quinta-feira, 24 de março de 2011

rogéria

"se hoje teu café amanhecer gelado. se hoje tua mulher dormir do lado errado." Waldo ouvia essa música, achando irônico o fato de sua mulher ter morrido dois dias atrás com uma jarra de café na mão. saiu pra rua sem saber onde chegar e chegou ao supermercado, onde comprou macarrão e molho com sardinhas, sardinhas pré-cozidas, sardinhas cozidinhas, sardinhas salgadinhas. waldo,Waldo, para de buscar sentido em tudo, waldo. tua mulher te amava, waldo. eu sou o gênio que mora na tua cabeça, walwal. larga dessa cesta cretina de supermercado e sai pra rua de novo. observa o verde, waldo, observa o azul dos carros. o céu tá cinza, não é lindo? olha pro sorriso da moça que quer pegar na tua mão, waldo. sorriso de ouro, sorriso interesseiro. passa reto, waldo. olha o ônibus e todos que se apertam nele. olha tudo pq vc vai ficar cego, waldo. agora sente o cheiro do mendigo bêbedo, caído, desprezado, fodido, comido, sem comer. fica de pau duro, waldo. tá ouvindo? corre, waldo. corre e sente o suor escorrer que eu serei teus olhos. não é maravilhoso? esfrega a mão na terra, waldo. lambe a ponta dos dedos e sorri, chora, waldo. sinta tudo que esse bairro pode te proporcionar e vc nunca aproveitou. waldo, ouve, waldo, ouve. ouve a árvore crescendo e as formigas a cantar. corre, waldo, corre porque serei tuas pernas. volta pra casa. abre os braços. abraça o mundo. mata tua mulher. toma, waldo. seu corpo é teu de novo. mata tua mulher e enterra ela no quintal. se fode aí, waldo. certas coisas apenas acontecem.

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