domingo, 24 de outubro de 2010

Passou o primeiro. Passou o segundo. Passou o terceiro. Enquanto o quarto aproximava-se, pensou em deus, na virgem maria, na desilusão da trindade, no desuso da dialética. Lentamente, decidiu-se. O céu: azul, sem nuvens. O sol: pouco passava de meio-dia, córregos de suor pelo corpo. Com a oscilação de ímpeto que convém aos momentos rigorosamente planejados, tomou fôlego e preencheu a situação cotidiana vulgar com a sua presença: saltou, encarou o peso do ônibus : primeiro com a testa trincou o vidro, depois com o tórax causou um estrondo, último e mais contundente som de sua existência, finalmente, as pernas largaram o chão, deixando o corpo voar por alguns metros antes de comungar com o asfalto.
Uma fotografia: o motorista, entediado, esbugalha os olhos enquanto freia, sem sucesso; os passageiros saem do conforto de seus lugares, possivelmente para ganhar alguns hematomas e concussões; os pedestres, pasmos, não sabem como reagir; o corpo, estatelado, tinge o asfalto quente e escuro com um vermelho espesso.

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