quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Variação: Post anterior, Nietzsche, Metallica

Faço uma brincadeira, mas sem a genialidade de idéias e escrita do nosso amado rcma.

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Acordou. Tivera um sonho estranho, ou seria um pesadelo? Nele estava bem mais velho, sem parte de seus cabelos e com certa barriguinha. Tinha dois amáveis filhos e uma esposa. Não entendia o porquê, tal visão deveria ser feliz, mas havia algo de sombrio nela, não compreendia o quê. Deitou-se novamente, mas, mal se re-aconchegou na cama e o despertador começou a tocar. Eram sete horas. Precisava ir para o escritório. Deu uma bufada. Mas era sexta. E toda sexta rolava um barzinho depois do expediente.

Tudo transcorrera como sempre e teria sido um dia tão normal como qualquer outro. Mas, no bar, algo estava diferente, a secretária do chefe havia finalmente aceito ir com o pessoal. Era bonita e tinham aproximadamente a mesma idade. Olhava para ela enquanto tomava sua cerveja, nunca haviam conversado, a não ser algum cumprimento ou outro. Divagava como seria sua vida com ela: já imaginava a cara de seus amigos ao vê-lo com tal beleza; os lugares aonde a levaria,... De repente se lembrou do sonho. Não completamente. Mas tudo isso deixou de fazer importância quando a viu sorrindo. Sorria para ele. Mandou todos seus pensamentos pro inferno e decidiu ir para o lado dela.

Acordou. Tivera um sonho estranho. Nele havia dormido com a secretária do chefe. Virou-se na cama e sentiu algo. Não fora um sonho. Ela estava ali, do seu lado, perfeita, podia sentir seu leve perfume, o calor do seu corpo. Sorriu como nunca. Saiu da cama com cuidado e foi até o banheiro. Lembrou-se que, alguém, em algum lugar havia escrito: “As coisas simplesmente acontecem, porra!”. E riu alto.

Logo teriam gêmeos. Ele havia sido promovido. Achava que seu salário podia sustentar a família. Decidiram que ela ficaria em casa para cuidar das crianças. Não era mais a mesma deusa de anos atrás, mas ele também havia mudado. Evitava cortar o cabelo muito curto para esconder as entradas. Também não tinha mais aquele físico de antes. Não se importava. Pensavam no futuro dos filhos.

Acordou, tivera um sonho estranho. Mas nem teve tempo de refleti-lo. Precisava levar os moleques na escola antes de ir para mais um dia de trabalho. A mulher nem estava mais cama, já havia levantado, preparar o café-da-manhã. Olhou-se no espelho enquanto se arrumava. Já não era mais o mesmo. Estava completamente mudado.

Chegou ao trabalho, cumprimentou a secretária do chefe. Ela lhe retribuiu com uma risadinha que o teria deixado excitado anos atrás. Trabalhou. Observou pela porta entreaberta do escritório enquanto um dos novos estagiários conversava alegremente com a secretária e pensou no passado. Trabalhou. O que havia feito da vida? Trabalhou. Quem era ele? Trabalhou. Vivia ainda? Trabalhou. Gastou oito horas do seu dia. Tudo mecanicamente. Viu a secretária indo embora. Deu-lhe um sorriso. Ela retribuiu. Mas precisava saber quem era. Essa noite. Estava decidido. Não voltaria para casa. Precisava de alguma verdade nessa falsidade. Fechou a porta e saiu. Dentro do escritório escuro, a ausência continuava a se expandir, infinitamente.

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"[...] Nosso destino dispõe de nós, mesmo quando ainda não o conhecemos; é o futuro que dita as regras do nosso hoje."
Nietzche, Friedrich. Humano, Demasiado Humano. SP, Companhia de Bolso, p.13.


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"Careful what you wish

Careful what you say

Careful what you wish

You may regret it"

Metallica - King Nothing


http://www.youtube.com/watch?v=gq9iCBUxeJE&feature=fvst





Um comentário:

  1. Três sonhos: o primeiro dialoga com a realidade vivida pelo personagem no terceiro, este, por sua vez, é simplesmente não rememorado no despertar, mas que está expresso na situação "premonitória" do primeiro; o segundo é a constatação onírica de uma noite feliz, alguma realização em uma vida de merda, o personagem acorda e pode continuar em seu "sonho", mesmo que por pouco tempo, pois as coisas apodrecem...

    "careful what you wish"... sonho e desejo... interessante. meus sonhos são bem aleatórios, isso quando lembro-me deles, o que é raro. Seriam meus desejos aleatórios?

    Meu futuro é chafurdar... por aí.

    Sua conclusão deixa menos explícita a radicalização do personagem; e não é ele quem está narrando os acontecimentos. (Narrador onipresente de merdis). Ele continua sendo (o personagem) vazio, mas não sabemos até onde ele compreendeu esta situação nem como pretende lidar com isso.

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