terça-feira, 4 de maio de 2010

Condição Humana

Joãozinho andava numa fase muito estranha. Sentia que, enfim, todas as suas idéias tinham acabado. No começo isso foi tão frustrante, que Joãozinho passou a roubar idéias dos outros sempre que podia. Para seu imenso pesar, entretanto, nem isso resolveu, pois sua criatividade, antes tão invejável, também tinha finalmente se esgotado toda. Isso quer dizer que nem usando as melhores idéias dos outros conseguia formular bons gracejos e trocadilhos. Então ficou na bad trip.
Joãozinho, desmotivado, começou a dormir demais, e sofria pelas manhãs, ao ser forçado a levantar da cama e enfrentar o mundo:
- Como, caralhos, posso enfrentar o mundo se minha cabeça está vazia de idéias?! - dizia, cuspindo espuma no espelho, enquanto escovava os dentes sem criatividade.
Como se vê, Joãozinho estava ficando meio nervosinho com sua situação. Ia pra escola dormindo no ônibus, depois na aula, na biblioteca, etc.:
- Putaquepariu! Só durmo!
Aí, encontrava seus colegas na cantina, e não conseguia deixar de ofendê-los:
- Oi Joãozinho!
- Oi Mariazinha! Tá gordinha hein!
E assim era a tarde toda. Entre uma dormida e outra na biblioteca, ia até a cantina tomar um café para espantar o sono e ofender os amigos.
Um dos amigos de Joãozinho era Joaquim. Muito inteligente e muito melancólico. Debatia a condição humana numa rodinha de pessoas inteligentes e melancólicas à qual se juntou por um tempo Joãozinho, bocejando. Joaquim estava dizendo que nas sociedades em que predomina o modo de produção capitalista industrializado, as pessoas são infelizes porque ao venderem sua força de trabalho ao detentor dos meios de produção, deixam de ter relação orgânica com o trabalho e com os produtos que dele derivam. Ao mesmo tempo, argumentava que a racionalidade burguesa moderna separa todas as esferas da vida em categorias autônomas, promovendo progressivamente nas pessoas a alienação de si mesmas.
- Capitalismo é o caralho! - respondeu Joãozinho - Seu problema é falta de buceta!
Os amigos começavam a desconfiar que algo de estranho estava levando Joãozinho a simplificar o entendimento da condição humana no capitalismo.

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