segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Último Post

Se você está lendo essa mensagem, significa que algo aconteceu comigo. Descobri a função de postagem agendada a algum tempo atrás e é a primeira vez que a uso. Esse post só se tornará público se eu não estiver mais aqui amanhã para cancelá-lo. Ou seja, se você está lendo isso, eu já estou a pelo menos um dia morto. Morto! Ah! Só rezo para que minha morte seja rápida... Mas talvez eu esteja louco, sim, só pode ser isso. Louco! Insano! Demente! Mas se eu estiver certo é um adeus a minha última esperança.

Tudo começou no mês passado, quando ela se mudou para a casa ao lado. Chegou a noite provavelmente, pois só percebi algo diferente pela manhã, quando vi o carro na garagem. Mas não me importei. Não tinha como saber. Não.. Realmente. Vivemos nas trevas, meus amigos, nas trevas! Essa é a única verdade. Pensamos que sabemos tudo, pensamos que conhecemos a nós mesmos, pensamos que sabemos os limites! Quanta farsa, quanta mentira. Não conseguimos perceber as simples verdades na nossa frente. Mas só fui saber quem era ela a noite. Quando fui tirar o lixo. Terminei de colocá-lo na lixeira. A noite estava fresca. A luz cheia brilhava no céu, bela. Parecia me chamar, quando senti a brisa e o perfume. Senti alguém atras de mim, meu coração disparou e me virei, tomei um susto. Ela estava ali, a um passo de distância. Primeira vez que a vi, bela. A pele pálida contrastada pelos belos cabelos negros que emolduravam seu rosto, um cabelo cacheado, olhos verdes, usava um vestido vermelho.
- Desculpe. Não queria assustá-lo. Me mudei ontem a noite para a casa ao lado.

Estendeu a mão e se apresentou. Elizabete seu nome. Bela Elizabete. E o perfume, ah, me deixou atordoado. Mas se eu soubesse a loucura que essa mulher me traria, eu não teria ficado tão feliz, não. Um trouxa! Um fraco! isso que sou. Conversamos por algum tempo ali, debaixo do belo céu, abençoados pela lua. Minha alma seria dela naquele momento, se ela pedisse. Minha alma... Estou mesmo disposto a sacrificá-la? Alma. Não! Não posso deixá-la ter minha alma, é por isso que... Preciso me conter. Os fatos precisam ser ditos em ordem, só assim vocês poderão julgar se estou louco! Mas tenham uma mente aberta, porque vivemos nas trevas meus amigos. Viajamos pela escuridão. Isso é a vida. Um grande salão escuro. E o bizarro é que acendemos uma vela e acreditamos que tudo aquilo que vemos na luz fosca e limitada é a realidade! Realidade, essa palavra me faz rir! Se pudessemos acender a luz, se pudessemos deixar o sol entrar no salão, perceberíamos o quão errado estamos.

Naquela noite não consegui dormir. Estava feliz, confesso, feliz. A família ao lado, um casal e duas crianças, foram embora e agora a bela Elizabete morava ali. Bela, bela, bela. Seu perfume, sua voz. Eu sorria e girava na cama. Não conseguia dormir. Não perguntei quantos anos tinha, mas aparentemente éramos da mesma idade. Talvez alguns poucos anos de diferença. Pensava isso. Hoje penso diferente... Estou louco? Ousaria dizer que ela é mais velha, e não alguns anos nem algumas décadas,... Insano? Para você que me lê, talvez pareça um relato sem nexo. Mas chegarei lá. preciso contar os eventos em ordem. Preciso me concentrar. Mas nem o uísque que bebo me ajuda a conter meus nervos. Preciso da verdade.

No outro dia cheguei do trabalho e a encontrei de novo e conversamos de novo. Já era noite. Trabalho na cidade ao lado, e sempre chego em casa já de noite. De noite. Sim, só a noite. Estava feliz em poder conversar com ela, me fez esquecer da fome e do cansaço. E assim foi por um tempo. Eu costumava encontrá-la as vezes na frente de casa e conversavamos. Mas sempre a noite! Esse fato hoje parece de suma importância. Só depois que sabemos das coias é que damos valores específicos a eventos do passado. Só depois que sabemos... Até alguns dias atras isso seria irrelevante, mas hoje! Com tudo que penso é importante.. Mas o que faço? O que faço!? Tento encaixar fatos corriqueiros numa teoria maluca?!

Mas foi a duas semanas atras que começou... Não, talvez não tenha começado, mas foi a primeira vez que percebi. É engraçado como o ser humano tende a acreditar que suas percepções ditam a realidade. Por que eu não ouvia nada não existia nada? Ou estava apenas muito surdo para ouvir? Eu não conseguia dormir naquela noite, não estava muito bem do estomago. Ficava girando na cama, quando não estava no banheiro. E ouvi barulhos. Barulhos no telhado. Lembro que quando era criança e ouvia esses barulhos eu corria acordar minha mãe, e ela sempre me dizia que eram apenas gatos e para mim voltar a dormir. Naquele dia pensei o mesmo. Gatos. Mas será que eram gatos mesmo? Ou algo maior? A verdade é que todas as noites, quando eu estava acordado passei a ouvir esses barulhos. Gatos...

Foi na mesma semana que ganhei meu gato: Alfa. Pensei em nomeá-lo Carlo por um momento, mas decidi que não. Carlo era o nome que um amigo da época de faculdade gostaria de dar para seu gato, quanto o tivesse. Senti que estaria roubando a idéia dele, e optei por Alfa mesmo. Lembro que cheguei do trabalho com ele e a Elizabete estava ali fora. Resolvi mostrá-lo para ela, mulheres gostam de animais não? E foi quando aconteceu. Ainda tenho as cicatrizes no meu braço, que me fazem lembrar o momento que Alfa ficou eriçado, como se algo o tivesse possuído quando me aproximei dela com ele no colo. E ele correu. Não consegui segurá-lo. Correu para debaixo do carro e ficou lá. Fiquei olhando-o perplexo. Não entendi o que havia ocorrido. Mas isso me deu assunto para conversar com a Elizabete por algum tempo. O que me agradou, embora ela não parecesse muito confortável com a situação. Lógico que não estaria, ela... Demorou um tempo naquela noite até que Alfa decidisse sair debaixo do carro e inspecionar sua nova casa. Acho que a agradou, fiquei brincando com ele por um tempo até ir dormir.

Não dormi muito naquela noite, pois logo Alfa me acordou, ficou dando patadas leves na minha cara e se esfregando nela. Queria sair para a rua. Fui até a sala e abri a janela. Mas ele ficou ali parado, sentado do meu lado, olhando para mim. Devolvi o olhar, um pouco irritado. Só queria que ele saísse para eu voltar a dormir, precisava acordar cedo. Depois de um tempo, cheguei a conclusão que aquela situação não levaria a nada, e que talvez eu estivesse errado, e Alfa não quisesse sair. Levei minhas mãos para fechar a janela e ouvi-o soltar um grunhido. Olhei para ele e ele estava com os pelos todos eriçados olhando para o nada. Senti um frio na espinha, e por um minuto fiquei com medo de olhar pela janela, com medo do que veria. Mas pensei que era tudo bobeira e olhei. Pro meu alivio não havia nada. Foi então que surgiu um vulto pulando pelo muro e para cima. Escutei os barulhos no telhado e silêncio. Alfa havia sumido. Não sabia aonde ele estava. Eu tremia. Tremia. O que tinha sido aquilo? Fechei a janela e acendi as luzes. Estava em pânico. Resolvi tomar um uísque. Foi o começo. O começo da minha queda mental. Ah meus nobres leitores. Talvez vocês já saibam, já tenham teorizado tudo. Mas é possível? É possível? Mas tem mais.

Quando criança, eu sempre fui medroso. E lembro que eu costumava ver coisas. Uma vez acordei e posso jurar que havia um demônio no meu quarto, ao lado do armário. Fiquei olhando para ele em pânico e comecei a gritar pela minha mãe, que veio correndo e quando ela acendeu a luz, não havia nada ali. Apenas o armário. Hoje, penso que foi apenas um delírio infantil depois de um pesadelo. Mas será? Será que não tinha nada ali? Outra vez, também criança, presenciei algo único. Olhando pela janela de vidro da sala, eu posso jurar que vi uma sombra passando por elas. Foi rápido. Eu sai correndo, procurei meu pai, abracei ele e fiquei ali com medo. Uma sombra. Também, hoje, acredito que foi um delírio, talvez um jogo de vista, quando você passa o olho rápido por algo e tem impressão que tem algo, mas quando volta o olhar, percebe que não era nada. Mas, quando criança, esses eventos me pertubaram. Poderia nomear alguns outros mais. Mas não. Sempre pensei nesses eventos como manifestações de meu medo. Aquele medo irracional, que ninguém conseguiria entender, por mais que se tente explicar. Eu estava nessa situação. Esses vultos, delírios de infância que tanto tentei racionalizar voltavam a tona. O que eu acabara de ver pela janela não seria apenas uma passada de olho? Foi uma impressão rápida com certeza. E os barulhos no telhado? Não seriam só coincidência. Isso. Coincidência. Me convenci que era coincidência. Nessa noite, dormi com as luzes acessas, algo que eu não fazia desde pequeno. A partir de então, sempre que eu ouço um barulho deitado eu acendo a luz. Amedrontado. Alfa costuma sumir a noite, quando eu chego do trabalho, e volta de manhã, quando estou saindo. Me pergunto se isso é normal de todo o gato, ou se ele se sente mais seguro dormindo de dia e o mais longe possível de casa a noite.

Elizabete. Bela Elizabete. Contei para ela sobre essas coisas. Não deveria ter feito. Não. Não deveria realmente. Me arrependo profundamente. Talvez seja isso... Ou estou vendo coisas demais aonde elas não existem? Como quando criança, me apavorando por nada. As trevas meu amigo! São as trevas! A verdade é outra. A verdade é que quando somos crianças somos mais abertos para o mundo. Crescer é receber um vendas sobres seus olhos, ganhar restrições nas suas percepções. Será que não é isso? Será que, naquela época eu não estava mais aberto para outras possibilidades do mundo, para outras verdades? Os adultos as ignoram com certeza. E o que sou, se não um adulto? Mas não tenho como saber. Eu disse para ela. Contei sobre a noite anterior e ela riu. Me fez sentir como um tonto. E deitei mais sussegado naquela noite. Deitei rindo, pensando em como tudo aquilo não era besteira. Ilusões de uma mente em pânico. Talvez uma essência de minha alma medrosa da infância, que ainda permanecia mesmo adulto. E dormi.

Sonhava com a querida e bela Elizabete. Mas havia algo de sinistro no sonho e acordei assustado. Acendi a luz, recuperei um pouco de minha sanidade, e a apaguei de novo. Me virei, estava quase dormindo quando ouvi um barulho no quintal. Meus ouvidos ficaram mais atentos. Talvez não fosse nada. Então ouvi um barulho na janela do meu quarto, uma pancada. Pulei da cama, acendi a luz desesperado, meu coração a mil. O que era aquilo? Um morcego que talvez se chocou na janela? Estava ofegando, desesperado. Ficava olhando para ela. Mas nada. Nenhuma resposta, nenhum barulho. Desespero. Trevas. Criei alguma coragem e avancei até ela. Fiquei parado ali em frente, observando-a. Comecei a pensar que não era nada. Algum pássaro talvez. Silêncio. Meu coração começou a se acalmar, minha respiração normalizou. Foi só então que percebi o barulho, bem baixo do outro lado. Aquele som. Podia jurar, jurar que do outro lado da janela havia alguém. Eu ouvia o barulho de uma pessoa respirando, e o pânico subiu a minha cabeça. Eu estava ficando louco. O que eu deveria fazer?! Abrir a janela era a única resposta. Abrir a janela e ver o que estava do outro lado. Mas não tinha coragem. Não sei quanto tempo se passou ali, até que decidi que para minha própria sanidade só havia uma resposta. Girei a chave do cadeado. Respirei, e puxei a janela. Não havia nada. Apenas escuridão. Fechei-a e sentei na cama aliviado. Me deitei de novo e dormi, pela segunda vez com a luz acessa.

Eu estava sendo possuído pela insanidade. Mas era a doce Elizabete que me trazia de volta ao reino da razão. Contei para ela de novo minha experiência estranha. Ela me disse para procurar um psicólogo e deu risada. Me sentia como um tonto quando conversava com ela sobre essas coisas. O mundo parecia tão óbvio, tão real. As trevas se dissipavam. Meus medos irracionais iam embora. Quanta ingenuidade, existe algo de sinistro em tudo isso. Eu sei que existe e provarei. Mas antes preciso terminar meu relato. Até aqui, talvez não tenha nada demais, só minha mente perturbada. Talvez, vocês achem que eu deva ir a um psicólogo lendo tudo isso. Mas não. Sinto que eu nunca pude ver tão claramente. Eu sei o que preciso fazer.

Foi a quatro dias atras. Eu estava trabalhando num relatório em casa até tarde e tenho a mania de andar pela casa enquanto reflito. Odeio escrever. Mas é necessário... E entre um paragrafo e outro eu dava uma volta pela casa. Até que resolvi andar pelo quintal também. Estava ali, era lua cheia novamente. Maravilhosa lua, nos olhando da distância. Ela deve saber das coisas mais do que eu, do seu ponto de vista privilegiado. E eu estava ali no quintal, andando de um lado para o outro com uma caneca de chá na mão pensando quando eu ouvi os barulhos no telhado e isso fez um frio percorrer minha espinha e posso jurar que vi minha doce Elizabete no telhado da casa dela. Foi muito rápido, muito rápido. Mas a vi nos olhos e, por isso, tenho certeza que ela me viu também se ela realmente estivesse ali. Muito rápido, um segundo ela estava ali, e no outro já tinha desaparecido. Deixei a canecar cair e o chá quente queimou meu pé, embora só fosse perceber isso alguns minutos depois, quando estivesse com a porta bem fechada e sentado no meu sofá. O que foi aquilo? Real? Mesmo que fosse real, com certeza tinha uma explicação. Não conseguia explicar. Lembrei do Alfa e da reação estranha a ela. E comecei a tremer. Meu coração, minha respiração. Estava em pânico. Essa noite não dormi. E confesso que senti um alívio quando sai de manhã para o trabalho.

Esperava encontrar Elizabete e contar essa estranha história para ela. Imaginei ela me chamando de loucos, nós dois rindo juntos e eu mais aliviado. Mas não a encontrei quando cheguei do trabalho. Achei que seria muito ousado ir até a casa dela buscando conversa. Não sabia se tínhamos já intimidade para tanto. Fiquei em casa, pensando em tudo aquilo, em todas as experiências recentes. E talvez por não ter dormido na noite anterior, cai no sono ali no sofá mesmo, o dia tinha sido estressante. Acordei no meio da madrugada. Resolvi tomar um copo de água e ir para a cama. Andei até a cozinha e parei na porta, travado. A janela da cozinha dá para o quintal de casa e ela é de vidro. Não dava para ver muita coisa por causa da escuridão, mas havia uma sombra estranha ali. Meu coração disparou e eu acendi a luz da cozinha e do quintal ao mesmo tempo e gritei, gritei em terror. Ela estava no quintal. Ela estava ali, os olhos vermelhos, e os dentes, os dentes... Eu estava em pânico. Não sabia o que fazer. Comecei a rezar, rezar, pelo amor de deus! E quando abri os olhos de novo ela havia sumido. Não dormi. Fiquei no meu quarto, sentado num canto com uma faca a noite inteira, e só quando amanheceu que me aliviei. Peguei meu carro e fui pro trabalho. Deus, o que foi tudo isso? Não voltei para casa, fiquei num hotel e estou aqui até hoje, aonde estou escrevendo.

Estou louco? Estou Insano? Não! Tem que haver explicação. Tem que haver uma explicação. E eu preciso das respostas. Preciso delas. Não conseguirei viver sem tê-las. Minha mente está em agonia E eu conheço a cura. A única cura possível. Preciso voltar para casa e enfrentar a situação. Preciso investigar Elizabete, dar um jeito de entrar na casa dela, dar um jeito de saber quem ela é. Eu preciso disso! E se eu estiver certo, ah se eu estiver certo. Preciso de respostas para toda essa escuridão. E esse post será meu testamento para vocês, caso eu não volte. Não deixo nenhum bem material a vocês, meus queridos leitores, mas deixo minha insanidade.

Um comentário:

  1. porra gae..quebrando recordes aqui no its hein huahuahau e sempre aparece o uisque

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