domingo, 8 de agosto de 2010

Sobre pardais, goteiras, sociedade do espetáculo e o fim do mundo

Os pés perdidos em passos pelo apartamento não inventaram os caminhos.

Andava impacientemente pela sala, fumava, passava a mão nos cabelos, esfregava os olhos, olhava meus escritos que estavam em cima da minha mesa de estudos. Além de papéis meu disco preferido de Bob Dylan. A panamérica de Zé Agrippino e a sociedade do espetáculo de Debord eram suporte pra minha xícara de café. O jornal do dia, espalhado sobre o sofá noticiava um ataque de pardais gigantes a uma igreja na Polônia. Andava impacientemente pela sala.
Meu corpo tremia e fui até o fogão esquentar mais água; enquanto fervia olhava pela janela. Sabia que lá fora, lá distante, uma cidade grande me agredia. Grandes prédios comerciais com escritórios de empresas multinacionais, viadutos cruzando o horizonte, publicidade de vinte metros. Isso me incomodava. As relações das pessoas entre elas mesmas e com a sociedade, com a mercadoria, com a cidade, com o mundo!, enfim, todas as relações estão fundadas nas imagens. Isso me incomodava. Ficava pensando em como fugir desse mundo, dessa vida, dessa realidade, desse tempo presente que tanto falseia. Não havia mais filosofia que me satisfizesse.

Caminhos não há.

O que a cidade me apresentava eu não queria. Nem as marcas e os produtos para a grande massa, nem o alternativo – que virou grande negócio. Nem tese, nem antítese.
Nem síntese.
A água evaporou e resolvi rever meus papéis. Neles estavam meus fichamentos e minhas idéias. Estavam todos escritos a lápis e muitos já estavam apagados. Percebi que o tempo esqueceu. Finis hominis.
Havia uma goteira dentro de casa. As gotas contavam o tempo e eu contava as gotas. Aos poucos começou a garoar dentro de casa. Eu já deitado, não deixei de pensar na coca-cola, nos programas de televisão e na copa do mundo. Os novos tempos consumiram minha existência.
Chovia dentro de casa.

[...]

Os meus mortos delírios juntaram-se a água que já batia quase na altura do teto.

2 comentários:

  1. Citando textos de amiguinhos! Aposto que o professor não pegou essa.

    Não sei se como texto apocaliptico e tal, porque não manjo, mas é bom o texto.

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  2. sim, de fato, bom. bom tb o suporte pra caneca.

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