segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Memento Mori

Ele sempre se sentava ali, o velho, naquele banco vazio. Me lembro uma vez, quando caminhava por esta praça, ele me chamou a atenção dizendo: "Uma história só vale a pena se tiver alguém para ouvi-la...ouvi-la." Repetiu o final pensativo. Talvez ele tivesse uma história para contar, mas ninguém estava disposto a escutá-la. Eu não estava, continuei meu caminho. De novo e de novo. E sempre via o velho ali, com sua bengala, falando sozinho. As pessoas passavam longe. Eu também. Mas não mais. Não está mais ali. O banco está vazio agora. Solitário no meio da praça. Estará morto?

É triste. Mas hoje, sentado nesse banco, pareço compreender o velho. As pessoas passam e me ignoram. Eu também tenho uma história que quero contar debaixo desse sol. Mas as pessoas apenas passam e me ignoram. Ninguém para me ouvir. Será que cheguei no fim? Será que estou acabado? Mas eu quero dizer algo, realmente quero, sinto dentro de mim essa angústia, como um dragão preso se rebelando. Ele destrói e corrompe. Sinto vontade de destruir tudo. Quebrar todos os vínculos e chorar. Mas eu nunca dei a chance. O velho estava aqui um dia, ele queria ser ouvido, e eu era uma das pessoas que passavam. Agora sou uma das que permancem. Aqui. Para todo o sempre.

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