sábado, 30 de outubro de 2010

"Você não se encaixa nos nossos padrões empresariais, acredito que em sua área você será muito bem sucedido."

Com essas palavras, foi dispensado. Entendeu o porquê de falaram para ele aquilo para lhe dizer que não atendia o perfil esperado. Com uma linguagem dessas, é possível imaginar que se tratava de alguma super empresa capitalista, monopolista, imperialista globalizada. Mas não, se tratava apenas de uma pequena rede de escolas de inglês que se acredita detentora de um inovador método de “aprenda inglês em um ano” para que o “aluno”, ou consumidor, ou algo assim, conseguir atender aos apelos do Mercado (claro que sempre com letra maiúscula, pois é a entidade suprema que governa nossas vidas, devemos nos referir assim a Ele). Até tinha cortado o cabelo, feito a barba e vestido em roupas que não condiziam com o que era, já que ao alterar sua estética não sentia causando danos à sua ‘ética’.

Obviamente que ao sair do local, sentia uma grande satisfação consigo mesmo, claro que tinha tomado aquelas palavras como um elogio, ainda não tinha “se vendido ao sistema”. Ainda mantinha intacta sua ética, tudo aquilo que achava que acreditava ainda podia ser mantido na sua prática, não apenas em tudo o que lia e sentia. Mas ainda assim sentiu-se incomodado. O problema é que não sabia até quando poderia manter essa postura, algum dia a fome – traduzida para: qualquer problema com aqueles que pagam sua comida e mantém sua vida pequeno-burguesa - poderia chamá-lo a sorrir ao ouvir de um gerente comercial que a máquina não substitui o trabalhador, que você deve correr atrás, aderir a todas as tecnologias e ao Mercado para subir na vida. Teria em algum momento que responder o que querem ouvir. Reproduziria um dia todos os discursos necessários para enquadrar-se no perfil, quem sabe até começaria a acreditar neles. Como o exemplo daquele que aderiu ao discurso dos vencedores.

4 comentários: