segunda-feira, 18 de outubro de 2010

sexta

Acordei numa rede, levantei e rumei para dormir em uma cama. Pelo caminho, percebi várias coisas: a ponta do meu dedão do pé com sua unha incomodando-me, as veias de minha mão, os primeiros ônibus que já circulavam, a fome avisando que a qualquer momento eu seria tentado a tombar em qualquer canto, confortável ou não; esta conjunção de observações e circunstâncias fez-me concluir algo muito importante sobre minha existência em particular e de todos os canalhas em geral, só que, com desgosto e alívio, esqueci-me, tão logo sorri satisfeito, qual ideia genial foi esta em minha reflexão matinal.
Posto de gasolina: loja de conveniência: algum dinheiro amassado: comida. Em casa, no quarto, tirar as roupas, jogá-las numa cadeira, desabar na cama e, muito possivelmente, roncar até o teto rachar.
Subitamente, acordar, puta merda, sede. Água. Mais água, acabou a sede e acabou o sono. Ficar na cama apreciando os segundos que agora parecem demorar mais do que em outros momentos. Banho. Sair para rua e perceber que nela tudo está como esteve, ad nauseam, desde que conheço o lugar: a árvore no mesmo lugar, a calçada no mesmo lugar, o jardim no mesmo lugar, os gatos no mesmo lugar; a destoar, apenas eu com minha cara de bosta e um sorriso de canto de boca, levemente imbecil, ou, talvez, apenas abobado. Percebo um pássaro voando e, por reflexo despretensioso, estendo meu braço direito com a mão espalmada, o pássaro tromba com ela e, assustado, muda seu rumo, imaginei-me, embasbacado com a situação, fechando a mão, nunca mais abrindo-a e adotando o pássaro como meu oráculo para dias vulgares. Decidi não almoçar.
Ah, que bela tarde! Sala de aula, organismo reagindo de maneiras escusas, pessoa ou outra constatando minha cara de lesado. E o dia passou, muitas coisas ficaram não ditas, outras foram ditas sem propósito. No fim das contas o silêncio triunfou, este velho tagarela, repugnante e louvável, em uma noite chuvosa.

4 comentários:

  1. huuuuuuuummmmm prosa catita eh outra historia

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  2. cara, o importante é que no outro dia você voltou a beber... a ressaca um dia só vai ser prejudicial quando nos fizer parar de beber...

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  3. groselha e exercício requerido pela assistente social do AA.

    ressaca como desculpa para... groooo-se-lha...

    sem danos, só aproveitando possíveis piadas.

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