da experiência, condições para lidar com isso]. Sobre a mesa havia bolo, brigadeiro, cerveja e frituras. Tudo se misturava no meu estômago e na minha mente.

2- Ela estava lá no chão, de baixo da árvore. A barriga explodia de gravidez. Eu dei do meu bolso dois reais, "só tenho isso, moça", "tá ótimo, moço", ela me disse.

3- Nós chegamos já no início da noite. Ela estava usando um vestido amarelo esverdiado muito curto.

4- A sensação de irrealidade vai se afirmando conforme passa o dia. O calor inacreditável transforma todo o ar que ocupa o quarto, num líquido muito denso no qual o ventilador ligado no talo provoca apenas ondas minúsculas de movimento.

5- Finalmente decidimos, em vez de descer, subir sobre a plataforma. Na parte de cima da plataforma, a luminosidade forte do sol e o verde da grama  que se estendia até o horizonte produziram no cérebro um alívio. Um alívio que durou apenas até que ficasse clara a visão de incontáveis túmulos dispostos sobre a grama.