segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O Imponderável

Joãozinho já não aguentava mais. Tudo o que fazia, fatalmente dava errado. "Puta que pariu!" dizia. Nem queria sorte, "porque isso enfraquece o homem!" dizia entre os risos desdenhosos dos amigos. Além do mais, esperar por sorte seria esperar demais. Queria apenas contar com alguma feliz coincidência, pelo menos de vez enquando... Mas justamente quando precisava contar com alguma feliz coincidência, invariavelmente fodia-se. Tudo conspirava contra.
Então, numa manhã inexplicavelmente inspirada achou a resposta: deveria viver, daquele momento em diante, de acordo com O PRINCÍPIO DA RAZÃO. Sim! Porque deste modo teria tudo calculado, tudo planejado e tudo ordenado. Deste modo não tinha erro, suas ações racionalmente organizadas converteriam suas boas intenções em sucesso!!
Então saiu de casa e quando virou a esquina sentiu algo caindo em sua cabeça. Depois de alguns segundos percebeu que o que o atingira era quente e molhado. Passou a mão para ver o que era. Não identificou na hora o que era, mas a cor era marron-amarelado-esverdeado. Estava de baixo de uma árvore, então olhou para cima e viu uma pomba rola sorrindo-se de seu feito terrorista. Cagara-lhe sobre a cabeça recém racionalmente ordenada. "Puta que pariu!"

4 comentários:

  1. leitura alternativa: o espírito santo (vulgo, pomba rola) arremessou pela cloaca a graça divina (substância "marron-amarelado-esverdeado") para contrapor sua força imprevisível ao princípio da razão.

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  2. ungido pela pomba, como Clóvis, o rei dos francos...ou algo assim..

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  3. uma referência com certa semelhança:
    http://www.tirodeletra.com.br/contos/Memnonouasensatezhumana.htm

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