domingo, 17 de abril de 2011

rocks to the ground (crowd)

"vamos, ora porra!". cuspia no chão o cavaleiro retirado diretamente de algum filme de bang-bang dos anos 50. na mão esquerda tinha agarrada com força uma corda que prendia a boca de um saco de couro do qual pingavam gotas cada vez maiores um líquido mal cheiroso. da mão direita, saíam duas cordas, também presas com firmeza: a rédea do cavalo e a corda que tinha a outra ponta presa ao meu pescoço. comecei a caminhar seguindo o ritmo ainda lento do cavalo. em silêncio eu jogava olhares em direção ao horizonte, sempre com respeito. tudo o que eu lembrava naquele momento era dos carinhos que ela me fez enquanto eu estava jogado no chão da prisão, quase inconsciente. e o nó que coçava na nuca e apertava na garganta só me afastava cada vez mais dela. quando eu caí a primeira vez e meu rosto ralou na areia quente e pedregosa do chão eu pude sentir aquela mão novamente. desta vez ela segurava meu punho. minhas mão atadas não permitiram mais que um roçar de meu polegar em sua pele. nunca saberei se aquele carinho forçadamente velado recebeu uma aprovação dela porque não pude ver seu rosto. o sangue que descia pela minha fronte chegara ao meu olho. fui virado com o rosto em direção ao sol por mãos mais ásperas. o cavaleiro estava pingando em minhas feridas o líquido fétido que ele levava na bolsa de couro. as feridas se fecharam no tempo de eu me levantar com alguma dificuldade. voltamos a caminhar, eu e o cavalo. chegando a um ponto da estrada que tinha uma cruz cravada num monte pequeno de pedras, tive a oportunidade e aproveitei-a: estrangulei o cavaleiro com a corda que me prendia, montei o cavalo e fugi. a bolsa de couro me serviu de travesseiro mágico durante as noites. eu sonhava com foguetes e arpões, pirâmides e guerras. eu nunca quis acordar e foi-me dado o sono letárgico eterno. com meu corpo alimentei outros seres até ter consumido meu inconsciente e eu deixar de existir porque meus sonhos já não podiam se formar. levantei e fui viver novamente. afinal de contas: é para isso que estamos aqui.

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