domingo, 8 de agosto de 2010

turista

Vinte quilômetros. O sol corria comigo e conversava com o asfalto, nossos andares diferiam, um contava com rumos definidos, definitivos, percorrendo-os já sem necessidade de controvérsias, espalhando-se por onde quer que pudesse, o outro, pequeno, insignificante, gastava solas e mais solas perdurando por rumos indefinidos, definitivos, esperando encontrar algo que não mais procurava ou que não sabia se era encontrável.
Havia um vazio pleno maltratando o estômago, fazendo-me galopar, sorrir e gritar por uma rodovia qualquer enquanto deveria ter uma refeição. Impossível. Em algum momento do passado devo ter perdido o direito de alimentar-me mais de cinco vezes por semana, prefiro crer que o injusto sou eu, senão gostaria de explodir o mundo todo com a grande cambada de filhos da puta que arrotam seus privilégios na minha cara, bem sei, apesar de não os ver, bem sei... Mas sou injusto, sei disso, prefiro acreditar que há justiça e que eu, por algum desvio, não mereço o mundo dos justos. Preciso correr mais rápido para fixar essa ideia. Trinta quilômetros. Placa de divisa, fim da cidade x, início de y, lá vamos nós (nós? Ora, deixei até o Malhado, bom cão, para trás; mas tudo bem, melhor pensar no plural, afinal dificilmente outro alguém me dará trela, muito menos provável será a oportunidade para explicar minhas escolhas e como o Malhado era um bom cão; deve haver outro Malhado por aí, mundo cão).
Quarenta quilômetros. Constante perigo de automóveis. Temem até mesmo atropelar-me... Talvez os assaltarei quando vierem me socorrer (se vierem)? Talvez perderão tempo explicando para a polícia o que aconteceu (culpando-me)? Talvez simplesmente não se importem, mais um pobre andando por aí mesmo, comentam com os filhos, viu só, por isso que você deve obedecer aos seus pais, ser responsável, estudar e trabalhar. Retomo e corrijo, o perigo não é o automóvel, é quem os ocupa.
Quarenta e sete quilômetros. Mais uma cidade, que maravilha! E com viadutos não muito recentes, melhor acolhida para o turismo que pratico.

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