sábado, 18 de dezembro de 2010

Natal

Peru de Natal. Menino Jesus. Pinheiro de plástico. Neve de plástico. É tempo de comprar presentes: a segurança do shopping center e o reforço policial nas ruas comerciais da cidade permitem que novamente o espírito do Natal brote dentro de cada coração. Mas para ganhar presente é preciso ser bem comportado. Por essa razão o menino que fumou crack o ano inteiro, e ainda bateu carteira, fica sem presente, e o menino que tirou boas notas na escola, e ainda foi campeão no clube de natação, ganha vídeo game novo.
Papai Noel. Filmes natalinos. Família reunida. Amor ao próximo. Na ceia de Natal a classe média supera em torno do peru a inveja, a falsidade e as intrigas familiares construídas ao longo de um ano inteiro de convivência medíocre. O Natal é tempo de perdão e solidariedade.
Trabalho de escritório. Trabalho mal pago. Assalto no semáforo. Polícia. Novela. Dormir debaixo da ponte. Jornal Nacional. Miséria. Infelizmente, uma hora chega o momento de retirar árvores de Natal e desmontar presépios, e tudo continua como sempre esteve. A sociedade se prepara novamente para corrigir as crianças mal comportadas, e ajudá-las a serem merecedoras de bons presentes da próxima vez...
Feliz Natal!

Texto que seria públicado na Revista Miséria nº 5, caso ela fosse publicada antes do Natal. Mas isso não aconteceu...

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