quarta-feira, 13 de abril de 2011

Wo die grünen Ameisen träumen [Werner Herzog - 1984]

Assisti ao filme Aonde Sonham as Formigas Verdes e fiquei ligeiramente perturbado. O que quero dizer é que, tive várias idéias sobre o filme, e gostaria de expô-las. E é o que farei nesse post.
Tem duas questões principais que vejo no filme: o propósito da existência e alteridade. Elas surgem na medida em que o personagem Hackett se desenvolve ao longo do filme, porque ele está entre os dois mundos, o mundo dos aborígenes e o europeu, cristão, ocidental. No começo do filme, ele faz parte desse segundo, mas conforme a história se desenrola, motivado pela necessidade e pelo interesse de conhecer os aborígenes, ele começa uma transição na sua maneira de pensar e perceber a realidade, que culmina na impossibilidade dele continuar a aceitar o seu referencial cultural, mas também na impossibilidade dele aceitar a cultura aborígene. Ou seja, ele se perde.
Tem duas cenas que acho significante para pensar essa questão da compreensão do outro. Uma delas é a cena em que ele tenta negociar com o líder local para ter permissão de continuar as atividades mineradoras na região. Essa negociação falha, porque ele tenta oferecer coisas, que para nós ocidentais, fazem sentido, mas não para os moradores daquele local: como um museu a ser administrados pelos locais, dinheiro, porcentagem nos lucros,... Ou seja, Hackett negocia nos termos europeus, sem levar em consideração a cultura do outro, e não consegue compreender porque a recusa ocorre várias vezes de maneira tão incisiva. A outra cena é quando Hackett conversa com Miliritbi sobre o universo. A maneira como ele explica, para nós, próximos da cultura dele, até faz sentido e é aceitável a hipótese que ele levanta e os questionamentos que ele faz. Mas, para Miliritbi, um aborígene, são apenas questões tolas e sem sentido. Esse comentário adiciona uma nova perspectiva na fala de Hackett, que mostra sua natureza subjetiva e frágil. É uma tentativa de explicar a realidade, que no fundo, é uma busca de um propósito de existir. Mas esse propósito, talvez, é tão real ou tão artificial quanto o daquele povo perdido no meio da Austrália. Para eles, o propósito de existir é vinculado a realidade que eles conhecem e vivenciam, no caso as formigas verdes. Enquanto para Hackett, sua visão de mundo é vinculado a uma realidade ocidental: a física, a matemática, a geografia.
Bom, retorno então, a idéia de que Hackett está entre esses dois mundos e, na tentativa, de compreender o outro, ele se perde na sua própria maneira de compreender o mundo e no seu propósito de existir. Essa transição fica mais clara depois do julgamento dos aborígenes. O que é uma cena interessante, pois mostra o processo de dominação de uma cultura sobre a outra. Uma, que tenta julgar a outra através dos seus termos. E, é quando Hackett percebe isso, que ele se revolta. Não consegue mais aceitar e fazer parte do mundo alemão, europeu, ocidental, cristão, branco. Mas ele não consegue e não pode aceitar a cultura aborígene, logo, ele simplesmente fica sem referencial, o que nos leva a cena final do filme, que é ele simplesmente ignorando o seu mundo e andando por aquel deserto de formigueiros. Ele fica no meio do nada, nas trevas. E aqui é interessente repensarmos no começo do filme, quando surge a idéiadas trevas: a velha pedindo para o Hackett resgatar o cachorrinho dela que se perder no tunel. Esse cachorro é quase uma metafora a situação final de Hackett, ele entra numa escuridão da qual não tem mais saída.


Uma hipótese de estudo/análise que não levarei adiante e nem tenho embasamento teórico para refletir muito profundamente: tem uma cena no filme em que Hackett, Ferguron, Miliribt e Dayipu ficam presos no elevador quando estão subindo para o andar 19. Talvez, nessa cena, Herzog tenha a idéia de que ainda estamos presos no século XIX ou rumo ao século XIX nos assuntos de domínio cultural. E ai entra questões como colonialismo, neocolonialismo, racismo,...

6 comentários:

  1. Herzog aborda essas discussões em pelo mennos mais dois filmes, Aguirre e Fitzcarraldo.

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  2. podes consultar também "lua de cristal", de 1990.

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  3. Se não estou enganado, em "lua de cristal" o debate sobre a alteridade fica apenas sugerido. De qualquer forma esta obra pode ser referência para tratar do problema do autoritarismo e dos governos personalistas em geral.

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  4. Vou assistir Aguirre e Fitzcarraldo.

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  5. e lua de cristal, como fica, caetano?

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  6. Lua de Cristal é um clássico do cinema. Seria vergonhoso não ter assistido.....

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