quinta-feira, 22 de julho de 2010

Adversidade .4

Meu vizinho se fudeu, ultimamente. Tinha uns 50 e poucos anos, vivia com seus filhos e com um cachorro muito pequeno chamado Minsk. O cachorro era tão pequeno que não dava nem pra saber com certeza se ele existia realmente. Os filhos perderam a voz e a visão por causa da poeira dos arquivos históricos, quando pesquisavam uma documentação muito antiga sobre o movimento operário. Isso significa que esse vizinho falava muito pouco com eles, pois do jeito que as coisas estavam quase nunca se podia obter respostas coerentes.
Mesmo assim, nem tudo estava perdido, pois havia Minsk, o pequeníssimo cachorro, que apesar do tamanho ínfimo, tinha alegria... in-fi-ni-ta. Então, o tal vizinho chegava do trabalho e era recebido por Minsk, que pulava sobre ele. O cachorro entrava no bolso da camisa e fazia "hoa! hoa!", "Como vai, Minsk?", "hoa! hoa!", "Como foi seu dia?", "hoa! hoa!" E o diálogo continuava assim durante toda a noite. Os filhos permaneciam no sofá, diante da tv, pois, evidentemente, não viam a chegada do pai. De qualquer modo, não poderiam dizer-lhe nada, a não ser que encontrassem um modo razoável.
O vizinho se fudeu de verdade, quando certa vez adormeceu no sofá, diante da tv. Minsk, que era muito apegado, dormia ao seu lado, como já era costume. O que fudeu é que justamente nesse dia, o sono do tal vizinho era pesado demais. Tão pesado que, sonhando sobre problemas do trabalho, rolou sobre o cachorro, que teve seus ossos todos quebrados. O sangue manchou a camiseta branca do vizinho, o sofá e o chão. "Minsk!", "hoa! hoa!", Minsk!", "ho.." Os filhos permaneceram em seus lugares diante da tv, pois não viram a morte de Minsk, e não poderiam dizer facilmente suas impressões sobre ela.

Adaptação/distorção/plágio do conto de Graciliano Ramos chamado "Minsk" in Insonia

2 comentários:

  1. "Minsk era também um ser disposto às aventuras e à liberdade"...

    pisoteado ou esmagado. eh! eh! hoa! hoa!

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  2. oooooopa..ooopa
    olha o minsk nas costas

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