quarta-feira, 24 de março de 2010

(ainda) mais sobre sangue e perversão doentia

A menina pensava: "Mamãe poderia voltar. Se ela estivesse aqui as coisas ficariam bem. Ela costuraria meu vestido e acalmaria o papai. Papai..."

Enquanto o pai dormia no sofá, seu ronco expandindo um som desagradável e exalando uma aura de conhaque, vômito e perversões, a menina continuava refletindo as possibilidades de uma vida diferente. Em seu vestido, além de rasgos, crescia agora uma mancha de sangue, começava na gola e expandia-se. Não havia gritos, apenas lágrimas, obstinação e silêncio. Havia aprendido o manejo da linha e da agulha com a mãe, mas não pensava em consertar o vestido. Tentava costurar o que restava de sua inocência: a agulha e a linha uniam seus lábios, esperança de conter as investidas paternas.

Para sua tristeza, a menina sabia apenas uma parcela da podridão do mundo. "Papai vai me deixar em paz, não me obrigará mais a fazer o que não quero". O pai logo acordaria para ensinar para a filha mais um pouco sobre o pior dos mundos.

5 comentários:

  1. A vida é pesada. Diante de uma escrita sangrenta, a sensibilidade burguesa se escandaliza e classifica como mal-gosto o que lhe foge.O fato é que na maioria das vezes a perversidade da vida, o sangue e a morte, estão encobertos por palavras bonitas, atividades para passar o tempo e privilégios de classe, obviamente.

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  2. Até a sensibilidade proletária se escandalizaria com o Sangue e Perversão Doentia.

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