domingo, 4 de janeiro de 2015

2013-2014 (como as encontrei)

1- Dezembro de 2013

As varejeiras passam grandes bem do lado da minha orelha. Na velocidade elas fazem até um zumbido realmente enorme. Alguma coisa vai se decompondo por dentro, pela minha boca, por detrás dos olhos, preenche toda a cabeça e depois  desce pelo estômago, já vazio apesar dos evidentes exageros de que tenho sido capaz, no desespero, quando começo a enchê-lo. Nunca antes foi tão forte a impressão de que existe uma tendência infalível para que se acabe também mais este ano sem que nada saia da terrível imobilidade que prende bem junto do chão as coisas todas. Mas eu sei bem, ainda assim que as expectativas de transformação

Não existe, por enquanto acordo possível. todas as circunstâncias alteradas de todas as formas foram tornando inevitável que o pensamento se concentrasse, sob mais de um ponto de vista, em mim mesmo. Tudo se tornou, primeiro com imenso prazer, uma oportunidade de elaboração do projeto de mim mesmo. Então, meu corpo, apoiando-se fraco pelas trilhas que cortavam aquele mundo de árvores, rochas e águas profundas, e tudo isso ia antropomorfizado, de acordo com minhas disposições e conflitos obviamente mais latentes. Não chego a acordo. De repente, algo simples parece promissor. É preciso esperar, mas é, contudo, justamente do tempo que se trata agora. O que é, então, que se tornou, assim materializado esse tempo? Imagino livros que me sugiram soluções.

Como reflexão central, o que aparece é a dialética entre a produção do indivíduo e as demandas da sociedade. Logicamente, associada a essa questão central, está a hipótese de que se possa verificar a coincidência dos traços que compõem a personalidade individual de cada homem pertencente a um dado grupo da classe dominante na cidade, com alto poder de consumo; e que tais traços são compartilhados em conjunto formando assim os consensos principais sobre os quais se sustenta a sociedade. Trata-se da questão do narcisismo.

Os problemas estão espalhados por todo o meu corpo e pela minha mente. Eles se concentram ou se diluem em proporções distintas ao longo de cada tecido. Trata-se da vida; trata-se de uma dialética [...]

2- Já mais adiante

Ela passou toda enorme de vestido listrado em vermelho e branco. Andava o mais devagarzinho que podia, fingindo não me reconhecer. trazia em uma das mãos um café, na outra uma bolsa. Eu estava aqui esperando e esperando, todo bem vestido, ao meu modo. Está sol e eu uso tênis e calça jeans. Isso são fins de Março. De vez em quando me vem um nervosismo que me faz suar um pouco. Nada de mais. As pessoas estão falando suas coisas. Todas misturadas e óbvias. Eu sigo esperando. As pessoas passam todas aqui bem arrumadinhas, escondendo de si mesmas a própria estranheza. Porque as pessoas são estranhas, isso sem dúvida. Os conhecidos são poucos e eu desejo que sejam ainda menos. Que sejam às vezes zero.

3- Dezembro de 2014

O esvaziamento nunca cessa de preencher todos os espaços. Ele vai avançando pela rua, sobre as casas, se alastrando rápido através da grama amarelada. Manter algo fixo é quase impossível, por mais de cinco ou dez minutos. Nenhum conhecido eu encontrei hoje durante o dia inteiro, a não ser por alguns muito distantes que me fazem um aceno com a cabeça e, em ocasiões raras, um sorriso dispensável. No facebook, pelo contrário, todo mundo está presente, dizendo freneticamente muitas coisa. Às vezes prefiro evitar contribuir com o acréscimo de inutilidades novas. Outras vezes, diferentemente, parece que é justamente isso o que de melhor há para se fazer. O ar condicionado da biblioteca às vezes consegue me distrair por algum tempo. Assim que finalizo um parágrafo que parece ter me ocupado durante horas, é impossível para mim permanecer preso à cadeira, como sem dúvida seria recomendável que eu fizesse. É sempre complicado sair um pouco nesses dias em que me vem a convicção de que devo beber menos café. Fatalmente acabo quebrando a promessa. Graças a Deus não sou fumante ou destruiria, com bom pretexto, ao mesmo tempo meus pulmões e minhas possibilidades de escrever ao menos uma ou duas páginas por dia. Eu gosto de observar as pessoas. Elas estão cheias de defeitos tão evidentes na expressão, no modo de andar, de se vestir... Outras estão cheias de qualidades e as qualidades são todas imensamente inúteis.

Tudo está vazio. Algumas pessoas ainda passam e ao passarem dão uma sensação de que estão no lugar errado, ou só passando, realizando algumas últimas tarefas corriqueiras, mas indispensáveis, antes de irem para casa. A maior parte delas está sozinha, na típica, cotidiana, corriqueira atividade de trabalho. A mesa está quente, muito quente. Até agora pouco o sol estava assando-a impiedosamente.
  

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