quarta-feira, 13 de julho de 2011

A arte de enfiar a cara na mesma tecla até sangrar

[Televisão ligada no programa de conhecimento popular]

A: -Caraio! Puta mulher feia da porra!

B: -Pode crer... tá foda.

A: -Mulher feia é mais feia que homem feio, né, mano?

B: -Pode crer... é foda. Se bem que... Mas..., será que isso não é machismo?

A: -Não, nada a ver. Eu não sou machista, nem você.

B: -É, mas..., será que não é um machismo inconsciente, uma coisa de tradição, daquelas que a gente acredita como se fosse uma verdade evidente, quando, na real, trata-se de uma construção ideológica?

A: -Não, nada ver. Eu não sou inconsciente, nem você.

B: -Sim, tem razão. Mas..., será que a gente não acha que a mulher tem sempre que ser bonita por uma questão do lugar social de mera reprodutora que, apesar de tudo, ainda deve estar presente em nossa visão de mundo? Porque, se for isso, é claro que ver uma mulher feia é sempre mais decepcionante, à medida em que frustra nossa espectativa masculina quanto à posição da mulher essencialmente como objeto sexual. Quanto ao homem, ele é primeiramente um bom profissional, um ser racional, um ser moral; beleza física fica em segundo plano. Será? Será que é isso, hein?

A: -Nah! Nada ver, ninguém pega homem feio não

B: -Na verdade, tem um problema que antecede. Será que mulher feia é um juízo absoluto? Será que não é uma construção? Uma construção racial e de classe que existe como critério oculto da formação dos padrões de beleza feminina... será?

A: -Não, ce acha?! Eu não sou racista. Nem você.

B: -Pode crer.

2 comentários: