terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

resenha

The Pentangle / Travelling song // Álbum: Sweet Child [1968]

Reflexos rápidos, a luz solar dançava onda-partícula com o passar dos veículos incessantes, apressados, ocupados, pela rodovia em direção aos confins de qualquer que fosse o objetivo ou a fuga, também objetiva, dos dispersos homens mulheres crianças animaizinhos. Alguns sorriam, o braço para fora, acenavam, talvez provocativos afirmando o sucesso aparente de sua pacata existência a noventa e três quilômetros por hora até a cidade mais próxima. Campinas, Rio de Janeiro, Manaus, Curitiba. Pouco importava. Impassível, por enquanto incólume, José, João ou Pedro continuava pé ante pé pé após pé em sua marcha com a única preocupação de sobreviver mais um dia não importando nem um pouco qual o destino para o qual rumava. Leste, Oeste, Norte, Sul, Esquerda, Direita, Desvio, Paradas, Maria, Renata ou Isabel pensava com vagar, ruminava suas ideias, poucas, é verdade, porém mais bem definidas e coerentes do que a maioria das lúcidas teses ou desenvolvimentos de intelectuais ou de técnicos, todos bem acomodados em suas confortáveis residências e em seus ainda mais confortáveis raciocínios.
E a certeza de chegar, pensava José, João ou Pedro, Maria, Renata ou Isabel, completada pela inevitabilidade de sair novamente é um alento. E conseguir algo para sustentar as pernas durante a caminhada, pensava José, João ou Pedro, Maria, Ranata ou Isabel, e deixar para trás outra paragem passageira é também um alento. E algum dia, pensava José, João ou Pedro, Maria, Renata ou Isabel, desaparecer sem deixar rastros, nem ao menos uma mínima memória, um retorno ao pó ausente de transcendências e esvaziado de expectativas, é a merecida recompensa.



Nenhum comentário:

Postar um comentário