segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

carnavalia

Pelo chão de terra batida cabeceava para um lado e para um outro uma mula atarefada em manter fortes suas já vigorosas patas e articulações. Do seu rabo pendiam farpas aparentemente muito afiadas com as quais touceiras eram flageladas como se uma brisa de lâminas as purgasse discretamente de seus pecados enraizados. A lentidão premeditada da mula era reforçada pela sua singular cara: ausência de lábios, dentes levemente amarelados expostos e cerrados, ausência de pálpebras, olhos cinzas tendendo ao branco e de uma opacidade inigualável por qualquer outro ser vivo.
jacobino chanca polixeno
O lago mudou muito nos últimos 453 anos, suas águas antes transparentes, que permitiam uma ótima visualização das pepitas de ouro e dos veios de prata em seu leito, adquiriram tons escuros e uma viscosidade semelhante a do petróleo, mas ainda assim conservaram, ou melhor, aumentaram a diversidade de sua flora e de sua fauna. Em uma margem, um pato listrado alimentava-se com pequenos diamantes para, segundos depois, defecar pó de grafite; suas listras aparentemente negras e cinzas e brancas variavam conforme ele caminhava sobre a água antes de afundar abruptamente para logo retornar a terra firme com mais uma porção de diamantes.
sopapo diuturno bruega
Ao observar o horizonte do planalto percebiam-se diversos gêiseres elevando-se às mais variadas alturas pelas planícies, águas escuras, claras, quentes, frias, muitos vapores, vez ou outra uma explosão. O artíficie de tais obras caminhava calmamente e executava com esplendor seu ofício: um tamanduá cuja língua dividia-se como uma varinha de rabdomante e aproximava-se lentamente da terra, vibrando, reagindo com o solo para que expelisse primeiro formigas e após, passados cincos minutos (mais ou menos), nascesse mais um gêiser feliz; seus pêlos mudavam de tonalidade de acordo com a quantidade de nuvens vagando pelo céu.
crack

Nenhum comentário:

Postar um comentário