sexta-feira, 17 de junho de 2011

schwarz-Code

a missão de john era simples. como soldado aliado, disfaçado convenientemente, ele deveria caminhar por berlin com uma carta no bolso. esta carta continha informações assinadas por mim, um general americano, e instruíam um ataque surpresa feito por soldados infiltrados na capital alemã. obviamente as informações eram falsas, um engodo. john recebeu uma boa quantia de dinheiro e deveria caminhar por berlin na missão mais simples e prazerosa que um soldado podia receber. deveria embebedar-se, arrumar uma briga, acabar morto. a carta cairia nas mãos certas uma hora ou outra. mas john tinha uma amante em berlin e alterou um pouco os planos. depois de um dia todo nos braços da amada, decidiu dar o dinheiro a ela e fingiu-se de louco. se jogou da janela. seu plano era igualmente bom. mas ele não contava com um coração partido. ela buscou em seu corpo alguma lembrança e assim achou: um lenço, um lenço que estava no mesmo bolso da minha carta. ela leu a carta. ela entendeu do que se tratava e, querendo honrar o soldado morto recém-descoberto, guardou-a.

não. não pode ser isso. o corpo estava na calçada. ela gritava da janela. a multidão se acumulava em torno do corpo espirrado. algum vagabundo aproveitou para apalpar os bolsos do morto, levando o dinheiro e a carta na pressa. passou por uma lata de lixo e se livrou daquele papel inútil. ou talvez tenha embrulhado o dinheiro no papel: um acabou no caixa de algum prostíbulo e o outro no lixo, escarrado talvez.

não. deve ter se perdido antes. a amante precisou do lenço para limpar o nariz. desatento, deixou cair a carta. a moça quis saber do que se tratava. ele atirou o papel no lixo para que ela não descobrisse seu disfarce. esqueceu de pegá-la antes de saltar para a morte.

será que ele traiu-nos? apaixonado pela alemã, decidiu queimar a carta para que ninguém a encontrasse. mas por que se matar? se ele simplesmente ignorasse a missão e continuasse vivendo com ela não teríamos como puni-lo até o fim da guerra, tempo suficiente para uma fuga muito bem sucedida. não. o que me faz pensar que ali seria a casa da amante? teria sido assassinado então, como previa o plano. o assassino rouba-lhe tudo o que tinha nos bolsos.
***
não adianta divagar. o plano falhou. não sei porque, mas sei que foi a mulher que tomou nosso sucesso. john era capaz de fazer qualquer coisa por ela.
***
abri a porta e encontrei john com o sorriso mais lindo do mundo no rosto. depois de um beijo demorado perguntei-lhe se ele me amava. ele disse que sim. perguntei se faria qualquer coisa para provar. em um daqueles seus ímpetos inconsequentes, ele tirou um papel do bolso e enfiou-o na boca. entre uma mordida e outra, perguntou-me se comer papel era suficiente. eu, risonha, disse que não. ele então levantou engolindo o papel e foi para o fogão onde começou a queimar um bom maço de dinheiro. gritei pedindo que parasse, que a brincadeira tinha perdido a graça. eu precisava de dinheiro. ele continuou olhando para o fogo, hipinotizado. pulei em seu pescoço tentando salvar algum trocado. ele acabou queimando-me a face com a espátula que usava para manter as notas na chama. num ato de raiva, dei-lhe um tapa, ao qual ele revidou, me derrubando com sua força. ao ver-me no chão, de face ensanguentada, perdeu a cabeça de remorso e se jogou da janela da sala que estava aberta. se ele não o fizesse eu o teria pego pela gola e feito eu mesma com que voasse para a rua.

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