segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Relato objetivo de uma certa tarde

No buteco da esquina perto de casa sempre tem vários velhos sozinhos. Velhos tristes solitários. Fico pensando: quem são esses velhos? "São o futuro", diz meu lado fatalista/destrutivo. Um velho começou a contar histórias sobre a cidade de antigamente: "Isso era Campinas, só boizinho passando." - tomei nota. Ele dizia isso pra ninguém. Ao lado dele estavam um velho mais velho que ele e o moleque que trampa no boteco. Moleque de seus 18 ou 19 anos, essa juventude ridícula de hoje em dia... Ridícula, mas não degenerada. Escolho bem os adjetivos. Não é degenerada porque, afinal, quando é que foi menos ridícula? Cada tempo tem seus prórpios imbecis, formados de acordo com a tradição que lhes diz respeito.
Nem o moleque, nem o velho mais velho davam atenção às memórias do velho que contava histórias antigas da cidade e ria sozinho de coisas absolutamente sem graça.
Porque esses velhos tristes e solitários lembram de coisas tão antigas e desinteressantes? Acho que é porque eles não têm nada além disso. Prestei atenção: o velho mais velho e o moleque ignoravam o máximo que podiam, na esperança de que fosse interrompida a narrativa. Então, o velho que contava histórias parava um pouco, e ficava olhando pro chão vazio. Pensei que eu poderia intervir, "ei, velhote! o que é, afinal, a vida?", ele me olharia espantado. Eu não daria tempo pra que ele formulasse resposta, "velhote, pra onde o senhor pensa que vai depois de sua morte?" sem compaixão!
Então me canso do bar e volto pra casa. No caminho de casa tem uma farmácia, onde trabalha uma moça bem bonitinha. Passei e olhei pra ela. Pensei que um dia eu vou entrar na farmácia, parar diante da estante de camisinhas e pensar, por uns 10 minutos. Ela vai olhar pra mim de canto d'olhos e pensar: "safadinho". É que hoje em dia existe uma variedade tão grande de tipos, marcas e preços de camisinhas, que é preciso pensar bem antes de escolher. Então, finalmente, vou escolher uma sabor framboesa e colocar em cima do balcão. Depois, olharei dentro de seus belos olhos castanho claros e soltarei: "que vai fazer à noite, princesa?"
Não tem como não dar certo!

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