terça-feira, 7 de maio de 2013

Futilidades

1- Com certeza aqueles restos secos e amassados eram vestígios do pedaço sangrento de rato que ontem eu vi cheio de moscas no meio da rua. Ao recusar a ideia de que ele possa ter sido atropelado, é impossível pra mim evitar a imagem do morador de alguma das casas ali de perto, tê-lo esmagado no canto da parede da sala com uma vassoura, ou com o sapato. Alguns segundos depois, notei que o cheiro de carne podre do corpo pequeno do rato morto já estava irremediavelmente impregnado nos muros das residências todas.

2- Ela foi para a cozinha e comoçou a vomitar violentamente na pia. Eram sete da manhã e o sol contrastava absurdamente com as últimas cervejas.
Saímos e fomos para o bar, onde pedimos pastéis engordurados, coxinhas, enroladinhos de presunto e queijo, pão de queijo e café. Mais uma cerveja, para lavar o estômago, e os pedaços de coxinha podíamos encontrar escondidos debaixo dos incontáveis guardanapos usados depositados sobre toda a mesa. "Eu acabei de vomitar, então te aconselho a pegar outro copo", disse ela.

3- Eu não estava com pressa de que o busão chegasse em meio a todo aquele caos. Resolvi melhorar ainda mais as coisas atravessando a rua para comprar uma cerveja no mercado. O caixa era um gordão com cara de alienado. A expressão daquele gordão completamente entediado, completamente separado da vida estrondosa que ia desabando de felicidade e tragédia do lado de fora, me fez sentir pena da humanidade e alívio pela minha momentânea consciência ativada pela circulação frenética das ruas. Quando chegou minha vez de pagar, decidi dizer as palavras habituais, "boa tarde!", "tudo certo?", "muito obrigado, viu!", com todo o meu entusiasmo, apenas para chocá-lo com a felicidade de quem está tomando uma cerveja na rua no meio da tarde. As palavras bateram na cara dele e ele continuou na mesma, obviamente. Perdi o ônibus, justamente quando tava saindo do mercado. Liberdade é poder esperar pelo próximo ônibus enquanto se aprecia a destruição do mundo.

Um comentário:

  1. Essa frase: "Liberdade é poder esperar pelo próximo ônibus enquanto se aprecia a destruição do mundo." é simplesmente linda demais.

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