terça-feira, 1 de maio de 2012

Era uma vez...


Era uma vez duas pessoas sensuais que se sensualizaram com amor puro e sincero da montanha no meio do supermercado. Começou assim:
- Oi. Você por acaso sabe aonde ficam as ervilhas?
- Hum. Vai até o final do corredor, vire a direita e ande por três prateleiras e vire a esquerda.
- Obrigado. Seus olhos são tão lindos.
- Hihi. E o seu pipi é tão charmoso.
- Ui. Vamos comer pão com manteiga em casa?
- Só se eu puder levar a cerveja.
- A vontade. Mas já aviso: não tenho lasanha.
- Tudo bem, sou alérgica a moluscos.
- Moro na rua atras do Lanchão, número 678. Aqui está a chave reserva, pode entrar sem bater.
- Ok. Até +.
            Algumas horas depois, Natalia foi até o número 678 da rua atras do Lanchão e entrou sem bater, mas não sem alguma dificuldade. Era necessário certa manha para conseguir abrir a fechadura. Ela aprendeu rápido e entrou. Parecia não haver ninguém. Pensou em gritar o nome do rapaz e o teria feito se não fosse pelo fato de não sabê-lo.
            Cruzou a sala em silêncio, que era bem simples: um sofá, um rack com uma televisão, um aparelho de DVD, vários filmes espalhados, entre eles, Dogville capturou seus olhos, talvez por tê-lo visto na semana anterior e achado bem interessante. A sala tinha uma mesa redonda e bem pequena, com quatro cadeiras dispostas aleatoriamente. Em cima havia um vaso com a cabeça de um animal, um veado. Estava ficando tão na moda isso, que ela ficou um pouco frustrada. Curtia seus homens com gostos exóticos e não comuns. Flores seriam tão mais inovadoras. Entretanto, havia algo naquela cabeça grotesca que prendeu sua atenção. Os olhos mortos divergentes apontavam, um para uma janela aberta, através da qual se podia vera tardede segunda-feira e o outro um espelho, no qual era forçado a fixar sua imagem imutável, acomodada ali dia após dia. Mas do que importava isso, para os mortos não existe mais futuro e nem passado. Somente aquele presente eterno, resignado, dilacerado.
            Haviam duas portas na sala, uma estava fechada a outra levava para a cozinha. Optou pela segunda e foi direto para a geladeira colocar a cerveja. Não houve nem um problema para espaço, estava praticamente vazia. Havia uma panela com resto de miojo, uma caixa de leite, queijo, algumas maçãs e outras coisas que ela nem deu muita atenção. Ao fechar a porta, olhou em volta. A cozinha estava um brinco de limpeza, isso quase a fez ter um enfarto. Como assim? Como ele deixa um resto de miojo na geladeira e o resto tudo tão limpo? Ela não podia aceitar isso. Precisava cuidar daquilo agora, era o minimo que o senso de limpeza virginiano dela exigia.
            Pegou panelas, abriu as prateleiras, tirou os ingredientes que precisava, começou a preparar uma bela macarronada, deixou o molho cair no chão de propósito e sorriu quando o óleo dos quibes espirraram em tudo. Pegou copos e encheu com coca, e os esvaziou na pia. Mas deixava um restinho. Espalhou esses copos estratégicamente pela cozinha, e um deles colocou na geladeira, por que não? Terminou de fazer a macarronada, serviu dois pratos e jogou a comida deles no lixo, mas não sem deixar um pouquinho para tampar o filtro na pia quando os colocasse lá. Começou o arroz e a fritar uns bifes. A cozinha estava ficando tão maravilhosa que nem podia acreditar. Jogou um dos quibes no teto, só por brincadeira, os outros foram pro lixo também, mas não sem passar por um prato antes, junto com um pouco de arroz.
            Quando Natalia terminou com a cozinha, ela estava imunda. Nem parecia a mesma de quando havia entrado. Ela sorriu, estava perfeita. Pegou os bifes, colocou no prato e levou para a mesa, abriu uma cerveja e começou a beber, já estavam geladas. Sentou-se ali e esperou. Quando chegou no meio da lata mais ou menos ele apareceu. Veio do quarto que ficava do lado da sala. Olhou em volta e gritou:
- Está louca?
- Não... Por que?
- O que você fez aqui?
- Dei um jeito de leve na sua cozinha ué.. Você não arruma nada.
- De leve?! Como assim de leve? Você a deixou perfeita! E você nem me conhece. Meu Deus! Meu Deus! Você é perfeita.
- Hihihi. Não é para tanto.
- Po! Não precisava, a gente nem se conhece...
- Ainda! Coloquei as cervejas na geladeira. Pegue uma e vamos comer esses bifes.
- É pra já.
- Ah. Esqueci de pegar as colheres, faz o favor.
            Ele pegou a cerveja e trouxe duas colheres. Devoraram os bifes, esfomeados como estavam. Beberam as cervejas durante toda a tarde, conversando e descobrindo tantas coisas similares entre si que era até assustador. Quando perceberam, já era de manhã e tinham feito sexo a noite toda, tão pacifica e carinhosamente que a cama até quebrara. E ficaram ali, abraçados, sem saber o que fazer. A verdade é que não queriam fazer nada. Só ficar ali, e ali ficaram. Viveram felizes para sempre durante 2 anos, quando as brigas começaram e três meses depois se separaram. Deixaram de amar um ao outro para voltarem a amar a si mesmos apenas.

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