terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Variação: Um sonho, Iron Maiden e uma visão do céu

Há sempre um lugar no espaço e no tempo para as coisas acontecerem. E, como diria um sábio mestre, sempre existe aquela necessidade de procurarmos aquele momento entrenhado nas correntes do espaço-tempo em que colocaremos o dedo e diremos: "Foi aqui que tudo começou". E tudo começou com uma chama no céu. Bela. Até sumir na eternidade.

Entrou no bar. Precisava beber algo, sua vida clamava por isso. Estava acabado. Sentou no balcão e pediu uma dose de Whisky. Sabia que era caro, mas não se importava com o preço, não naquela noite. O atendente lhe deu uma dose bem servida, copo cheio, embora a maior parte fosse gelo. Pegou o copo e sentiu o aroma. O cheiro de carvalho invadiu suas narinas e sua garganta pediu um gole. Sentiu o líquido vibrar pela garganta como uma paixão que nunca sentiu de qualquer mulher. Colocou o copo na mesa. O gelo derretia, revelando as várias misturas, num espetáculo dançante. Deu um suspiro. Outra vez levou o copo até a boca e parou, sentiu o aroma e outro gole, apreciando cada camada. Nisso o silêncio se dissipou.

Pesosas riam e bebiam no lugar. Conversavam sobre qualquer coisa, assim como qualquer coisa era motivo de risada. Mas ele permanecia ali. Até que sentaram do seu lado. Um conhecido, amigo de bebida nos antigos tempo. Mas fazia tempo que não o via. Começaram a conversar. Ficou sabendo que ele tinha começado a namorar o amor da vida dele e estava feliz por isso. Tinham sido vários anos de insistência. Anos em que namorou várias. Propôs um brinde a isso. Brindaram. E, outra vez, levou o Whisky a boca e degustou como se não houvesse amanhã. E talvez não haveria.

Quando sua dose acabou pediu outra. O atendente lhe olhou com um sorriso e dizia que lhe faria uma especial da casa. Não ligou. Estava seguindo a inércia da vida naquele momento. Pegou a dose, que possuia a mesma cor dourada. Cheirou. Dessa vez havia um cheiro adocicado no meio. Deu um gole e identificou o sabor de mel na bebida. Por que não reclamou antes? Preferia o gosto puro. Mesmo assim bebeu. E logo constatou que era melhor do que imaginava. Mas a terceira dose fez questão de enfatizar a palavra "Puro". O atendente não pareceu gostar muito. Mas não ligou. Queria o gosto da paixão na sua garganta. A paixão vibrante que somente um Whisky puro pode oferecer. Adocicar com mel era arruinar isso! Não era uma menininha! O que mais iriam querer dele? Um carro com câmbio automático?! Bah! Queria aquele momento só dele, como uma chama que brilha mais forte antes de se apagar. Um momento egoísta! Cada gole era dele e só ele podia aproveitar! Não era essa a beleza de beber um Whisky? Cada pessoa aproveita camadas diferentes! Cada gole é um novo sabor descoberto! E não é só o saber no paladar, não! Começa com a visão! A visão da bebida, o prazer daquela cor dourada, das várias misturas surgindo com o derreter do gelo. Em seguida vem o olfato, os aromas. O prazer! Em seguida o paladar, aquele gole com apreciação das várias camadas de sabor, e o gosto que fica na boca depois. Aquele gosto que te diz: "Mais um gole. Mais um gole." Essa explosão! Seu corpo tremia, explodindo em prazeres!

Colocou o copo na mesa. Se sentia pronto. Pagou a conta, se levantou e saiu do bar. Olhou para o céu escuro. Deu um suspiro. Colocou as mãos no bolso do casaco e começou a andar.

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http://www.youtube.com/watch?v=u5UqJWRV55E

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