terça-feira, 1 de janeiro de 2013

O Circo, 1928 (direção de Charles Chaplin)


A discussão principal do filme é a exploração do dono do circo sobre o sucesso de Charlie. Charlie aparece como quem não sabe que é engraçado, ele entra em no palco fugindo da polícia e a plateia ri das coisas que ele faz espontaneamente. Quando o dono do circo chama Charlie para trabalhar com ele, a sequência na qual ele aprende os números ensaiados com os palhaços reforça o sentido da graça na espontaneidade e a impossibilidade de ensiná-lo a fazer os números.

Este momento é importante pois é aí que se enfatiza a percepção do dono do circo de que Charlie não sabe que os risos e aplausos são para ele e transmite a seu supervisor que é preciso que manter Charlie trabalhando, mas sem que ele tome consciência de sua importância.

Cria-se com isso o incômodo em relação à injustiça feita contra Charlie. Outra personagem maltratada pelo dono do circo é sua filha, que por partilhar da mesma condição de exploração de Charlie, é a personagem encarregada de satisfazer o desejo de que Charlie possa ter seu reconhecimento. É ela, portanto, que diz que ele não deveria ser obrigado a trabalhar tanto e revela que todo o sucesso do circo se deve a ele e, com isso Charlie renegocia seu salário para permanecer no circo.

Neste ponto, como quebra da harmonia que mantém o equilíbrio entre a satisfação de algumas expectativas e a tensão em relação ao desfecho, aparece uma nova atração no circo, um artista que anda sobre a corda bamba, e a filha do dono se apaixona por ele no momento em que Charlie apaixonou-se por ela. Isso faz com que o sucesso de Charlie acabe, a plateia não acha mais graça em seu número. Essa situação gera uma decepção. Fica estabelecido o contraste entre Charlie, pobre e desalinhado, e o artista da corda bamba, elegante, bem articulado.

Para salvar a moça da opressão do pai, Charlie, após seu fracasso, planeja que o artista da corda bamba se case com ela. À decepção acrescenta-se mais um elemento de simpatia a Charlie, uma nobreza ingênua: Charlie sai da igreja pulando atrás dos noivos jogando arroz, conseguiu que a moça fosse agora bem tratada pelo pai. Os elementos patéticos se articulam e criam um final angustiante que contrasta com o humor investido sobre o filme inteiro. É o desfecho da construção de um personagem inteiramente espontâneo, que faz sucesso e não percebe, vive a vida de improviso. O circo todo vai embora e Charlie fica sentado sozinho no chão. Depois ele se levanta e também se vai, segue seu caminho, como se nada lhe tivesse acontecido de mal.

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