quinta-feira, 30 de setembro de 2010

alcoolismo lúdico e razão etílica

Alcoolismo lúdico

O alcoolismo lúdico é uma prática consciente. É essencialmente uma ação no mundo, por isso uma prática: interação na maioria das vezes ativa com a realidade das coisas, dos homens, do inanimado, do artificial e do vivo, constantemente parte de algo que supera o isolamento. A possível passividade dessa prática, quando se atinge um estado de prostração momentânea, não lhe retira os méritos da ação, apenas abandona o sujeito ao bel prazer da ação de outrem. A consciência do alcoolismo lúdico é consequência da disposição de quem o pratica, que preza pela auto-observação de suas sinapses, constatando com rigor clínico apurado as alterações do Eu na medida em que fica alcoolizado. Lúdico, pois é um jogo consigo e com o mundo, uma práxis existencial realizada com gosto e esmero.

Razão etílica

Desenvolvida a partir do alcoolismo lúdico, a razão etílica fundamenta a ressubjetivação do ser e só é possível com a constância da existência enquanto jogo de embriaguez. Não a embriaguez do trabalho, da família e da fuga da morte. A embriaguez do pensamento turvo que se faz pleno, a utilização do vício de sociedades decadentes e prósperas para a elaboração, no plano individual, de alternativas, mesmo que fugazes, de repensar o estar-no-mundo. É limitada, pois dificilmente expandirá suas ideias para propostas de um mundo novo. Abraça o ridículo. Por fim, celebra com escárnio os movimentos dos seres no presente, suas projeções para o futuro e suas justificativas com o passado. Como último baluarte da sensatez, a razão etílica consuma a percepção da negatividade da existência no mundo atual, onde a vida só é divertida enquanto uma reiterada dissimulação de desastres.

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