quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

aquela história

joãozinho e maria se foderam. tavam comendo demais as maçãs, única comida em casa, e os pais, que não eram exemplos de compaixão humana, levaram eles pra floresta sincera e deixaram eles perdidos lá. aquela história de levar miolo de pão pra ir marcando o caminho é mentira porque pão não tava sobrando e o último que passou pela casa já havia sido cagado há dois dias. joãozinho acordou com dor na cabeça. acordou e apalpou o galo que se formou no lugar que seu pai lhe bateu com um pedaço de pau pra ele cair desmaiado e não tentar segui-lo. maria prefiria não ter acordado. acordou estuprada. pelo seu pai? mas que coisa, hein joãozinho? vamos pra onde agora? joãozinho, que era mais novo, só choramingava de saudade de sabe-se lá o que. vocês estão melhor agora, aqui comigo. aquela velha não podia ser boa gente. na casa dela eles tinham que trabalhar. arar a terra e extrair sustento. ali a terra era diferente. o marido da velha, o velho, sabia mexer com a terra. os vegetais nasciam e brotavam da terra como um bebê que sai do útero em busca de ar. igual o da maria que nasceu ali mesmo, no meio das beterrabas, no meio de um dia de trabalho como outro qualquer. depois de uns 4 ou cinco anos ficaria claro que o bebê era fruto do escroto do velho malcaráter que achou que a menina estava morta. mas não deu tempo, não. a criança morreria depois de 10 dias porque tava com o vento virado. assim diziam os velhos para explicar a morte inexplicável. joãozinho, que era o mais novo, tinha que fazer o serviço pra velha. todo o serviço que o velho não fazia porque tava ocupado com a maria. aquela história de colocar o osso de galinha pra fora da jaula é mentira também. eles só tinham uma galinha velha que botava um ovo por mês, e esse dia era dia de festa. joãozinho colocava era o dedo mesmo pra fora do cobertor da sua cama de palha. mostrava o dedo do meio pra velha. velha bandida. joãozinho, que era mais novo, resolveu virar homem e pôr fim na agonia dele e da irmã. a foice na garganta da velha lhe despertou o remorso. não fora capaz de matar o velho bêbado de sono caído a nem um metro do outro lado da cama. maria que terminou o serviço. o adubo dos velhos, do bebê e do pai arrependido que voltara para buscá-los era bom. foi tão bom que eles puderam até encher uma carroça e ir trocar na vila. eram as melhores beterrabas. até o rei comia de boca cheia. os dois jovens fundaram uma dinastia incestuosa ali no meio da floresta sincera. seus descendentes chegaram a ser vilões e duques e piratas e banqueiros e arquitetos e astronautas e operários e pobres. a história dos dois foi reformulada pra sair nos livros. logo virou história de criança. criança que deve ter algum parentesco com joãozinho e maria ou adão e eva.

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