sábado, 5 de janeiro de 2013

fotos muito velhas de um passado recente

Imagem I

Um sobrado. Num grande letreiro, acima da terceira fileira de janelas, lê-se "Hotel 2000". Em primeiro plano uma rodovia, ou algo que assim pareça. Um pouco ao fundo se percebe um posto de gasolina. O ambiente em torno desse hotel de beira de estrada está descuidado. Não é descuido no sentido de abandono. Talvez a construção ainda sirva como hotel. Mas quem administra e cuida daquele lugar é do tempo de quando 2000 ainda era futuro; de quando 2000 inspirava modernidade, mistério. Um velho, quem sabe.

Imagem II

Da direita para a esquerda: um par de rodas e pneus ao lado de uns tambores tombados, enferrujados; um pátio de terra batida; um ônibus velho, ou sua carcaça, tombado de lado, sem vidros, faróis, rodas. Até a tinta parece ter sido removida e reaproveitada. Chama a atenção: a única peça que restou na velha lataria, e, talvez, o único indício de que aquilo tenha sido um ônibus um dia, foi o letreiro na parte superior do buraco que antes ocupava o para-brisas. Nele, através de um vidrinho empoeirado, lê-se "SUMIDENSO", em letras exageradamente grandes, como se fosse um lugar onde não se deveria ter dúvidas sobre ir ou não.

Imagem III

Eu. Eu sentado no que parece ser um banco ou uma banqueta. Roupas negras: calça e camisa de mangas longas. Corpo encurvado e cotovelos apoiados nas pernas. As duas mãos se encontram e os dedos se entrelaçam de forma estranha. O que denunciam? O olhar encara a câmera, inseguro, incomodado, ou talvez seja apenas confiança excessiva. Petulância? Ao fundo um balcão com cabeças brilhantes, brancas. Cinco, das seis, estão cobertas com cabelos, claramente perucas, penteados de formas distintas. Em pé, atrás do balcão, um senhora observa a cena e parece alheia à fotografia. Em suas mãos, um maço negro que parece ter como destino a cabeça careca da fileira sobre o balcão.

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